Julho, 1985 - Hawkins High School
Primeira semana das férias de verão, mas nem todos os alunos vão poder aproveitar o sol quente do lado de fora, os dedos lambuzados de sorvete e o cheiro do protetor solar colando na pele antes de um dia todo na pis...
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Se Eddie Munson não tivesse faltado a aula de biologia, saberia explicar o motivo de sua maior dúvida. Por que diabos o rastro de perfume doce feminino continua em seu nariz? Como se a queridinha de Hawkins tivesse ali sentada ao lado dele naquele refeitório vazio. Mas ela já saiu há minutos.
Parece que impregnou o corredor todo, um cheiro doce, floral e sabe se lá que merda mais, ele não está acostumado a sentir perfume feminino, ah, não mesmo, porque nunca conviveu com um, não tem e nunca teve nenhuma figura feminina em sua vida. Está mais acostumado ao cheiro de cigarro nos dedos e do ar do Hideout, gasolina do carro e os ovos queimados que seu tio faz toda tarde.
Só de caminhar pelo corredor em direção a sala, o aroma agradável o persegue.
A resposta é simples, por mais que não pareça, o olfato é o sentido mais interligado ao cérebro, responsável por transformar cheios em memórias poderosas.
E é por isso que o perfume tá impregnado no nariz do nerd metaleiro escandaloso. O perfume é enjoado? Ou é bom? Deu de ombros. Sei lá, porra, por que diabos tá pensando em perfume feminino nesse caralho? A porra do tédio de verão te pegou de jeito, hein, Munson.
Mas definitivamente o cheiro é familiar para a mente caótica de Eddie. Porque ele já sentiu esse cheiro antes.
Shows de talentos. Ensino Fundamental. 4 anos atrás.
Cheiros são ligados a memórias. É por isso que pessoas com Alzheimer tendem a reconhecer cheiros mais fáceis do que rostos. O professor Jones explicou isso em alguma aula que Chrissy prestou muita atenção pois adorou saber disso. Uma aula que Eddie cabulou para poder passar a manhã toda no fliperama de Hawkins e fumar escondido do tio, e as faltas excessivas são apenas um dos motivos da extensa lista que o fez ficar preso na detenção de verão.
Ela ama cheiros, ama estar cheirosa, ama seu xampu de morango, seu gloss de tutti-frutti, ama os creminhos de margarida que carrega na típica necessaire rosa pra passar nas mãos o dia todo, e ama como sentir o cheiro de seu hidratante favorito a dá lembranças de ir a alguma festa e se lambuzar toda de creme e estar ansiosa com seu vestido favorito ou como o cheiro de pipoca de cinema a faz lembrar de seu filme favorito e as noites no cinema de Hawkins quando sua vida era agitada.
Só tem um cheiro que Chrissy Cunningham abomina. E no momento ele está impregnado em sua mente numa memória que ela certamente não quer guardar.
Fumaça de cigarro. Ela odeia o cheiro que fica no ar, nos dedos e nas roupas de quem fuma. Não entende porque as pessoas carregam a morte entre os lábios, fumar é grotesco.
A pausa para o lanche acabou. Todos voltaram para a sala. O maldito calor de julho enchendo o saco, e todos ainda mais agoniados fitando o relógio como se porra do ponteiro demorasse uma eternidade para se mover.
Até Chrissy já estava de saco cheio, o relógio ainda marcando duas da tarde e parece que ela já está ali há uma eternidade e ainda tem mais cinco horas e 4 dias inteiros pela frente. Não tinha mais o que fazer, já havia preenchido todos os relatórios que Ms.Kelley havia a dado. O tédio e ficar sentada naquela cadeira desconfortável começou a consumi-la e por um segundo se arrependeu de ter topado isso.
