IX

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As bochechas vermelhas de Louis gritam diante dos verdes de Harry. Tudo o que ele quer é se livrar dessa situação, mas o Niall cortou tudo. Ele não tem mais com quem contar, então só lhe resta isso. As mãos do outro espalmam diante da bancada da cozinha, o corpo dele treme com a respiração pesada.

- Essa é a minha casa! - Louis grita, a garganta coaxando e envolvendo a voz em timbres confusos. - Eu já falei que não sou caridade! Não! Isso é um absurdo! É claro que eu não tenho dinheiro para te emprestar! E eu já falei que você não pode usar nada aqui dentro!

Harry morde a própria língua para não falar demais. Ele sente o corpo desfalecendo. A fome faz com que seu corpo tenha tremeliques estranhos (só pode ser a fome, certo?), as mãos não conseguem ficar paradas, os olhos não fixam em nada durante muito tempo e sua boca está sempre seca. Tem nove dias que ele não se alimenta direito, que ele sente coceiras inoportunas. O corpo está frustrado, ele sente. Nove dias é muito tempo para ficar sem beber, cheirar, injetar, lamber. E é muito tempo para ficar sem foder alguém.

- Você é um idiota, mesmo. - Louis chama a atenção de Harold com a voz aguda e trêmula. - Será que você só pensa em si mesmo? Eu não tenho obrigação nenhuma de te oferecer qualquer coisa. - Harry puxa os cabelos compridos para trás, já sentindo a vertigem atingir o fundo da cabeça. - Não é problema meu se sua família não te dá mais dinheiro. Eu já estou sendo bom demais em deixar você dormir no sofá!

- Eu só preciso de uma pitada, cara... - Harry grunhe. A garganta fechada e seca, produzindo uma voz densa e extremamente rouca. - Libera algumas pratas aí.

Louis observa o outro se aproximar novamente. A cada passo comprido de Harold ele se vê mais e mais encurralado entre a parede a bancada. Ele ainda está segurando o saco de lixo que ele foi pegar. Estava tudo certo, até o mais novo aparecer em sua frente. As olheiras profundas, os olhos desfocados e perturbados, os braços cheios de tremeliques... Ele sabe o que está acontecendo com Harry, é a falta. É a porra da abstinência.

- Saia da minha frente, Harold. - Ele endireita a postura e usa seu tom mais ameaçador. - Saia da minha frente ou...

- Ou o quê? - Harry joga a cabeça para o lado, os lábios secos e feridos entreabertos. - Eu posso te dobrar no meio se eu quiser.

- É melhor você sair da minha frente. - Louis dá mais um passo para trás, encontrando a parede gelada. Droga!

- Eu só preciso de dinheiro. - Ele chega mais perto, espalmando as duas mãos contra a parede, cada uma de um lado do rosto do mais velho. Louis está tão petrificado que tudo o que ele consegue fazer é deixar o saco de lixo cair no chão e os olhos arregalam. - Ou você pode me dar um boquete. - Harry ri de um jeito estranho, meio tossindo junto. - Eu lembro que você é bom nisso...

Baque.

- Eu falei para sair da minha frente! - Louis respira com dificuldade, a mão aberta queima e ele sabe que vai ficar vermelho, o rosto de Harold já está. - Agora! - Ele empurra o peito do outro e se desvencilha da encruzilhada.

Harry sente o zumbido em sua cabeça e nem percebe que o mais velho sai. Ele pisca repetidas vezes tentando fazer os olhos enxergarem que só existe um armário, e não quatro. As unhas arrancam camadas superficiais de pele da nuca, causando trilhas rosadas. A cabeça começa a doer, enviando pancadas contra a região do meio dos olhos.

- Argh! - Ele grita, caindo ajoelhado no azulejo gelado. - Arrgh!

*

Liam esfrega as mãos sob a água corrente com força, reabrindo os machucados do dia do encontro com Trisha. Ele observa o sangue rarear diante da quantidade de líquido que sai da torneira, o que o colore em uma tonalidade alaranjada. A ardência atinge seu cérebro em poucos segundos, enviando choques de reflexo para que ele puxe a mão para longe. Mas ele está focado em seus machucados abertos, no sangue que lhe escapa...

Ugly Boy | Larry StylinsonOnde histórias criam vida. Descubra agora