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Beatrice sentiu uma vontade absurda de correr ao ver Tristan Dugray cruzando o corredor, o qual não pensou duas vezes em andar na sua direção.

— Nós vamos lá fora. — Tristan falou sério, o que acabou assustando a garota.

— Por que eu deveria? — Perguntou.

Já estava ciente da resposta dessa pergunta, não era boba em pensar que o loiro deixaria passar ao ver Paris triste. Por mais sozinha que Beatrice se sentisse, sofria do mesmo problema de impulsividade ao tentar proteger alguém que considerava seu amigo.

— Porque precisamos conversar. — A garota abriu a boca para responder, mas o loiro foi mais rápido: — Uma conversa de verdade, Beatrice. Sem implicâncias.

— Nós já estamos fazendo isso. — Respondeu.

Dugray bufou em pura impaciência, segurando a mão da morena e a puxando para fora. Era difícil observar seu rosto e não saber o que sentir. Beatrice não sabia se estava com medo do seu rosto sério ou se estava incrivelmente brava pelo fato de Tristan arrastá-la pelo colégio ao invés de apenas perguntar se poderia o seguir. Apesar de contato físico ser algo novo para a baixinha — principalmente quando tratava-se de um garoto —, não negaria se o mesmo a perguntasse educadamente.

— Ei! — O chamou irritada.

Tristan só a soltou quando estavam na frente de um banco, do lado de fora do colégio, o qual o loiro apontou para Otinger sentar-se. Dugray ficou apoiado em um dos pilares, observando de braços cruzados Beatrice tombar a cabeça para trás e se sentar de uma vez no banco.

— O que aconteceu entre você e Paris ontem?

— Olha, eu não acho que isso seja da sua conta.

— Beatrice, não dificulte as coisas. — Tristan mantinha a expressão séria em seu rosto, enquanto Bea mordia o interior de sua bochecha nervosamente. — Você mesma disse que eu precisava ajudar minha amiga. Eu já sei boa parte da história, mas prefiro ouvir das duas.

— Olha, não foi minha intenção. Eu juro que não queria machucar Paris e só deveria ter ficado quieta. Já me meti nessa história tantas vezes e não acho certo, mas foi sem querer dessa vez. — A garota confessou rápido, olhando para o chão.

— O quê? — Ela observou o rosto do Dugray, que se encontrava extremamente confuso. — Beatrice, preciso que me conte o que você disse.

— Ah bem, eu pedi desculpa por ficar perseguindo ela e tentando arrancar informações, nós duas conversamos, mas não foi quase nada. Aí então ela disse "Eu me sinto mais confortável aqui que..." e eu completei "na própria casa". Eu sei, eu deveria ter ficado calada, mas foi automático, eu estou ciente da cabeça de vento que eu sou, a culpa já caiu há um bom tempo. Olha, eu estou querendo pedir desculpas para Paris agora e eu não...

A garota parou de falar assim que percebeu que parecia uma boba. Suas bochechas coravam de vergonha ao ver Tristan a olhar com uma cara preocupada. O garoto sentou ao seu lado, suspirando e observando o céu cinzento, com as nuvens carregadas que cercavam os dois.

— Nenhuma de vocês fez nada de errado.

— Bem, eu já sei que Paris não fez nada, mas eu já pedi desculpa por isso e fui lá e fiz de novo.

— Não tem nada de errado. Quer dizer, você é bem protetora com as pessoas, o que ficou bem visível quando você saiu atrás das duas ontem.

— Eu só queria ajudar. — A garota soltou um suspiro.

— E então por um desvio está se culpando? — Beatrice abaixou a cabeça com vergonha. Tristan apenas negou, soltando um riso nasalado em descrença. — Fico feliz que não estão odiando uma a outra, mas não é para odiar a si mesmas.

— Tudo bem...

Um silêncio cortou todo o clima pesado do local, enquanto Beatrice refletia se realmente não havia nada de errado. Bem, outra coisa que não saberia explicar, nunca ficou de mal com um amigo antes, ou seja lá o que Paris era sua.

— Bea — O garoto a chamou. —, Max pareceu bem horrorizado ontem. E eu "desmenti" todo aquele negócio de estarmos saindo para o time.

— Por que as aspas? — Suas sobrancelhas se franziram.

— Porque você é a única que eu estou querendo sair. Basicamente eu saio com você, mas você que não sai comigo. — Deu de ombros. — Só avise se algum deles aparecer para te incomodar.

— E por que fariam isso?

— A pergunta certa seria: por que alguém não faria isso? Dentro dos treinos já existia alguns comentários como: "Imagine aquela Otinger nos uniformes de líder de torcida. Só não fique com ciúmes, Dugray."

— Mas eu sou a garota invisível! Aquela que todo mundo ignorou por anos, que ninguém sequer fazia uma pergunta.

— Você já deixou de ser invisível faz muito tempo, não sei como não percebeu.

— Eu sou a pessoa que sempre está sozinha por aí! — Argumentou.

— Você não está sozinha, Beatrice, você se sente sozinha. Está cercada de pessoas há anos e até agora não percebeu, porque criou essa muralha impenetrável em volta de si.

— Eu não tenho nenhuma muralha. — A garota achou graça.

— Deve ser algo automático, não faço ideia. Há anos eu tento passar por essa muralha. — O rosto da morena tomava um tom avermelhado novamente. — Olha, eu só não quero que nenhum deles venha atrás de você, são uns idiotas.

— Você está com ciúmes? — Um sorriso brincou nos lábios de Beatrice pela primeira vez. A primeira vez que Beatrice Mary Otinger sorriu para Tristan Dugray.

— Você nunca me trocaria por aqueles idiotas. — O garoto sorriu, prestando atenção em cada mínimo detalhe. O cabelo preto em total contraste com a pele extremamente branca, as bochechas em um tom avermelhado, os olhos incrivelmente lindos e o sorriso, tão intenso, quase que malicioso. — Mas eu não culpo eles, porque meu Deus, Beatrice! Você é muito linda!

Novamente um elogio. Beatrice poderia os colecionar, mas somente agora aqueles elogios surtiam efeito em si. Não saberia dizer como, ou quando começou, mas mais uma vez Tristan Dugray estava conseguindo abalar sua pose.

— Você deve ser, então, o maior dos idiotas.






"Look at her face, it's a wondeful face
And it means something special to me
Look at the way that she smile when she sees me
How lucky can one fellow be"
SHE'S MY KIND OF GIRL - ABBA

𝐇𝐎𝐒𝐓𝐀𝐆𝐄, ᴛʀɪꜱᴛᴀɴ ᴅᴜɢʀᴀʏOnde histórias criam vida. Descubra agora