Louis entra pela porta com uma sacola de bagels em uma mão e toda a ansiedade na outra. Os adereços do trabalho vieram equilibrados na cabeça, muito mal equilibrados por sinal. Nem adianta perguntar-lhe sobre o frio da noite, pois ele mal o sentiu. E ele não consegue conter o sorriso ao se deparar com Harold sentado no sofá.
- E então? – Louis senta ao lado do outro, provocando uma arcada de sobrancelha duvidosa do maior.
- Então o quê? – A voz rouca e gutural de Harold enviaria qualquer outro ser humano para longe, mas não Louis. Não o Louis de hoje.
- Você conseguiu? O emprego? – Ele sorri, deixando as coisas caírem ao seu lado.
- Como é que você sabe...? – Harry franze o rosto. A raiva enruga o lábio superior e a fala começa a se assemelhar com um latido. – Você não tem mais o que fazer da sua vida perfeita?
- Então não conseguiu? – O nível de ânimo diminui, o rosto relaxando conforme a felicidade extrema se esvai. E vida perfeita? Como é? O que esse viciado, não. Um, dois, três. Isso, respira e expira.
Silêncio. Ou quase, já que um resmungo escapa dos lábios do mais novo quando este joga o tronco para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos.
- Eu trouxe bagels. – Louis puxa o saco da confeitaria para seu colo.
- E o que eu tenho a ver com isso? – Os verdes exprimem toda a preguiça do universo e, também, uma indiferença brutal. E, ainda, talvez (um pouquinho, ou muito) de raiva.
- Eu pensei que fôssemos comemorar. – Ele encolhe os ombros e os lábios brincam de um lado para o outro. – Você sabe... Que você tem um emprego e tudo mais.
- E por que você iria querer comemorar isso? – Harold cruza os dedos e deixa as mãos pendendo.
- Não é isso o que os amigos fazem? – Louis pergunta como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. E Harry exala uma ferocidade intensa através dos olhos, encarando o outro como se aquela sentença fosse a maior ofensa.
- Eu não sou seu amigo. – Ele diz com o timbre zumbindo, as palavras mais sussurradas do que faladas.
- Ainda. – Louis sorri (forçadamente), engole todas as palavras ofensivas que pensou e abre a embalagem de papel.
- Por que você acha que eu quero ser seu amigo? – Harry ergue o tronco, deixando claro a sua imponência. – Você acha que eu sou um fracassado e nem gosta de mim. – Ele espera por uma reação violenta de Louis, mas o outro está determinado a manter a calma. – Você vive com seu nariz empinado, esnobando de todos os outros como se fôssemos criaturas inferiores. Como se apenas você tivesse o direito de estar certo. Eu não quero ser teu amigo, eu já tenho vários.
- E por que você está dormindo aqui então? – A pergunta sai mais forte do que o pretendido. É a força de hábito. E ele nem sempre precisa estar certo. Certo? Não. Ele não é assim. – Se tem tantos amigos assim, por que não vai embora?
- Isso não é da sua conta. – Harry levanta, deixando as mãos deslizarem pelos cabelos, puxando os fios até os cachos se desfazerem.
*
O enorme obelisco em homenagem ao almirante Nelson parece um espeto negro diante da neblina que desce em encontro com a praça. Os flocos de neve salpicam todas as superfícies, vez ou outra denunciando uma correnteza de ar. Os lábios azulados se desconectam deixando a umidade interna evaporar em uma pequena nuvem. Zayn permanece observando o céu cinzento, perdido em sua imensidão. A cena, por si só, daria uma bela pintura. Um único homem a observar a tristeza do universo diante de uma gigante estátua que lembra as dificuldades da vida.

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Ugly Boy | Larry Stylinson
FanfictionO passado, recheado de suas rachaduras, quando ignorado deixa de reconhecer sua temporalidade. Ele retorna, faz-se presente. Puxando suas pernas com a correnteza de seus próprios sentimentos, aquilo que ficou no tempo volta. Apenas para mostrar que...