XIX

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Observar o teto é uma atividade que requer uma incrível capacidade intelectual. É um ato de captar os minúsculos aspectos de uma superfície que, quase nunca, é reta. As linhas são curvas e as curvas são ovais. Há manchas estranhas, respingos de tinta velha (ou nova), ondulações e infiltrações de vez em quando. Também há a iluminação que pode ser de várias formas, como um fio com uma lâmpada, um globo, um lustre... Harold suspira e desvia os olhos do teto. Na verdade, observar o teto é uma atividade que requer extrema paciência.

Os verdes percorrem os desenhos gravados na pele pálida do braço até encontrarem o curativo que esconde as agulhas penetrando na carne. Ele suspira e avalia suas opções dentro do quarto particular que, por alguma razão celestial, Niall decidiu pagar. Tem uma televisão na parede e o controle é acoplado na lateral da maca, bem tecnológico e inovador, mas a ideia de se entreter com futilidades é tão atraente quanto assistir uma tartaruga comer uma folha de alface. Então ele decide observar o pouco que ele consegue enxergar do mundo exterior (há um prédio no ângulo da janela e tudo o que dá para ver é uma nesga da avenida e o céu).

As estrelas o cumprimentam com uma estranha simpatia. Não há nuvens nem a Lua, mas o brilho de cada um daqueles satélites o acalenta. Os verdes descansam e as pálpebras relaxam. A respiração se acalma e, aos poucos, ele deixa de ouvir os bipes do monitor cardíaco. A Morte o tem rondado, ele sabe. Astuta, ela se aproxima aos poucos, fingindo estar distraída com os outros pacientes do local, mas quando ele se lembra de prestar atenção, a proximidade dela é notada. Ela desliza pelo piso e chega extremamente perto, deixando sussurros gelados enquanto ele finge dormir. Ela assopra sua franja para perturbar seu sono e brinca com as agulhas enfiadas em seu braço. Muitos dizem que a Morte é sinistra e macabra, mas, definitivamente, o que ele pode dizer é que ela é entediada e, por isso, não pode evitar ser brincalhona.

E a Morte cutuca você para que seus olhos fiquem cansados, para que sua respiração falhe e, é claro, para que sua cabeça fique uma bagunça. O que vai acontecer quando você se for? Quem vai se importar com sua partida? Alguém irá chorar? Você alcançou seu objetivo como ser humano? Você realizou seus sonhos? Há luz no fim do túnel? Existe perdão? Harry continua a observar as estrelas enquanto a saliva umedece sua garganta. A desintoxicação não é um processo agradável, mas é melhor quando realizada em um hospital do que no apartamento dele. E, de uma forma estranha, aqui eles o drogam com outros tipos de drogas. O que é hilário, se pensarmos na ironia da vida...

E... Será que o universo poderia lhe conceder um desejo? Uma estrela cadente para um fracassado. É tudo o que lhe restou. Ele só pode acreditar em falsas crendices, pois o que há além da porta daquele quarto? Ele não tem para onde ir, não tem para quem pedir um abraço e não tem um futuro. Os bipes começam a apitar novamente. Não, o universo não irá lhe dar a chance de um pedido. Harold fecha os olhos e respira fundo. O que aconteceria se ele realmente se fosse? Não seria melhor para todos? Não seria essa a melhor solução?

*

- Louis? – Aiden para a caminhada e observa o pequeno corpo parado em frente à Praça Trafalgar. Diante da falta de resposta ele decide tentar mais uma vez, talvez não seja mesmo ele. – Louis!

Como que acordando de um encanto maligno, Louis desperta e procura o portador de seu chamado. Demora um pouco, mas logo ele consegue encontrar o par de olhos castanhos. Aiden se atrapalha com os braços gesticulando em direção aos amigos ao se despedir, mas, quando consegue, ele logo atravessa a rua para ir ao seu encontro.

- Aiden. – Ele apenas fala, por simplesmente não saber o que fazer, mas o outro entende isso como um cumprimento.

- E você é o Louis! – O sorriso torto no canto do lábio rejuvenesce o rosto rosado. E então ele sente a temperatura do corpo cair depois da corrida. – Você está bem? Está congelando aqui.

Ugly Boy | Larry StylinsonOnde histórias criam vida. Descubra agora