XXI

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- Você já terminou? – Michelle lança os olhos negros confusos em direção a Louis. – Tipo, ?

- É. – Ele sorri e suga o canudo do copo da Starbucks produzindo aquele barulho irritante, mas incrivelmente satisfatório.

Michelle quebra o equilíbrio do corpo, mudando o peso de uma perna para a outra. As sobrancelhas finas angulando para baixo, produzindo vincos na ponte do nariz arrebitado. Os dedos finos deslizam sobre as folhas de papel e, com agilidade, ela lambe a ponta dos dígitos antes de puxar a aba das páginas. Ela não sabe o motivo, mas seu sexto sentido está gritando, avisando de que há algo errado.

- Precisa de mais alguma coisa? – Louis a observa com o rosto livre de olheiras, rugas e linhas de expressão. Não que haja algo de errado nisso, muito pelo contrário, ela adoraria poder dizer o mesmo de si.

- Está tudo bem? – Os lábios terminam a sentença antes de ela conseguir se controlar. Droga! O que ela está fazendo? Louis é só um revisor! Um completo ninguém dentro da empresa e de sua vida. Toda a sua máscara profissional se desmancha diante da falha. Todos os anos trabalhando feito uma condenada em busca do reconhecimento pelo que há dentro de sua cabeça e não em sua aparência... E ela joga isso fora ao demonstrar feminilidade justo com ele? Que droga!

- Está tudo bem. – Louis responde ao jogar o copo de café em sua lixeira. – Mais alguma coisa?

- Não. – Michelle sente o rosto se contorcendo, transformando-se em puro questionamento. Mas ela simplesmente se afasta, permitindo que os cliques do salto contra o piso de mármore mantenham a sanidade necessária dentro de sua cabeça.

Ela pressiona o botão do elevador e, enquanto o monitor indica que o mesmo se encontra longe o suficiente para uma pausa mais confortável, a mente começa a vagar por estranhas estradas. Os orbes deslizam para o canto direito, mas de seu ponto de referência não há como observar a ilha de trabalho de Louis. Um passo para frente e, pronto, lá está ele revisando. Ou, pelo menos, mexendo com o editor de texto.

Há algo de errado. Ela sabe disso, não se trata de intuição. E é frustrante saber que existe alguma coisa que ela não possa arrumar. Louis sempre foi estranho. E quando Michelle pensa em estranho, ela vai fundo na causa. Ele sempre teve uma aura depressiva, sempre cabisbaixo e sempre com a coluna curvada. E, novamente, ela não sente falta dos olhos de peixe morto, das olheiras e das respostas resmungadas, porém, é simplesmente como se alguém tivesse colado um retrato de papel na cara dele. Um retrato estranho e que, simplesmente, não reflete nada.

Michelle o observa com as pálpebras semicerradas, os lábios descolando lentamente e o corpo inclinado para frente. Louis mexe ao celular e, para o espanto dela, ele está sorrindo (ou estaria rindo?). Automaticamente, tomada pela curiosidade, as pernas avançam mais alguns passos. Ela precisa saber do que se trata aquilo. Há algo de extraordinário e, evidentemente, existe algo de muito errado nesse fora do comum. Ela está prestes a conseguir um ângulo melhor, quando a sineta indica que o elevador chegou ao andar e a porta, metade para a direita e metade para a esquerda, se abre. E, como estava praticamente colando a bochecha na porta, ela quase enfia o nariz no peito de um dos jornalistas.

- Opa! – O timbre rouco dele a desperta completamente, fazendo com que suas pálpebras revelem as esferas negras em sua completude. – Calma aí, Michelle. – O sorriso dele a envolve em um lacre de desgosto e mau humor.

- Desculpa. – A máscara a veste automaticamente e tudo o que se passou segundos atrás morre em um estalar de salto. Ela entra no elevador e sua atenção fica totalmente voltada para os papéis em seus braços.

*

Charllote sorri enquanto segura sua xícara à altura dos lábios. Os azuis, furtivos, escondidos entre as maçãs rosadas que se abrem conforme os lábios se contorcem. Ela observa Louis por entre as labaredas de vapor de seu chá.

Ugly Boy | Larry StylinsonOnde histórias criam vida. Descubra agora