XXV

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- Ahm... – Louis morde o lábio inferior para tentar conter a ansiedade. Seus dedos se enroscam desajeitadamente na barra do casaco e a garganta nunca lhe pareceu tão seca. – Eu quero dizer... É... Co-Como vai? – Ele sorri, mas tem certeza que parece uma criança abrindo um par de meias de presente de aniversário. Tudo o que ele queria é poder se estapear, mas a tipoia o incomoda o suficiente para lembrá-lo de que um braço inútil é o suficiente por enquanto.

Harold levanta as sobrancelhas, talvez para tentar compreender as caretas que Louis está fazendo ou simplesmente por que não sabe muito bem como reagir à situação. Ele torce os lábios de um lado para o outro antes de soltar um suspiro e sorrir fracamente. As unhas coçam os fios de barba que pinicam o queixo antes de as pernas compridas relaxarem e o corpo encontrar o bando. Louis olha para o lado e desvia o rosto assim que percebe os verdes em cima de si. Ele prefere encarar as sacolas de compra em seus pés do que ter de encontrar aquele que é o mais próximo de seu Nêmesis.

- Isso é esquisito, não? – Harold pergunta enquanto observa o estacionamento praticamente vazio e a placa do Tesco.

- Esquisito? – Louis levanta o rosto, mas não tira os olhos da calçada.

- É. – Um sorriso estanca nos cantos da boca dele. – Eu, você, sacolas de compra.

As sobrancelhas de Louis se procuram, aproximando-se lentamente conforme sua mente tenta compreender o que o outro disse. Porém, sua cabeça se parece com uma máquina de lavar roupas. Cada pensamento, as desculpas e as lembranças e os compromissos e o tempo e a vergonha, surge em um montante confuso e que fica chacoalhando de um lado para o outro em um vortex contínuo. Como ele queria que sua cabeça estivesse como um liquidificador, pois, assim, tudo, em algum momento, viraria apenas uma coisa. Tudo se transformaria em um substrato comum, uma gosma única. Ele suspira e fecha os olhos, deixando a fragilidade do momento apaziguar seu rosto.

- Acho que você precisa de ajuda. – Harold anuncia, estendendo os braços e agarrando as alças de metade das sacolas em uma das mãos e um punhado na outra. Louis praticamente suspira de alívio ao perceber que a afirmação era bem mais superficial do que ele tinha entendido.

- N-Não! Eu consigo, não precisa se preocupar, eu...

- Eu já disse pro meu chefe que precisava de um intervalo. – Ele sorri com o canto da boca. – Vamos... – E Louis é presenteado com as costas largas, que, a cada passo, se afastam.

Os azuis observam as três sacolas que restam aos seus pés. Ele nunca teria tido o tipo de atitude que está tendo. Essa passividade não lhe pertence... Ou, será que pertence? Os lábios secos são molhados pela língua áspera. A cabeça levanta e os olhos enxergam Harry ao fundo, praticamente saindo do estacionamento. Ele nunca teria ouvido alguém no passado, ele nunca obedeceria sem questionar, ele nunca ficaria nervoso, ele nunca iria querer pedir desculpas... As pernas esticam, a coluna curva e a mão boa procura as alças das sacolas.

- Ha... Harold! Espera, por favor. – Os ouvidos estalam conforme a sola dos sapatos quica contra o asfalto e ele se aproxima do rapaz comprido.

*

Respirar é um ato fácil, certo? É algo natural, fazemos até dormindo. Mas é engraçado como simplesmente paramos de fazê-lo a partir do momento em que pensamos sobre o ato de respirar. As narinas dilatam conforme o ar circula e o peito estufa com os pulmões cheios. E, então, o corpo murcha como uma bexiga de festa de aniversário. E assim tudo recomeça, o ar entra, estufa o peito e o corpo murcha. E de novo. E novamente. E repetitivamente. Porém, e quando não há mais prazer em viver? E quando não há mais um motivo sério e convincente? E quando não há mais sentido em respirar? A resposta é nada. As narinas dilatam, o peito estufa e o corpo murcha. Somos seres automatizados e a vida não está no controle de nossas emoções, apenas de nossas ações.

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⏰ Última atualização: Aug 31, 2015 ⏰

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