XVI

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A viagem de trem foi estranha, para dizer o mínimo. Louis deixou que Harry ficasse com a janela e, assim, ele ficou com o corredor vazio (claro, quem vai para praia no meio do inverno?) e sem nada de interessante para fazer. Os azuis procuraram pelos verdes durante vários momentos, mas Harold dormiu durante todo o percurso. Então ele fez a única coisa que tinha para fazer: observar Harry. Sim, é isso mesmo, por uma hora e meia. Noventa minutos de observação intensa e cheia de esclarecimentos inúteis.

Louis captou as narinas dilatando, os cílios compridos criando estranhas formas contra a pele pálida e as diferentes pintas que ele nunca tinha notado. E ainda teve que se segurar para não tirar um cacho que ficou caindo contra a maçã do rosto de Harry, mas a perspectiva de se sentir envergonhado o manteve no lugar. De um jeito estranho ele teve de admitir que o outro detém uma beleza diferente, algo que ele nunca notou com avidez. Não é como olhar para Zayn, que tem uma beleza transcendental e que é traduzida imediatamente. Não, é como ter miopia e colocar óculos pela primeira vez. Ou afastar diversos véus até que, finalmente, você consegue encontrar. Boom! Harold é normal, mas, então, você aperta os olhos e força e, de repente, ele é bonito.

Quando os azuis captaram, por acaso, a placa da B1014 Canvey Road, do lado de fora toda a introspecção terminou. Finalmente ele estava livre. E agora é só esperar mais alguns minutos para se livrar dessa lata de sardinhas. Não porque o trem é apertado, mas sim, pois a presença de Harold o aperta. É o cheiro que ele tem de suor e desodorante, o leve ronronar que ele produz enquanto dorme e...

"Atenção, senhores passageiros, próxima parada: Leigh Beck (W-Bound). Preparar para o desembarque." – O maquinista avisa através do circuito interno.

Louis, em seu momento de alegria extrema e ansiedade, sem pensar, agarra o ombro do outro e sacode sem sutilezas.

- Harold! – Ele sorri ao empurrar mais algumas vezes, não percebendo que a têmpora do mais novo bate contra o vídeo. – Chegamos! Temos que descer, vamos!

Harry abre os olhos e lança dois torpedos mentais destrutivos para aquele ser fora de si que o inferniza. Quando os verdes identificam quem é as pálpebras afinam o campo de visão e, após uma longa aspirada de oxigênio, ele se permite enviar as emoções maléficas e vis para o fundo da mente. Mas um dia ele ainda vai acabar... Mais uma respirada profunda.

- Já acordei. – Ele tenta soar simpático, mas quem ele quer enganar? A voz sai como um tiro: rápida, violenta e assustadora. – Pode parar de me sacudir, por favor?

- Ah! – Louis afasta a mão apressadamente, finalmente percebendo o que está fazendo. – Desculpa, acho que fiquei animado demais...

- É, estou percebendo. – Harry puxa a gola do casaco para cima depois de deslizar a mão contra a boca. Baba no rosto não é nada legal.

Eles levantam e pegam suas mochilas do compartimento acima dos acentos (na verdade, Harry pega as duas mochilas, mas Louis não precisa evidenciar certas coisas) e caminham para o corredor de acesso à saída assim que o trem para. Não tem muitas pessoas na fila e Louis só consegue emitir sorrisos amarelos em direção ao maior. Ainda assim é melhor do que se só fossem os dois, ele pensa consigo.

Na estação, ao contrário do que Louis imaginava, o movimento é maior e há mais pessoas. Muito mais pessoas, por sinal. Ele caminha com cautela, evitando esbarrar em alguém enquanto os olhos procuram as direções conformes as placas de localização indicam e uma folha de papel que seu pai lhe deu com instruções. Vez ou outra o rosto se volta para trás só para ter a certeza de que a jaqueta surrada ainda está ali. Então, como que um balde de água fria, todo o esforço de manter uma fachada para cima do mais novo se desmancha.

Ugly Boy | Larry StylinsonOnde histórias criam vida. Descubra agora