Quarto dia: dualidade, armadilhas e pudim de chocolate

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Uma única pergunta passou na mente de Eddie Munson na manhã de quinta-feira, no exato segundo em que ele desceu do carro e chegou adiantado no seu penúltimo dia de detenção, tão adiantado que teve que esperar escorado no portão enquanto fuma um cigarro, o zelador chegar com as chaves.

Adiantado porque a mente caótica não o deixou pregar o olho noite passada depois que acordou do sonho.

Uma única pergunta passou na mente perturbada, com pensamentos confusos que ele não sabe de onde vem, com pensamentos que o assustam, que o deixam nervoso, com pensamentos atípicos, pensamentos que ele faz de tudo para controlar, mas não consegue, e ele precisa apertar os olhos, chacoalhar a cabeça e gritar consigo mesmo na tentativa de parar de pensar.

Pensamentos que o consumiram a madrugada toda ao ponto de o fazer suar como se estivesse num estado febril e doente.

Ele se sente doente.

Eddie Munson está apavorado com o teor dos pensamentos, apavorado porque não consegue parar de pensar no sonho. Apavorado porque o sonho fica repassando na mente dele como uma fita cassete quebrada rebobinando a cada dois segundos. Apavorado porque sente um gelo estranho na altura do estômago.

E a última vez que sentiu esse gelo foi há 4 anos atrás quando tinha flores azuis na mão. E sabe bem o desfecho disso.

É como se o subconsciente tivesse ganhado vida e domínio em todos os pensamentos dele, até mesmo aqueles mais escondidos e guardados que ele finge que não pensa. E ele não tem mais controle algum sobre a própria mente.

Não conseguiu dormir e ficou deitado olhando para o teto com olhos perdidos. E só havia outro lugar para onde ele olhava fora o teto: o relógio. Como se esperasse ansiosamente a hora do sol nascer e ele poder sair de casa.

Sentiu aquela ansiedade estranha com um frio no estômago como se quisesse muito ver algo, como se estivesse ansioso para viver logo o dia, para levantar da cama, uma ansiedade que ele não sabe nomear mas pode comparar, e lembrou de quando era criança e ficava ansioso para o natal chegar logo para receber presentes, ou quando você é criança e vai dormir um dia antes de um passeio da escola que quer muito ir e não prega o olho de tanta ansiedade para que o dia chegue logo.

Por isso, quando o primeiro sinal de raio de sol nascendo surgiu entre as janelas do trailer, Eddie pulou da cama.

E hoje de manhã os pensamentos formularam uma pergunta que o assustou como nenhuma outra, uma pergunta que o apavorou, uma pergunta que ele nem sabe como chegou, uma pergunta que ele nunca imaginou que se passaria em sua cabeça, uma pergunta que o fez tremer os dedos enquanto segura o cigarro, fez o coração disparar ao ponto do peito doer e ele achar que está tendo um ataque cardíaco precoce. Culpou o cigarro, mas sabe que não é.

Se morresse do coração agora, sabe bem de quem seria a culpa. Estaria lá em seu obituário, causa da morte: Chrissy Cunningham.

Uma pergunta que surgiu no exato segundo em que ele levantou da cama, tomou banho, se vestiu e foi até a mesinha de cabeceira pegar o isqueiro...e foi então que ele viu, e a pergunta surgiu...viu lá um rastro dela, um pedaço dela, ela, aquela que ele tenta não pensar...o gloss da garota jogado nas coisas dele.

Don't You Forget About Me - Eddie Munson | finalizadaOnde histórias criam vida. Descubra agora