Julho, 1985 - Hawkins High School
Primeira semana das férias de verão, mas nem todos os alunos vão poder aproveitar o sol quente do lado de fora, os dedos lambuzados de sorvete e o cheiro do protetor solar colando na pele antes de um dia todo na pis...
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Smalltown Boy do Bronski Beat é a música do verão. O tipo de pop grudento chato pra caralho que toca em todas as estações de rádio e em todas as festas de adolescentes populares idiotas, como diz Eddie Munson.
E essa é a música que toca de toda altura na festa do Stratford às 23:35 da noite, ao ponto das janelas tremerem.
E essa é a música que Chrissy Cunningham está dançando com os braços pra cima e os olhos fechados, o rosto começando a ficar suado enquanto tem um sorriso leve estampado. Liberdade. E bastante bebida também. Tem algo sobre a liberdade de uma garota enquanto dança quente de bebida como se nada no mundo pudesse a parar, como se todas as vergonhas e empecilhos fossem embora, que ela está sentindo agora. Nem aí se tem alguém olhando pra ela, nem aí se está dançando mal ou tropeçando aqui e ali pelo sapato alto enquanto pula sem medo algum, sentindo as mãos de Eden no alto, assim como as dela, dançando juntas e ouvindo o sorriso chapado de Eden se misturar com seu sorriso alcoolizado.
E essa é a música que está nos ouvidos de Eddie Munson, enquanto ele escora no balcão da cozinha com uma cerveja nas mãos, já deve ser bem a oitava cerveja que bebe na noite. Não faz ideia de onde seus amigos chapados idiotas se enfiaram depois que Riconha pulou da piscina e anda pingando água pelos cabelos e escorregando por aí.
A luz avermelhada está nos olhos dele, deixando a cabeça ainda mais lerda e chapada ao ponto que ele demora mais de trinta segundos no simples gesto de subir a cerveja, encaixar o gargalo na boca molhada, beber, o gole descer enquanto o pomo de adão é flexionado no pescoço masculino, e então abaixar a mão de novo.
Eddie limpou a mão cheia de anéis na calça jeans preta, não sabe se tá molhada de suor pelo calor de estar ali ou se pela cerveja trincando gelo que derrete entre os dedos.
Deu outro gole. Engoliu em seco ou talvez tenha engolido a cerveja.
Coçou o rosto.
Luz vermelha piscando. Sabe aquela luz de balada que pisca e deixa tudo lento e os movimentos de todos parecem sumir e aparecer em câmera lenta como se piscasse? Ok, agora imaginem isso acontecendo na mente de uma pessoa chapada.
Ele não consegue nem piscar direito. A batida da música estourando nos tímpanos. Confuso porque tem uma centena de pessoas espremidas naquela sala se mexendo e piscando embaixo das luzes que deixa cada levantar de braço em câmera lenta.
Chapado. A mente é detalhista demais. Ele odeia essas brisas de quando a verdinha sobe na cabeça porque ele sempre fica observando as coisas mais aleatórias possíveis, os olhos sempre ficam fixos e a mente viaja. Há algumas horas atrás a mente chapada o fez ficar viciado em contar cada uma das manchas de mofo no teto, depois o fez contar cada uma das linhas no chão, depois o fez contar quantos piercings Spencer tem na cara, depois o fez ficar obcecado por um par de pernas com meia-calça de uma garota que ele nunca mais viu, depois o fez contar quantas vezes a água de piscina se mexia em pequenas ondas a cada vez que algum bêbado idiota se jogava do telhado até ela, depois quantos gelos tinha dentro do frigobar.
