Eu joguei o carro pra esquerda e Peggy se encolheu no meu peito. O carro de trás avançou com tudo pelo sinal, acelerando na pista.
Depois que o automóvel sumiu, me toquei o que tinha acabado de acontecer.
-Peggy?- A chacoalhei mas ela parecia congelada. -Peggy??- Dessa vez um movimento de cabeça. Ela estava sã. Ainda em cima de mim, levantou o rosto e foi perceptível as lágrimas que já tinham rolado sem meu conhecimento. Suas bochechas estavam rosadas, e se a conheço como conheço, sabia que tinha um nó na garganta.
Não pensei no que dizer, então fiquei quieto, e ela apenas me abraçou, suavemente. Agarrou meu pescoço com os dois braços e se entrelaçou nele, como um bicho preguiça. Escondeu sua cabeça entre meios. Meu foco foi para o retrovisor, onde além de ver a rua deserta, consegui enxergar a cena onde Brooklyn me abraçava, inconsolável.
-É o Kirk, não é?
Depois de alguns segundos, senti sua cabeça balançar em afirmação. Parecia um bebê chorão e sentimental, do qual Peggy só mostrara depois de algumas doses.
-Precisamos ir.- Eu odiava isso, ter que falar isso. Eu só a queria segurar mais um pouco. Ela se movimentou rápido de volta ao banco do passageiro, parecia envergonhada, e foi aí que acabei me arrependendo ainda mais.
-Vamos?- Ela perguntou mais como um pedido. Coloquei as mãos no volante e ia engatando marcha, até que aquilo tudo me bateu de volta com força demais.
-Não vamos falar sobre isso?- Disse e encarei Peggy, ela pareceu sair de órbita.
-Sobre o que?- Estava na defensiva.
-Sobre o que fizemos.- Brooklyn ficou em silêncio. Eu sabia que precisávamos falar sobre isso.
-O que fizemos?- Aquilo foi demais, estava fingindo na minha cara.
-Tem razão, precisamos conversar sobre o que você fez.- Vi seus grandes olhos verdes se arregalarem agora, tomados por uma cor mais escura. Continuei. -Foi você quem subiu em cima de mim e quem me beijou primeiro, você quis isso.- Eu estava praticamente cuspindo os fatos em Peggy.
-E você não quis em momento nenhum?
-É óbvio que eu quis Peggy! Deus...- Segurei o volante com as duas mãos, forte demais. Enterrei minha cabeça e comecei a não pensar, apenas respirar. Algumas eternidades se passaram, e eu levantei de volta, ainda sem olhar Peggy. -Me desculpa.
Senti seus olhos em mim, e a vi desmontar, emocionalmente, mas nada físico, era apenas sua alma através dos olhos. Quebrei o contato, e finalmente dei marcha.
-Vamos voltar pro hotel. Com sorte a gente tem duas ou três horas de sono.
... Kirk Hammett
Os nervos da minha cabeça estavam explodindo. Peggy me deixou em pedaços, e como se não fosse suficiente, com certeza vai vir reclamação de cima por conta do show particular que eu e ela demos no próprio show.
Já eram 05:00. Pensei em talvez dormir as horas que me restavam, mas minha cabeça não parava quieta. Onde estava Peggy? Será que já voltou pro quarto? Quando soube do seu sumiço, uma culpa tomou minha cabeça. O que eu fiz? Perdi ela de vez.
Não. Não podia se quer pensar na possibilidade de perde-la de novo, mesmo já tendo acontecido.
Era uma raiva tão grande de mim mesmo, fico me perguntando como pude ser tão estúpido, e na verdade já sei a resposta. "Kirk você fez por ela" era grande em minha mente, mas o "Eu quero terminar" se sobressai por cima.
Não sei o que fazer. Acho que não vou fazer nada. Se eu correr atrás na minha decisão eu acabo com o sonho dela, e mancho o nome do Metallica.
Perdido em meio a tudo isso, ouço o elevador se abrir, o que é no mínimo curioso, são 05:00 da manhã. Seria Peggy?
Não posso conferir, isso vai ser péssimo. Olhar para seu rosto... Não, é cedo demais.
Ouço passos, e instantaneamente começo a descompassar. Não é uma pessoa só, o que me alivia um pouco mais, ao mesmo tempo que me deixa curioso.
Mas um curioso ruim. Poderia não ser Peggy, o que de certa forma me tira uma decisão das costas. Ao mesmo tempo que poderia ser Peggy, mas com outra pessoa.
Talvez alguém que ela conheceu, um cara.
Não. Tenho que parar com isso de pensar demais.
... James Hetfield
Peggy não conseguia andar muito bem. Estava cambaleando.
-Tudo bem?- Eu sussurrei ainda no corredor.
-Não. Vamos mais rápido.
Nisso, consegui enxergar sua careta piorando, parecia que ia vomitar, e ia mesmo. Percebi também que ia direto pra sua porta, e como a minha estava mais perto, nos direcionei a ela. Coloquei as mãos nos bolsos e tirei o cartão, abrindo passagem.
Peggy se desvencilhou de mim e correu pro banheiro. Antes de escutar sua garganta expelir tudo que ela bebeu naquela noite, tranquei a fechadura.
Corri e me ajoelhei no chão, atrás dela. Segurei seu cabelo com uma das mãos, em um rabo de cavalo. A outra eu apoiei em suas costas, alisando a pele.
... Lars Ulrich
Puta que pariu.
Estiquei a mão em direção a cabeceira, cessando o barulho estridente do despertador. 6 e pouco da manhã.
Levantei lentamente, esticando os braços. Inspirei fundo e relaxei com as pernas pra fora do colchão. Minha consciência ainda estava acordando, mas quando acordou surgiu uma dúvida: Onde está o barulho?
Tudo estava muito quieto.
Geralmente esse é o horário que todos estão saindo, com as malas e tudo mais. Sons de rodas das bagagens, Kirk chamando o serviço de quarto, Peggy batendo na minha porta até eu finalmente acordar, depois juntos batemos na porta de James, 3 vezes antes de entrar e derrubar ele da cama.
Fiquei de pé. Instantaneamente acordei pra valer.
Abri a porta e sai pro corredor do jeito que estava. Fui até o quarto de Peggy confrontar o por que de não ter sido acordado. Bati inúmeras vezes na porta, depois de um tempo forcei a maçaneta, e ai percebi que estava destrancada. Não passei da porta. Peggy não estava na cama e nem no banheiro, mas que ótimo.
-Ou.
Dei um sobressalto, era James que me chamava da porta dele.
-Onde tá todo mundo?- Perguntei já em descrença, obviamente perdido.
-Vem cá.
Fui até ele, parecia ter acabado de acordar também.
Entre a fresta da porta, pude ver um par de pernas no colchão. Entrei em alerta quando percebi a quem pertenciam.
-Seu filho da...- Fui interrompido, James colocou a mão em minha boca, mas eu retirei rapidamente. -Eu já estou cansado de presenciar essa mesma cena!
-Olha...- James tentou começar mas eu não deixei.
-O caralho James! Você sabe que o Kirk é louco por ela e tá fazendo isso? Eles terminaram ontem, sacou? Ontem.- O loiro deitou a cabeça na quina da porta. -Você sabe o que ela é pra ele? O que somos pra ele? Somos tudo.
Fiquei quieto enquanto ele escondia o rosto entre as mãos. Eu estava falando alto demais no meio do corredor.
-Eu vou acordar ele e você vai lá e vai acordar ela. Já passamos tempo demais nessa cidade.
...
Em minha defesa, já tenho alguns capítulos prontos além desse, mas preciso organizar como vou posta-los, talvez eu termine essa fanfic esse mês (na escrita), na postagem estou decidindo o que fazer.
(estou com mais tempo por conta das férias)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Scandal - Kirk Hammett (Metallica)
FanfictionPeggy Brooklyn era uma criança muito sociável e extrovertida. Ia cortar o cabelo só porque gostava muito do cabeleireiro, pedia aos vizinhos para passear com os cachorros deles. Existe até uma piada interna da família sobre a vez em que Peggy tentou...