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— Nós estávamos no corredor e então ele me viu. Eu meio que saí correndo. Quero dizer, andei rápido o suficiente e me escondi na multidão. Enquanto ele procurava no lugar que eu estava e, suponho eu, em corredores vazios; eu estava no meio das pessoas lutando para chegar aqui.

— Então você fugiu? — Michael perguntou.

— Eu não considero isso uma fuga.

— Mas fugiu.

— Não.

— Beatrice... você vai para o clube de xadrez hoje?

— Bem, não.

— Porque está fugindo.

— Eu não estou fugindo.

Beatrice bufou. Os dois adolescentes estavam sentados no chão de uma sessão quase que abandonada na biblioteca. Enquanto Bea "não fugia", havia encontrado o moreno por ali. A garota tinha as costas apoiadas na estante atrás de si, cheio de livros velhos e aparentemente "descartáveis". Pelo visto, Michael era a única pessoa que visitava o local. O garoto tinha a atenção voltada para um caderno de desenho enquanto ouvia a morena falar.

— Tudo bem. Então, por que você decidiu apenas não ficar no mesmo ambiente que Tristan?

— Ah, bem. Acho que estou com vergonha. — Cruzou os braços. Olhou para os pesados e manchados livros de astronomia. — Você vem sempre aqui? — Perguntou ao ver a luz vinda da janela.

— Só nas segundas. E por que você está com vergonha do nada?

— Eu só não sei como olhar no rosto dele depois do...

A garota se calou, olhando pela janela as pessoas conversando durante o intervalo. Michael levantou o rosto para olhar para a Otinger. A baixinha sentada com as pernas esticadas e cruzadas, a mochila em cima do colo enquanto os dedos da morena brincavam com as alças do objeto. Era cômico ver o quanto Tristan Dugray poderia acabar com os planos de uma pessoa solitária.

— Irônico o fato dele querer uma garota tão tímida. — Roberts riu.

Beatrice cobriu o rosto com as mãos. Ainda precisava devolver a jaqueta do loiro, a qual havia lavado e já não cheirava mais ao garoto. Estava sendo boba ao o evitar, principalmente quando disse que não fugiria. Por Deus! Havia o beijado e agora estava escondida na biblioteca com o seu melhor amigo.

— Eu não preciso surtar, né? — A garota perguntou a si mesma. — Afinal, já fazem dois dias.

— Dois dias do quê?

Sentiu as bochechas esquentarem ao lembrar do momento. Tirou as mãos do rosto e levantou a cabeça. Michael ainda a olhava, as sobrancelhas franzidas e o uniforme terrivelmente amassado. Beatrice teve que respirar fundo, colocando a mochila de lado e tomando um gole de água.

— Nós nos beijamos. — Falou, fechando os olhos no mesmo instante que terminou a frase.

— Dois dias atrás? No baile? Vocês não foram com pares diferentes? — O garoto levantou uma das sobrancelhas. — Bem que eu disse que vocês eram um casal problema.

— Michael! — Bufou. — Foi depois do baile.

— Então ficaram sozinhos depois do baile?

— Não! Quero dizer, sim, já que eu fui a última a ser deixada em casa. Mas a gente passou o caminho inteiro ouvindo música e aconteceu quando ele me deixou em casa, na escada da varanda para ser mais exata.

Beatrice viu o momento que o moreno tombou a cabeça para o lado. O jeito que a Otinger falava demonstrava que não explicava apenas para o Roberts, mas explicava para si mesma. A de cabelos pretos não parecia digerir que o beijo havia acontecido. Não poderia a culpar, afinal, sabia que a mesma era acostumada a ficar sozinha até alguns meses atrás.

𝐇𝐎𝐒𝐓𝐀𝐆𝐄, ᴛʀɪꜱᴛᴀɴ ᴅᴜɢʀᴀʏOnde histórias criam vida. Descubra agora