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Lábios finos, nariz pequeno, sobrancelhas arqueadas, cílios ralos e orbes azuis. A constatação da realidade é profunda para muitos, mas não quando se apenas tem a necessidade de observar o que há. Pois é isso o que as pessoas fazem quando estão tristes. Quem nunca teve a estranha vontade de se ver chorar em um reflexo? Observar a contorção dos músculos faciais produz um laço ao redor de nossos corações, um aperto que segura nossos sentimentos no lugar e, de fato, confirma que estamos sofrendo. Mas o que é o sofrimento? Uma concepção de que estamos desalinhados com o resto da humanidade? Uma ideia de que o universo é feito de retratos de alegria e que, no momento, estamos apenas captando os intervalos entre a felicidade alheia?

Sofrimento é a pureza do egoísmo, é o néctar que brota na fonte do narcisismo. O sentimento surge a partir da perspectiva que a própria pessoa possui do que é a falta da alegria. É uma análise pura e unicamente particular que culmina em autoflagelo. É o ato de se punir pela falta de felicidade. Sofrimento é a consciência de que o eu é mais importante do que os outros, pois sofrimento é solitário, é único. O sofrimento é uma particularidade que jamais pode ser compartilhada, ou entendida, pois somente quem o aplica é que pode encerrá-lo. O sofrimento é um ato egoísta.

Louis observa sua cópia estática antes de desviar o rosto. É errado sofrer por si só quando o mundo continua a girar em seu eixo. É errado ele sofrer por si mesmo enquanto ele não busca solucionar seus pesadelos. As escolhas o definem, mas e se ele não quer mais ser definido pelo passado? O que ele precisa fazer para abandonar aquilo que não existe mais? Por que ele não consegue se desassociar? Simplesmente porque não há nada para ser inserido no lugar do espaço que ficaria dentro de si.

Lentamente os olhos voltam a encontrar seus clones e, pateticamente, o cenho enruga conforme a constatação de sua futilidade, não há lágrimas transbordando. Assim como não há satisfação ao consumir a si mesmo. O buraco negro em que sua identidade se perdeu é muito fundo e, portanto, não há como exercer o processo de identificação. A capacidade de se ferir é deixada ao relento, pois o simples ato de atacar um coração destroçado não produz efeito algum. A intangibilidade de seu ser é o que faz sua dor, já que assim ele percebe a si mesmo. Enxergar seu reflexo no espelho o faz perceber que não há presença dentro de si. Não existe o Louis, mas sim um Louis. E é assim que, finalmente, seus olhos ardem e as lágrimas começam a escorrer.

*

- Hey, Tomlinson! – Aiden sorri ao ouvi-lo atender o celular. – É o Aiden, como vai? – Ele levanta da cadeira e começa a andar. É uma mania, ele sabe, mas é irresistível se movimentar enquanto fala ao telefone.

"Estou bem, Aiden. E você?"

De novo esse tom. Aiden sente a testa vincar e a língua precisa umedecer os lábios. É sempre assim com Louis, como se houvesse uma torre a ser escalada e, quando, finalmente, você alcança o topo descobre que há mais e mais para subir. Ele compreende que o outro precisa de mais tempo para voltar a se acostumar com sua presença, mas, quem ele quer enganar, a impaciência sempre foi sua companheira. Há algo ao redor de Louis que o atrai, quase como se o baixinho fosse um abajur e ele um pernilongo. Ele sabe que vai se queimar, mas simplesmente não consegue resistir.

- Escute, eu decidi que vamos sair hoje. – Aiden usa a violência, pois, do contrário, o tiro vai ser em vão.

"Você decidiu?"

- Sim, porque te conheço. – Ele ri de leve enquanto reajeita um enfeite em sua estante. – E você não pode negar esse convite, é a regra. – Piegas? Sim, mas ele nem se importa.

"Eu não sei, Aiden..."

- O que eu acabei de falar? Nada de recusar. – Ele pode ouvir o suspiro do outro, mas o sorriso de sua vitória é irresistível. – Eu te encontro no Hyde Park às quatro.

Ugly Boy | Larry StylinsonOnde histórias criam vida. Descubra agora