Julho, 1985 - Hawkins High School
Primeira semana das férias de verão, mas nem todos os alunos vão poder aproveitar o sol quente do lado de fora, os dedos lambuzados de sorvete e o cheiro do protetor solar colando na pele antes de um dia todo na pis...
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Parte II - Eddie Munson está em Cincinnati, Ohio.
Julho, 1985
Os humanos não lembram de quando eram recém-nascidos, raramente lembram dos primeiros anos de vida, mas tem sempre um ponto de partida, é o que os cientistas chamam de primeira memória de vida. Você que tá lendo tem uma, não tem? Ou seja, a primeira lembrança consciente que uma pessoa tem, a maioria acontece entre os 3 ou 4 anos de idade, alguns lembram do primeiro aniversário ou do sorriso da mãe, ou do primeiro natal ou dos avós, ou do gosto de algum bolo de chocolate ou de algum desenho que assistia na televisão.
Eddie Munson também tem claramente a lembrança da sua primeira memória de vida, uma que ele lembra claramente até hoje e foi aos 5 anos de idade, a primeira vez que teve o coração partido, foi a primeira vez que ele sentiu o buraco no peito e mal sabia que essa sensação se tornaria tão comum em sua vida. Ele tinha 5 anos, foi na escola, no jardim de infância, e tem certeza que essa é a primeira memória de vida dele. Apresentação de natal na escola, estava cantando, com um gorrinho de papai noel, junto com todas as outras crianças, todos os pais batiam palmas e gravavam com câmeras enormes de filme toda a apresentação dos filhos, todas as crianças estavam empolgadas e felizes. E Eddie Munson olhava e olhava para todos os rostos naquela plateia, todas as cadeiras estavam preenchidas, mas nenhuma por um rosto conhecido por ele. Ele era a única criança que não tinha os pais ali. Nesse dia, deixaram ele na escola como qualquer outro dia normal, o empurram dentro do ônibus escolar, ninguém foi ver a apresentação de natal dele e ele lembra claramente de ficar sentado, sozinho, ao lado de uma professora, enquanto ela ligava lembrando aos pais que alguém precisava buscá-lo.
E foi aí que ele começou a entender que ninguém o amava. Foi aí que ele começou a entender o que é abandono.
E lembra da segunda vez em que seu coração foi partido, aos 7 anos, no dia das mães, quando chegou da escola empolgado com uma cartinha que fez para a mãe, dizendo que a amava do tamanho do mundo, e quando entregou, ela nem viu, só jogou em qualquer canto da casa.
E foi aí que ele começou a entender que a mãe não gostava dele. Ou pelo menos nunca esteve sóbria para lembrar que tinha um filho. Não tem nenhuma memória da mãe o abraçando ou sorrindo pra ele. Nada, ela é como uma estranha pra ele, e nem lembra direito do rosto dela.
E lembra da terceira vez em que teve seu coração partido, foi aos 8 anos quando os pais deram no pé, e ele nem lembra direito de como tudo isso aconteceu, um dia chegou da escola e os pais tinham sumido e nunca mais voltaram.
E foi aí que ele começou a acreditar que não é importante para ninguém, que nunca vai ser amado por alguém, que as pessoas o abandonam com facilidade porque ele não significa nada, e aprendeu isso desde criança, que é difícil ser amado por alguém. A primeira memória de vida dele é sobre ser rejeitado.
