VI

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Louis abre a porta e encontra Harry. Ele não consegue evitar analisar o perfil do mais novo. Os azuis começam pelos cabelos compridos que produzem cachos nas pontas. As sobrancelhas finas, os olhos preguiçosos e verdes. O tronco comprido, as pernas quilométricas. E, então, os pés gigantes. Tudo no outro faz com que ele se sinta incrivelmente menor do que ele é.

- Então? – Harry abre os braços, deixando a mochila cair no chão. – Eu passei no teste? – A voz é grave, rouca e provoca em Louis uma sensação estranha. É quase como se uma lixa molhada raspasse uma superfície de madeira lustrada. Seja lá o que isso significa.

- Teste? – Se seu corpo tivesse asas ele teria saído flutuando. Obrigado aos deuses do destino por não me deixarem gaguejar, ele diz mentalmente.

- Então você simplesmente fica julgando as pessoas sem nem perceber... – Harold cruza os braços e pisca preguiçosamente. – Não é como se eu pudesse esperar muito além disso, não é? – O corpo tomba para frente, ficando tão perto que o cheiro dele invade a mente de Louis.

- Por que você não entra? – Louis sai do caminho, atrapalhando-se com o chaveiro antes de permitir a entrada do outro.

Harold dá suas passadas compridas e logo se vê em um loft meia boca. Uma cozinha minúscula de um lado, um sofá de frente para uma prateleira vazia e uma escrivaninha com um computador e um monitor de tubo (isso ainda existe?). Ele vira o rosto para trás, encontrando um Louis exprimido nos primeiros degraus do mezanino.

- É isso? – Ele pergunta encarando o mais velho.

- Ahm... – Louis fecha a porta e arruma a franja, ainda meio atrapalhado. – Não é muito, mas é melhor do que nada...

- Tanto faz. – Harry dá de ombros e interrompendo o discurso de Louis. Ele joga a mochila no sofá como se fosse um jogador de basquete e espreguiça, os braços ocupando um grande espaço no ar. – Você tem algo para comer? – Ele estrala o pescoço. – E cerveja?

Louis demora a reagir à presença do outro. Ele vinca a testa, os lábios se mexem indecisos, as mãos caídas ao lado do corpo. E Harold permanece há três enormes passos de si o olhando de volta. Ele não sabe dizer como o tempo está passando, ou como o mundo continua girando, ou como sua mente ainda não explodiu.

- Eu posso pedir uma pizza. – Louis responde, desviando o olhar para a cozinha. – Não tem cerveja. Não tem comida também.

- E você faz o quê? – Harry deixa a cabeça tombar em cima do próprio ombro. – Fotossíntese?

- Você dorme na sala. – Ele encara o outro, ainda tentando digerir o constrangimento de seu próprio arrependimento. O arrependimento que o consome desde que ele teve essa ideia estúpida. – É um sofá-cama, eu acho.

- Você acha? – Harold observa o menor subir o mezanino.

- É, eu acho.

*

Zayn abre os olhos e tudo o que consegue perceber é a dor incômoda na região lombar. Ele revira os olhos, quando Liam dorme ao seu lado nada acontece de errado, mas é só ele passar duas noites sozinho que dores bizarras começam a surgir. Os chinelos são esquecidos quando ele levanta e segue para um banho silencioso.

Liam. Liam não sai de sua cabeça. Ele precisa ajustar as coisas. Ele necessita que as peças se encaixem nesse imenso e complexo quebra-cabeça. A água morna desliza por sua pele azeitonada, escorrendo por seus vincos e relaxando suas terminações. As pálpebras se fecham, enviando-o à escuridão. Ou pelo menos tentando, já que o sorriso de Liam surge como se ele estivesse em uma sala de cinema. Para seu deleite e desespero.

Ugly Boy | Larry StylinsonOnde histórias criam vida. Descubra agora