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Juntou o décimo oitavo papel amassado que arremessaram no chão. Beatrice sabia desde o início que não seria fácil lidar com as duas garotas, mas não imaginava que a discussão não cessaria nem por um segundo.

— Inimigas do meio ambiente. — A de cabelos pretos resmungou, desamassando o papel e encontrando anotações riscadas no mesmo.

— Claro! Paris não acerta a escrita. 

— A culpa não é minha se você muda o parágrafo toda hora.

— Vamos fazer assim: Vocês podem usar o papel para fazer o rascunho e não precisam ficar nesse desperdício o tempo inteiro.

— Beatrice, não é tão simples assim. — Geller cruza os braços.

— Como assim "não é tão simples"? Eu só estou pedindo para que parem de gastar o material, mas eu não ligo se vocês vão virar amiguinhas ou não.

— Então por que você está aqui? — Rory se intrometeu, virando para a amiga pela primeira vez.

— Ah, bem... Vocês sabem... — A garota pareceu meio confusa, sentando-se em uma das mesas da sala. — Pelo menos não pegaram detenção ou algo do tipo. Só precisam fazer o trabalho e para que isso aconteça não é preciso da amizade de nenhuma de vocês, é só se suportarem por uma hora ou duas.

— Do jeito que você suporta Tristan Dugray? — Rory a perguntou sorrindo sarcasticamente.

Beatrice abriu e fechou a boca diversas vezes, impressionada e indignada com a audácia da amiga. Paris olhou para a Gilmore, desviando o olhar para a de cabelos pretos logo em seguida.

— Exatamente! — A loira exclamou, fazendo o queixo da Otinger cair. — Se você tivesse que fazer um trabalho com o Tristan, você mesma sabe que não suportaria, e que seria muito pior do que nós duas.

— Se é assim que vai ser, eu posso voltar na sala do diretor e falar que a briga dentro dessa sala é incontrolável.

— Não! — Rory gritou eufórica. — Bea, a gente estava apenas brincando.

— Então não citem esse nome e façam o trabalho de vocês antes que eu mude de ideia.

Paris levantou as sobrancelhas parecendo segurar a risada, enquanto a Gilmore se apoiou nas próprias mãos voltando-se para a loira.

— Alguém acordou do avesso hoje. — Foi o que a morena falou.

— Pois é... Brigou até com o diretor.

As duas começaram a conversar a respeito, agindo como se a Otinger não estivesse bem ao lado das garotas. Se perguntou quantos itens havia em sua lista de bizarrices.

1) Começou a se preocupar com Paris Geller, 2) Ficou envergonhada com algo que Tristan Dugray disse, 3) Descobriu que a família Geller, Dugray e Otinger tinham contato, 4) Foi para a detenção, 5) Brigou com o diretor, 6) Viu Paris e Rory conversarem de forma civilizada e 7) Fez amigos.

A de cabelos pretos mordeu o interior de sua bochecha, confusa o suficiente para deixar de prestar atenção nos fatos presentes. Seus olhos voaram para a porta da sala, ao mesmo tempo que observava o corredor vazio, seus olhos não focavam no mesmo. Estava, novamente, pensando demais.

— Bea, eu vou indo. — Rory avisou a amiga. — Não posso perder o ônibus. Nós continuamos amanhã.

— Ah, claro. — A morena abraçou a amiga que se aproximou. — Até amanhã!

A Gilmore saiu da sala, deixando um silêncio desconfortável entre as duas que restaram. Paris guardou os seus materiais, encarando Beatrice mais uma vez antes de virar-se para a porta.

— Paris... — Otinger chamou timidamente. — Desculpa se acabei me intrometendo demais na sua vida. Quer dizer, com toda essa atenção que eu venho recebendo nos últimos dias, posso falar que é uma sensação horrível. Espero não ter dado palco a esse sentimento para você.

A loira observou a garota, que encontrava-se de cabeça baixa, em choque. Geller se aproximou da morena em passos lentos e as sobrancelhas erguidas.

— Onde está a Beatrice Mary Otinger original? — A mesma brincou. — Tudo bem. — Deu de ombros.

— Espero que sim.

Paris abriu um pequeno sorriso, se sentando ao lado de Bea, que abriu um espaço na mesa. O silêncio recaiu sobre o lugar. As duas pareciam com medo de falar algo desnecessário, até a Geller respirar fundo.

— Não era para a gente estar se odiando ou algo do tipo?

— Confesso que somos boas nisso — Beatrice sorriu, olhando para a garota. —, porém, andei ficando preocupada demais para sentir ódio de você.

—— É só que eu estou tendo alguns problemas e tal, mas nada que você precise se preocupar.

— Sem ofensas, mas ver você quieta é assustador. — A garota riu do comentário.

— Assustadora é essa conversa. Quero dizer, eu estou aqui ao lado da pessoa que eu mal olho nos olhos e é uma situação muito mais confortável que a minha...

Paris se calou ao ver Beatrice arregalar os olhos. A loira colocou as mochilas nas costas nervosa, enquanto a morena demonstrou toda aquela preocupação novamente.

— Que a sua casa. — Deduziu, recebendo apenas os olhos lacrimejados da garota como resposta.

Paris saiu da sala apressadamente, sem ao menos dirigir uma palavra para Otinger, que respirou fundo olhando para cima. Não dava a mínima para não ser problema dela, alguém estava mal psicologicamente e sua urgência em ajudar Paris Geller era gigantesca.

Já havia suspeitas sobre isso, mas nunca imaginou que doeria tanto ver a garota tão mal quanto estava. A culpa surgiu em sua mente, se sentindo péssima em espantar a loira daquele jeito. Sentiu medo em estar se intrometendo de novo, e a necessidade de se desculpar se fez presente.

Diversas dúvidas surgiram na cabeça de Beatrice. O que faria sobre o assunto? Como resolveria? O que estava acontecendo dentro da casa dos Geller? E até onde sua necessidade de agir impulsivamente a levaria?

A garota saiu da sala, pegando todo o seu material e se concentrando em andar até a porta do colégio. O peso dos grandes livros que carregava em sua mochila não era nada comparado ao peso na sua consciência. Por mais que não houvesse culpa em uma situação como essa, a de cabelos pretos desejava apenas se fingir de desentendida quando a conversa sobre sua casa foi citada.

Tristan Dugray a encarava do outro lado do estacionamento, enquanto Paris entrava em seu carro. A morena respirou fundo, desviando o olhar e abaixando a cabeça. Foi tudo tão rápido...






"It will take a while to make you smile
Somewhere in these eyes, I'm on your side"
SPACE SONG - BEACH HOUSE

𝐇𝐎𝐒𝐓𝐀𝐆𝐄, ᴛʀɪꜱᴛᴀɴ ᴅᴜɢʀᴀʏOnde histórias criam vida. Descubra agora