XXIII

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As rajadas geladas despertam Londres em uma manhã solitária e inebriante. A falta dos habitantes caminhando ou correndo pelos corredores entre as construções milenares resulta em uma atmosfera etérea, minimalista e mística. Os raios solares penetram por entre as nuvens e são refletidos pelos diversos pontos de água congelada pelos telhados e janelas, o que cria diversos pontos de brilho e remete, pontualmente, a um imenso diamante.

Os mestres dizem que diamantes representam prosperidade e luxo. É um requinte reservado para os poucos que sabem vislumbrar as diferentes formas que explodem em cores e brilhos. O que eles não dizem é que os diamantes são encontrados nos mais inesperados locais, pois um diamante não é necessariamente uma pedra preciosa, ele pode ser um olhar, um aperto de mão, uma relação estável, até mesmo um sonho. E Zayn não pode discordar de que há mais preciosidade em sua mente do que em muitos corações londrinos. Aos poucos ele curva os lábios em um sorriso tímido. E os flashes coloridos ultrapassam as cortinas e acalentam sua pele azeitonada com beijos frios.

O rosto se esconde da claridade, procurando o conforto dos lençóis mornos, enquanto que os braços buscam os travesseiros. Há uma bolha de alegria pronta para explodir em sua boca e, conforme seu corpo desperta, ele sente a onda de felicidade relaxar seus ombros. Os dentes mordiscam o lábio inferior para evitar uma risada, ele está tão feliz que não consegue controlar as próprias emoções. Tudo parece se esvair. Não há preocupações, sorrisos de mentira ou surtos de ansiedade. A calmaria que clama seu coração lhe diz que tudo vai dar certo. E a noite bem dormida e os sonhos mais leves do ano apenas servem para confirmar essas hipóteses.

Zayn remexe em sua epifania, procurando conter as correntes elétricas que não permitem que seus braços fiquem parados. Ele não quer acordar Liam, mas parece que não vai ter muito sucesso nisso. Os lábios não conseguem segurar a pequena risada travessa e, então, ele decide virar o rosto em direção ao outro. Já que ele vai acordá-lo mesmo, nada melhor do que, ao menos, ter a chance de vê-lo abrir os olhos e cumprimentá-lo com seu melhor sorriso.

Tudo se confunde a partir do momento em que ele tenta levantar a bochecha do lençol. O tecido agarra sua pele, quase como se estivesse encharcado de cola. Zayn resmunga diante da sensação nauseante que o atinge conforme ele praticamente descasca a camada de tecido de sua pele. Então seu coração para. A vertigem o atinge como se uma flecha penetrasse em suas costas e a falta de ação prevê o súbito ataque de pânico que está por vir.

Vermelho.

Vermelho por todo lado.

A respiração trava assim que o nariz para de funcionar e o pânico assume o controle. Bufando por todos os lados e espalmando na umidade pegajosa, Zayn finalmente consegue se desvencilhar do lençol e se levantar. Ele observa seus braços rubros sem a completa compreensão do que está acontecendo até que...

- Liam! – Ele berra ao voltar aos trancos para cima da cama. – Liam! Liam! – As mãos agarram o corpo inerte em cima dos travesseiros. Sangue explode das narinas de Liam e sua palidez indica que o fluxo sanguíneo está assim por tempo demais.

Zayn aproxima o rosto do peito do marido, os olhos cegos pelas lágrimas, e ele não consegue escutar nada. O choro que sai de seus lábios é agudo e desesperado, os lábios melados de saliva começam a formar bolhas que estouram a todos os segundos. Ele força o rosto contra o peito de Liam em busca daquele sinal, daquele barulho que vai lhe acalmar, mas, novamente, o silêncio é o que o cumprimenta.

- Liam! – Zayn levanta e puxa o rosto inerte em suas mãos. – Liam, por favor, acorda... Liam! – As lágrimas atrapalham seu foco e, logo, Liam é um mero borrão pálido.

Ele aspira o ar com força através da boca, engolindo resquícios de sangue no ato. A traqueia convulsiona, recusando o sabor metálico. Porém, não há tempo. Zayn puxa o telefone com as mãos grudentas e se perde nos números três vezes antes de conseguir iniciar a ligação. O pânico faz todo o seu corpo tremer e perder o controle, então, em um ato de sobriedade fora do comum, ele consegue colocar a ligação em autofalante.

Ugly Boy | Larry StylinsonOnde histórias criam vida. Descubra agora