VIII

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Harry desperta com o cheiro de café e torradas. Ele sente o estômago resmungando e se dobrando sobre si mesmo. O cheiro é tão bom que ele ignora completamente as dores das costas. Maldito sofá. Ele levanta, permitindo-se uma boa espreguiçada antes de uma coçada na nuca. E o instinto é tão mais forte do que ele que, quando ele percebe, as pernas já o estão levando direto para a parte pequena da cozinha, acabando por fazê-lo encontrar um moreno de costas para si.

- Droga. – Harold resmunga ao se lembrar da noite anterior. E também porque o outro está cheirando a sabonete e ele à chuva.

-Harry. – Zayn o observa com uma caneca nas mãos. O vapor atinge o rosto dele e os lábios sorvem o líquido fervente com prazer. – Bom dia.

- Isso é torrada? – Harry aponta para um prato coberto de papel toalha com o nariz.

- Não sei. – Zayn se aproxima e retira o papel, encontrando duas torradas queimadas no prato. – Acho que sim. – Ele tomba a cabeça de um lado para o outro.

- Você vai comer isso? – Ele não está nem aí para a educação. A fome é mais forte do que ele.

- Não. – O moreno volta a sorver o café com a mesma calma de segundos atrás.

Zayn nem precisou oferecer as duas torradas para o mais novo. Harold devora a primeira como se a vida dependesse daquilo. Os caramelos analisam o outro, o nariz querendo arriar em desgosto, mas a expressão se mantém indecifrável. E Harry deixa a torrada queimada assolar sua fome, ele estica a mão para a outra fatia de pão ainda mastigando e produzindo farelos sobre si mesmo. Uma esfregada nos lábios antes de ele morder praticamente a metade da outra.

Zayn segura a caneca à frente de seu quadril, os olhos fixados na direção da janela, a mente perdida em horizontes distintos. E, em meio aos roídos e farelos, Harry joga o olhar para observar o outro. A bochecha inchada lhe chama a atenção, mas o que o faz manter o foco é o olhar longínquo do outro e os lábios aveludados, levemente entreabertos. Ele engole a torrada seca com esforço, então a mão abre a torneira e serve de concha para ele ingerir bons goles de água.

Harold seca a boca com a barra da camiseta, o estômago ainda resmungando por mais comida. E aqueles lábios entreabertos continuam lhe chamando a atenção. Continuam a lhe enviar ondas de lembranças. Continuam a fazê-lo liberar os fragmentos de um tempo perdido...

Ele não sabia o que estava fazendo naquela festa. Ele nem sequer tinha sido convidado. Harry tropeçou nos próprios pés tentando se equilibrar na parede do corredor daquela casa estranha. Em sua caminhada ele viu garotos se beijando, garotas com as mãos em baixo das saias e cinco pessoas dentro de um quarto. Mãos até tentaram puxá-lo, mas ele deu o ombro e continuou até conseguir chegar a uma sacada.

O ar gelado atingiu sua pele e fez os pelos do braço eriçarem. E ele continuou até sentar num banco de madeira. Os braços caíram na parte de trás do encosto. Era noite, ele sabia, mas tudo estava colorido. O álcool borbulhava em seus ouvidos e seus olhos só conseguiam captar movimentos em câmera lenta. A cabeça pesava bastante também, sempre tombando de um lado dos ombros.

- E aí... – Uma voz longa e preguiçosa o fez abrir os olhos. E tudo que ele conseguiu ver foi uma nuvem de fumaça, até que essa se dispersou pela noite e revelou uma das pessoas mais bonitas que ele já vira. Os cabelos negros se emaranhavam em um penteado descolado, as sobrancelhas retas o faziam parecer inocente, mas os olhos escuros eram tão sensuais. – Cansou da festa? – E o que era a voz dele? Caralho, ele já estava sentindo a calça incomodar.

- Algo assim. – Harry respondeu com o queixo, fazendo o moreno sensual dar uma risada.

- Você é bonito. – O estranho deslizou a mão gelada pela linha da mandíbula do rosto de Harry, que manteve a posição das sobrancelhas altas o suficiente para criar rugas na testa.

Ugly Boy | Larry StylinsonOnde histórias criam vida. Descubra agora