XVIII

572 86 24
                                    

Paz é um sentimento de espírito que é conquistado naquele momento singular de plenitude. É uma experiência extracorpórea, na qual tudo parece se alinhar e sua visão é macroambiental. Não importa o eu em um momento como esse, os seus olhos só enxergam os outros e a paisagem. E tudo o que você consegue fazer é sorrir e se permitir boas e lentas respiradas. O medo de piscar é tamanho que você acha que tudo pode ser uma ilusão, mas assim que fechamos os olhos criamos um medo muito maior de abri-los. O que será que encontraremos? Será que ainda existirá o mesmo nirvana?

Zayn desmancha o sorriso do rosto conforme a percepção da realidade o atinge. Ele força as pálpebras em busca de um atalho. Ainda não está na hora da acordar, só mais um pouquinho, só... Mais... Ele bufa e abre os olhos. Está escuro, mas o corpo já está descansado. Ele observa a parede cinza e puxa as pernas para ficar em posição fetal, porque... Bom, porque sim. Todo mundo entende a sensação que é ficar em posição fetal quando a vida não está boa. É conhecimento geral. É a regra, é o que todos fazem.

E foi só ele concluir tal pensamento que um peso extra o atinge. Ou melhor, ele percebe o peso extra. A cor foge de seu rosto e a mente rebobina todos os acontecimentos da noite anterior.

Liam o chamou para ajudá-lo a ir até o banheiro, checado.

Ele fez uma sopa para o Liam depois do banho dele, checado.

Ele tomou banho, checado.

Liam o chamou para uma conversa idiota sobre... Espera.

Não! Não... Não? Os caramelos circulam pela cavidade ocular em busca de um desenho inútil, de um bichinho de pelúcia, de qualquer indício que aquele não é o seu quarto, mas sim o de Rebecca. Ou de Charles. Até o berço da Amanda serviria... Então o ronronar pesado e a respiração quente atingem sua nuca, enviando linhas de arrepio por sua coluna. E a realidade o atinge como um abraço morno. E o braço que puxa sua cintura só faz o seu sorriso ressurgir... Não há doença no momento. Não há preocupações. Não há problemas.

Zayn gira o corpo cautelosamente até ficar de frente para Liam. E ele se perde ali. As linhas de expressão, o sulco horizontal que atravessa a testa, o queixo quadrado, o nariz pequeno. E, também, as orelhas levemente de abano, a barba por fazer, as sobrancelhas grossas e os cílios curtos que escondem os olhos. Aos poucos ele se permite deslizar a mão sobre a bochecha do outro. O toque é sutil, preocupado e intenso. É como se ele fosse cego e todos os detalhes lhe fossem importantes. É a impressão no rosto dele que está sendo gravada em suas digitais.

- Hey... – Os lábios de Liam se curvam em um sorriso maroto.

- Você... Você está acordado! – Zayn sente as bochechas arderem e ele afasta a mão do rosto do outro tão rápido quanto ele força as pernas a fim de se afastar.

- Shhh... – Liam abre os olhos depois de segurar o quadril do moreno com força, mantendo o corpo dele perto de si. – Está tudo bem.

- Não está nada bem, Liam! – Ele franze as sobrancelhas antes de espremer o rosto em preocupação.

- Você está aqui, eu estou aqui... – Liam deixa a testa encostar-se à testa de Zayn. – Eu sei que ainda temos coisas para resolver, mas... Por favor, deixe-me respirar um pouco. Só um pouquinho, Zayn.

E o moreno não sabe o que dizer. Ele abre a boca, mas as palavras morrem antes mesmo de serem pensadas. Ele se sente um peixe fora d'água com os lábios pulsando para frente e para trás. E nada lhe vem. E, de certa forma, é perfeito. Assim, as pálpebras se fecham e ele faz algo que não faz há muito tempo, ele abraça Liam. E o calor do corpo dele contra o seu é tão terapêutico, tão acolhedor e perfeito... Nada mais importa. Sim, o nirvana ainda existe.

Ugly Boy | Larry StylinsonOnde histórias criam vida. Descubra agora