As batidas do coração explodem na garganta, os lábios secam e uma onda de sensações eletrizantes pulsa em seus dedos. O tempo parece ter parado e o universo gira em uma velocidade muito mais rápida do que sua cabeça consegue perceber. Tudo começa a girar e Louis precisa piscar várias vezes para, finalmente, se dar conta de que ele está ali. O problema é que a imagem em sua frente não combina com o que suas memórias possuem. Não há olheiras, não há palidez, não há cabelos sujos. Os verdes estão focados em si e não há vermelhidão, nem nebulosidade. Os lábios dele estão rosados e livres de gosmas escuras ou abrasões, a pele não está trêmula e não há sujeira em nenhum pedaço do que ele consegue ver.
A surpresa, ao invés de impedir, trabalha seu cérebro. São tantas imagens, tantas linhas e curvas, milhares de hipóteses e nenhuma conclusão. Quando Louis acredita ter uma boa explicação para a situação a dúvida o atinge com dez novas possibilidades. O que está havendo? Quem é essa pessoa? Por que não há link entre o Harold que ele conhece e esse Harold parado em sua frente? Há alguma hipótese de ele estar sonhando? Ou isso seria um pesadelo? Toda a confiança, toda a existência que ele criou para si em seis meses, tudo derrete em segundos. E, novamente, Louis se encontra na beira do abismo.
Os azuis estão tão concentrados em observar que, assim que os lábios rosados indicam que palavras serão proferidas, um raio penetra nas vértebras de Louis. As pálpebras se afastam, exibindo o assombro que envolve os orbes. Então ele retoma consciência de si momentaneamente e faz aquilo que lhe mais convém: ele bate a porta.
Louis consegue ouvir as próprias batidas do coração pulsando contra as orelhas, as bochechas queimam de vergonha e o estômago se embrulha. A mente começa a vagar por diversos caminhos estreitos, os azuis migram de um lado para o outro e os dentes mordiscam as unhas dos dedos. A ansiedade eleva a tensão e os chiliques começam a despertar. A coceira nos braços, a dor nos joelhos, os lábios secos. Novamente ele se vê dentro de uma esfera, perdido em imagens que o circulam muito rápido e confundem seus olhos.
O que Harold está fazendo aqui? Por que ele está aqui? Será que ele precisa de ajuda? O que foi que aconteceu? Tem tanto tempo que ele não o vê, o que será que ele quer? Será que ele veio para roubar? O que ele pode fazer? Qual o sentido disso tudo? Por que ele fechou a porta na cara dele? Por que essa ansiedade não o deixa pensar? E se ele precisa de alguém para conversar? E se ele está com pensamentos suicidas? E se ele só quer dizer um oi? E se ele ficou com saudades (o quê, ele pode ter sentimentos também)? Por que...
A luz estoura de trás de seus olhos e ele percebe o que acabou de fazer como se tivesse despertado de um encanto maléfico. Os lábios se descolam e ele olha de um lado para o outro até encontrar seu braço estendido em frente à maçaneta. Ó não! Louis abre a porta em um rompante e encontra o vazio. As sobrancelhas se curvam e não conseguem expressar a quantidade exagerada de sensações que provocam o seu interior. Então, ao acaso, seus ouvidos captam o barulho da porta do prédio, ele reconheceria aquele clique em qualquer lugar do mundo. O impulso desperta seu corpo, enviando uma onda das pernas para a cabeça, mas ele continua travado no mesmo lugar, segurando a porta aberta.
O que vai acontecer? Quais são as possibilidades? Caso ele não vá haverá algum dano? Quão disposto ele está para conviver com esse dano? E se ele for? Haverá algum dano? Ele conseguiria conviver com a dúvida novamente? Ele é capaz de não misturar as coisas? Ele tem o direito de se achar capaz de algo? E se... E se? E se? Os segundos clicam no fundo de sua cabeça, avisando de que cada instante de dúvida é mais um passo que Harold dá. Louis sente a vertigem o puxando para trás, evitando que ele se precipite, requerendo a segurança daquilo que ele tem certeza. Mas algo o impulsiona, há um fogo dentro de si, uma faísca que mantém a pergunta essencial: E se ele for atrás?
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Ugly Boy | Larry Stylinson
FanfictionO passado, recheado de suas rachaduras, quando ignorado deixa de reconhecer sua temporalidade. Ele retorna, faz-se presente. Puxando suas pernas com a correnteza de seus próprios sentimentos, aquilo que ficou no tempo volta. Apenas para mostrar que...