XII

758 97 60
                                    

Os sapatos ecoam contra o linóleo, produzindo um eco na mente desolada. Zayn caminha rapidamente, deslizando e produzindo ruídos estridentes a cada curva dos corredores. Os pulmões ardem com a falta de oxigênio. É tanta coisa para administrar que respirar é a última coisa que passa por sua cabeça. Quando chega ao lugar correto ele deixa a mão à parede e curva o corpo para frente, puxando longos goles de oxigênio hospitalar com a boca. O cheiro entorpecente de desinfetantes (e aquele azedo que só existe em hospitais) provoca sensações diversas em seu sistema digestivo. E nenhuma delas é agradável.

Ele levanta o rosto, sugando mais um longo gole com os lábios secos. As pernas diminuem o ritmo. Os pés se arrastam, evitando ao máximo trazerem aquela porta à proximidade. O peito pulsa em medo. E ansiedade. Na verdade é um pouco de tudo, mas a adrenalina da corrida o atinge e proporciona mais valor para o medo.

- Posso ajudá-lo? – Uma mulher de jaleco e com uma pasta aberta nas mãos o encara por detrás dos óculos. As olheiras indicam que ela não dormiu muito na noite passada e o cabelo mal ajeitado em um rabo de cavalo revela sua falta de vontade de ajudá-lo de verdade.

- Liam Payne? – É tudo o que Zayn consegue falar. Sua mente não permite que a verdadeira pergunta escape por sua boca. Liam Payne está vivo? Liam Payne está morto?

- E você seria? – Ela fecha a pasta e muda a posição do rosto, semicerrando os olhos para analisar melhor o estranho. E um estranho possuidor de uma beleza incongruente, do tipo de beleza que você tem que espremer bem os olhos para se apaixonar perdidamente.

- Zayn. – Ele responde, baixando os olhos para os detalhes do piso cinzento. – Zayn P-Payne.

- Certo. – A médica diz depois de checar alguma coisa na pasta novamente. – Você é o cônjuge do Doutor Payne. – Zayn confirma com a cabeça. – Você está à parte do que houve?

As sobrancelhas dele querem se juntar conforme a dor atinge seus músculos faciais. Novamente ele sente a vida escapar de si conforme os pulmões queimam reivindicando por mais oxigênio. O chiado escapa por entre os dentes, mas a palavra morre antes mesmo de ser formada.

- O seu marido teve uma hemorragia nasal causada pelo acúmulo de células blásticas na medula óssea. – Ela pisca algumas vezes, esperando a reação do moreno. – Em outras palavras, o Doutor Payne tem Leucemia. Eu sinto muito.

Zayn sente a garganta fechar e um zumbido surge em sua mente, impedindo seus olhos de focarem na médica e de terminar de ouvir o que sai de sua boca. Células blásticas? Hemorragia em decorrência de acúmulo de ossos, hã? Leucócitos? A explicação sobre o fenômeno que consome a vida de Liam não entra em seu cérebro. Tudo o que ele consegue é deixar a gravidade puxar seu organismo para baixo. Então ele desliza contra a parede e cai no chão frio, os lábios tremendo e as mãos absortas em nenhum movimento.

- Você está bem? – A mão delicada atinge sua testa e logo os dedos pontudos começam a traçar pontos em seu pescoço e nuca.

- Ele vai morrer? – É tudo o que ele consegue perguntar enquanto ela o examina.

- Todos nós vamos morrer algum dia, Sr. Payne. – A médica sorri, mas a tristeza parece exalar de seus poros. – Mas ainda é cedo para diagnósticos dessa magnitude.

- Ok... – Ele desvia os olhos da mulher e volta a focar o piso do hospital.

- Você precisa de algo? – Ela levanta, mas não se afasta de Zayn. – Um copo de água?

- O Liam...? – Os caramelos encontram o rosto tenso da médica. Ela suspira e sorri de leve, estendendo a mão para ajudá-lo a se levantar em seguida.

Ugly Boy | Larry StylinsonOnde histórias criam vida. Descubra agora