Capítulo Vinte e Três

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Diogo Novais

Não nego, de primeira instância eu fiquei nervoso ao ver a Nicoly justamente naquele restaurante que eu nunca tinha ido. Não combinamos nada, nada foi dito no grupo que tínhamos no WhatsApp, todos só caíram de paraquedas ali e pronto. Fiquei com cara de tacho por falta de comunicação, por uma simples falta de comunicação.
Meu medo maior não foi a Nicoly ter aparecido ali, confesso. Pra mim ela era um zero à esquerda, eu não me importava realmente se ela frequentava os mesmo lugares que eu, até porque eu não fazia questão de interagir com ela. Não mais. Não depois do questionário que ela havia me feito sem sentido algum na sexta-feira, me colocando em uma posição de responsável indireto pelos sentimentos dela. Eu não tinha culpa das expectativas que ela tinha posto sobre mim. Ela precisava era de uma terapeuta, isso sim, não era normal aquele comportamento com uma pessoa que ela mal conhecia.
Meu maior medo, na verdade, era a Amanda conhecer ela, e ela conheceu. Foi inesperado. Não estava nos meus planos apresentar elas, jamais, mas aconteceu de forma espontânea. Apenas calhou dela surgir ali, na nossa frente.
A Amanda era como um pictograma de trânsito, ela aparentava um significado mas tinha outro completamente diferente do que parecia. Só estudando pra entender, e com ela não era nada diferente. Eu não sabia o que me esperava quando eu chegasse em casa. Pela reação dela quando a Nicoly se afastou, eu sabia que muito possivelmente ela não explodiria ali. Mas, pela reação inicial calma, eu sabia que ela poderia explodir. A Amanda era um quarto escuro, uma venda nos meus olhos e um livro na minha frente, eu não conseguia enxergar nada. Estava completamente perdido e confuso, torcendo internamente pra que elas não interagissem mais.
Indubitavelmente eu me sentia desejado quando a Amanda sentia ciúmes de mim, era engraçado de ver, confesso. Mas naquela ocasião, apesar de eu ter achado graça, eu me sentia em um campo aberto no Iêmen, podendo pisar em uma mina terrestre ou tomar um tiro de cinco-cinco-meia e morrer a qualquer momento.

— Com licença. — um garçom disse — Vamos fechar este salão para abrir o salão superior. — informou, deveríamos nos retirar.

Faltavam dez minutos pro lounge abrir.

— Ah, okay. — respondi simpático — Obrigado, a gente tá indo.

Ele assentiu, se retirando e me deixando sozinho com a Amanda, que já estava muito alterada. Ela bebeu a cada segundo que ela pôde, estava trocando as palavras e embolando a língua. Eu sabia que me daria trabalho.

— Ainda quer ir pro lounge, tem certeza? — perguntei, a vendo arrotar em um soluço.

— Eu... — fechou os olhos — Quero ir pra casa. — decidiu, rindo.

— Então vamos, o restaurante tá fechando. — me levantei, ficando ao seu lado — Tá conseguindo andar?

— Vamos descobrir! — disse rindo, levantando e se equilibrando com toda sua força de vontade — Acho que vou conseguir. — deu o primeiro passo, segurando meu braço — Eu vou conseguir! — comemorou.

— Então vamos. — continuei a servindo de apoio.

— Ai, calma. — disse parando de andar, tirando o salto pequeno que estava — Meu pé tá doendo.

— Deixa que eu levo. — peguei da sua mão.

— Obrigada, você é um anjo. — beijou minha bochecha — Amor, olha seus amigos ali. — apontou pra eles, que olharam pra ela.

Eu ia sair pelo outro lado pra não ter que falar com mais ninguém, não queria que a Amanda interagisse com meus colegas, eu não confiava no que saía da boca deles ainda mais sabendo que eles sabiam da Nicoly ter ido na minha porta. Mas, quando percebi, todos acenavam pra Amanda, sorrindo e rindo, falando algo entre eles, menos a Nicoly, que olhava pra toda a situação e mexia no celular, não se importando e parecendo entediada com tudo o que acontecia à sua volta.

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