A lua reina diante da escuridão reforçando seu poderio após ter repelido toda a neblina. Os flocos de neve respingam contra a noite de tal forma que parecem mais estrelas do que cristais de gelo. Todos procuram refúgio diante das rajadas uivantes que dançam contra a arquitetura antiga de Londres. Todos menos um. Um que sente os pulmões queimarem conforme os sapatos deslizam contra o cimento das calçadas.
Louis deixa o tronco cair e ele usa os joelhos para apoiar as mãos. Os lábios secos expiram blocos de névoa e engolem grotescos goles de ar puído. A coluna remexe conforme o organismo convulsiona em busca de oxigênio e a famosa dor na lateral do corpo atenua sua falta de preparo físico. As narinas queimam quando ele se reposiciona e volta a puxar o ar pelo nariz. O peito expande ao máximo e murcha conforme a calma se espalha por suas terminações nervosas.
Os dedos deslizam contra a franja úmida e empurram todos os fios para trás, criando um topete desalinhado e cômico quando as mãos alcançam a nuca. A ponta do nariz avermelhado resmunga contra o frio. E os braços eriçados e descobertos anunciam sua falta de coordenação. Quem sai no meio do inverno sem casaco e fica correndo por Londres? Somente os loucos e, bom, Louis. E ele já está concordando que deve ser considerado um louco.
O vazio enche sua mente. Louis acredita que devia estar pensando em Harold, mas o nada é quem percorre seus ventrículos cerebrais. Ele olha ao redor, os táxis passam com suas janelas embaçadas. As pernas agilizam e a travessia na faixa de pedestre é como um pulo. Os azuis percorrem os prédios com cautela. Uma coisa é procurar por algo durante o dia, outra é procurar essa mesma coisa à noite e com um estado emocional desequilibrado.
E enfim a imagem dele chega a sua cabeça. Harold. É sempre ele ultimamente. O motivo de suas preocupações veio com pernas compridas, personalidade insuportável, olhos verdes e voz rouca. Não que a rouquidão dele fizesse alguma diferença... De qualquer maneira, tudo é ele. A cabeça de Louis resmunga, enviando pontadas de dores para os dedos do pé. Está frio e você precisa se abrigar, o cérebro o avisa. Ele chacoalha a racionalidade para longe e acelera as passadas em uma vã tentativa de aquecer a pele por fricção.
Louis dobra uma esquina e não consegue evitar deixar a esperança construir seu sorriso. Com as solas dos sapatos escorregando contra a fina camada de gelo ele escala os poucos degraus até a porta de madeira e vidro. As mãos espalmam contra o vidro, sem a menor consideração.
- Harold! – A voz sai trêmula e falhada. Mais uma espalmada contra o vidro. – Harold! – Ele força a garganta para o timbre assumir qualquer tonalidade que possa ser ouvida. – Harold!
Nenhuma luz é acesa enquanto ele se debate contra a porta fechada. Se Harry não está no café... Se ele não está ali, onde é que pode ter ido? Londres é muito grande. O coração começa a apertar, enviando as ondas do desespero para suas mãos, que tapeiam contra a porta. E o rosto se contorce como se lágrimas fossem brotar, mas é a frustração que está presente, não a tristeza. Por fim, ele acaba chutando a porta e o corpo escorrega até o chão. Então começam as testadas contra o vidro.
- Harold, por favor...
*
Os braços abraçam o corpo desprotegido conforme a noite avança. As mãos deslizam pela pele eriçada, buscando qualquer fonte de calor. Os dentes se debatem em uma música sem compasso, os lábios começam a azular e os olhos semicerrados vagam pelas janelas dos bares sem entusiasmo. As pequenas nuvens que seus lábios liberam revelam o seu trajeto conforme elas alcançam as alturas.
Os pés tropeçam contra as calçadas e o invisível, passando a deixar de responder aos comandos imediatos do cérebro. As pernas parecem correspondê-lo, mas os movimentos são curtos e muito lentos. Louis capricha ao encarar a vitrine de um bar que possui mais clientes, mas nenhum sinal de Harold. A noite é uma criança, sempre dizem, mas, na verdade, a noite é muito longa.
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Ugly Boy | Larry Stylinson
Fiksi PenggemarO passado, recheado de suas rachaduras, quando ignorado deixa de reconhecer sua temporalidade. Ele retorna, faz-se presente. Puxando suas pernas com a correnteza de seus próprios sentimentos, aquilo que ficou no tempo volta. Apenas para mostrar que...