IV

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Liam sentia as mãos suarem com desgosto, mas tentar enxugá-las na calça e na camisa não estava lhe proporcionando resultados eficientes. Os castanhos desistiram de prestar atenção na pequena televisão de modelo ultrapassado presa no alto da parede. O ar não tinha um cheiro agradável ali. Mesmo ele estando acostumado com hospitais, aquele odor ainda era surpreendentemente forte. Uma mistura de produtos de limpeza, vômito e urina. Os joelhos balançavam intermitentemente, ele estava suando frio desde o dia anterior.

Quando conseguiu a bolsa para estudar medicina nos Estados Unidos ele não pensava que podia encontrá-lo novamente. Todos diziam que primeiro amor não vinga. Primeiro amor é algo para ficar na memória e não se concretizar. Sim, ele ficou com outros caras. Outras garotas. O campus de Ohio era muito grande, tinha muita variedade. E sexo não era um problema, sempre tinha alguém disposto a abrir as pernas para Liam Payne. Os estalos do par de saltos contra o mármore o despertou de suas memórias.

- Senhor... Payne? – A mulher de meia idade, jaleco branco e cabelos presos em um coque seguro por uma caneta o observou. Então ela voltou os olhos negros para a própria prancheta.

- Sim. – Liam levantou, deslizando (mais uma vez, inutilmente) as mãos na parte de trás da calça e estendeu o braço para um cumprimento. A médica ajustou os óculos no nariz e ignorou completamente a intenção educada do outro.

- Em que posso ajudá-lo? – Ela começou a caminhar, guiando Liam pelos corredores brancos com listras verdes.

- Eu gostaria de retirar um paciente. – Ele apressou o passo para fazer-se ouvir melhor. – Acredito que ele esteja em sua pasta. Ele é...

- Eu sei de quem você está falando, Doutor Payne. – A mão pálida segurou uma porta de madeira escura, permitindo a entrada de Liam no pequeno escritório. As paredes recheadas de armários de metais e pilhas de pastas estufadas com papeis faziam a decoração do ambiente. – O que eu me importo em saber é por que o senhor acredita que pode tirá-lo de meus cuidados...

- Ah! – Liam se atrapalhou, puxando uma sulfite dobrada duas vezes do bolso de trás do jeans. As mãos grandes e desajeitadas desamassaram o papel e estenderam-no para a mulher. – Mas eu posso tirá-lo da senhora.

E era verdade. Desde que ele voltara para a Inglaterra com um belo diploma e um leque enorme de possibilidades, tudo parecia que ia dar certo. Até que ele visitou sua antiga casa, agora ocupada por um casal de muçulmanos. Liam até bateu à porta, conversou e explicou-se para os moradores atuais que, com sorrisos tímidos, permitiram que ele desse uma última olhada dentro da sua infância. O peito apertou quando ele subiu as escadas e as memórias dos pais vieram à tona, já fazia dois anos que eles se foram, apenas uma semana de diferença entre os dois.

Ele estava pronto para partir, quando, por acaso, deslizou o pé sobre o piso em seu antigo quarto (e atualmente sala de oração). A peça de madeira estalou e um dos tacos descolou, revelando um pequeno pedaço de papel amassado. Ah! Aquele era seu cofre dos tesouros! E, por mais incrível que tudo pudesse parecer, ele não resistiu em se perguntar como o casal de muçulmanos ainda não tinha descoberto aquele defeito na construção. Talvez porque fosse um cômodo sagrado ou coisa assim.

Sem pestanejar, ele se abaixou e retirou o que pensou ser um pedaço de papel. Estava enganado, era uma foto. Uma foto de antes de ele ir aos Estados Unidos. Liam nem se lembrava de ter tirado aquela fotografia. O coração bateu mais devagar assim que os castanhos reconheceram as pessoas na imagem. Ele estava com aquele corte de cabelo ridículo do final de sua adolescência, o queixo com poucos fios de barba despontando. A mão foi aos lábios, escondendo um sorriso ou a vontade de sorrir. E ao seu lado, com o sorriso mais glorioso do universo, estava aquele que era o seu primeiro amor...

Ugly Boy | Larry StylinsonOnde histórias criam vida. Descubra agora