Capítulo 2 A Provação

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          Vou para casa, o peito cada vez mais apertado desde que ele me mandou sua última mensagem mais de 24 horas já se passaram, muita coisa já se passou pela minha cabeça, será que aconteceu alguma coisa com ele? Acho que não, pois vejo que ele viu minhas mensagens, viu agora a última que mandei. Será que seu celular foi roubado e alguém está vendo as mensagens, mas se tivesse sido roubado Dono já teria bloqueado e sei que o celular dele tem bloqueio de tela, então não deve ser isso, como essas dúvidas e incertezas aumentam minha angustia, cada vez mais fico pensando em meu pesadelo.

          E agora mais um pensamento passou e se aconteceu um desses sequestros, em que a pessoa é levada para que os sequestradores tenham acesso às contas bancárias, a todos os dados e com isso possam estar fazendo transações, e isso explicaria o fato de minhas mensagens estarem sendo lidas mas não respondidas, será que Dono está vendo minhas mensagens sem poder responder? Será que o machucaram, espancaram para ele entregar as senhas? Agora sim estou completamente apavorada.

          Depois que tive esses pensamentos quase não consegui me concentrar em nada, o restante do dia passou muito arrastado, não vejo a hora de tudo acabar poder ir embora e me trancar em meu ninho.

          Chego à minha casa o silêncio ao entrar me oprime, ligo a televisão não sei que canal, não me interesso no que esteja passando eu quero só ouvir algum som, queria ouvir o som da mensagem chegando, Dono dizendo minha menina. Troco de roupa, tiro tudo o que vesti para esperar seu contato. Visto o roupão, sento no sofá espero, espero, espero e meu coração está cada vez mais apertado, aperto as mãos em desespero, os olhos enchem d'água, embaçam minha visão, as lágrimas escorrem por meu rosto e pingam em meu colo.

          O som da mensagem entrando me tira desse estado de opressão interna, pego o telefone de um pulo, deixo cair no chão, capa para um lado, bateria para o outro, estabanada e assustada pego cada peça e monto agora estou ainda mais assustada e angustiada, e se quebrou? E se foi ele? Como responder se tiver quebrado? Acabo de montar, aperto o botão de ligar, espero, parecem horas os segundos que demoram para que a tela comece  a acender, sorrio assustada, clico no ícone das mensagens, é dele sinto o coração disparar ao mesmo tempo que lágrimas rolam mais intensamente, é dele, é dele. Nervosa eu começo a ler, meu sorriso começa a sumir de meu rosto. Não poderia ser mais formal o que leio:

"Elvira Pena,

Temos algo a ser resolvido, estás entrando em férias, para que resolvamos a situação criada por você, eu quero que durante 15 dias de suas férias você passe por uma provação. Só assim definiremos o nosso futuro.

Aguardo como resposta sua apenas um sim ou não.

André."

          Termino de ler sem saber o que fazer, ele me chama por meu nome baunilha, não me chamou de menina, ou das outras formas que ele está acostumado a me chamar, para ser mais formal só se ele começasse com Prezada, ele nunca deixou de me mandar um beijo em suas mensagens e ainda por cima terminar com seu nome, sempre foi com um: Beijo de seu Dono.

          Desabo no sofá, o que ele quer?  Como responder sim ou não sem saber sobre o que é, fala de provação, que provação? Não estou passando por uma? Seu silêncio não é uma provação? Tremendo clico em responder, meus lábios tremem, soluço só posso responder Sim, não tem outra resposta possível. 

          Escrevo sim meu Dono, minha resposta é sim. Quando vou enviar me lembro de suas palavras "Aguardo como resposta sua apenas um sim ou não" apago tudo, escrevo Sim, envio. Fico olhando aparecer o sinal de enviado, os dois tracinhos escuros aparecem, vejo que a mensagem foi e agora ficaram azuis, ele leu.

          O som de mensagem entrando, outra mensagem dele, formal e seca.

          "Amanhã um portador levará suas instruções, leias com cuidado e atenção e a seguir você pode decidir se vai ou não segui-las.

Boa noite."

          Não sei o que era pior o silêncio dele ou a sua frieza e formalidade em suas mensagens, quero responder que aceito que quero o que ele desejar, mas não me foi permitida essa ação, procuro um canal qualquer, que tenha algo banal, minha cabeça pensa apenas na sua primeira mensagem, usar os 15 dias de suas férias para uma provação, então penso, como será isso? Onde será isso? Se for fora daqui preciso estar preparada, preparar uma mala, o que levar o que fazer? Preciso estar pronta para tudo o que ele estiver pensando e querendo, levanto disposta saio correndo para o quarto, pego uma mala, começo a escolher o que levar, eu encho a mala, não, não está nada certo, esvazio, uma bagunça sobre a cama, pensa mulher, tenta se organizar arruma pilhas e pensa no que levar. Escolha o que sabes que ele gosta, seja simples, sorrio ao perceber que estou ensinando e orientando a mim mesma.

          Mas no meio de toda a arrumação, que não consigo completar, me vem outro terrível pensamento, e se não é meu Dono respondendo. Será que são os sequestradores dele? Acabaram me descobrindo e estão me usando para chantagear meu Dono? Volto a ler as mensagens quero buscar algo que me mostre que pode não ser dele, mas ele me chama pelo nome baunilha e no contato dele sei que não é meu nome baunilha e sim meu apelido BDSM, não eles não saberiam meu nome. Mas estou em dúvida.

          Já é madrugada alta, consigo fazer uma mala, lembro-me da caixa de acessórios, em um determinado local do armário eu tenho outra caixa, essa é coberta com veludo azul escuro e nela um fecho com um pequeno cadeado, pego-a, abro-a, dentro brilha minha coleira, toda cromada com as letras de meu apelido de submissa e as iniciais de meu Dono formando o nome que ganhei ao oferecer a minha submissão e passar a ser dele, o forro da coleira na cor escolhida por ele, o azul que tanto o agrada, acaricio a coleira limpo uma mancha imaginária, quero colocá-la no pescoço, dormir encoleirada, mas não posso e só me resta fechar a caixa, a coloco sobre a mala feita.

           Quando termino tudo lembro-me de que não comi nada, mas não tenho fome, não tenho sede, mas sei é melhor estar preparada e comer algo, vou à cozinha preparo um sanduíche, mastigo, engulo e  de volta ao quarto meus olhos se fixam na caixa com minha coleira, vou para a cama apago a luz eu preciso dormir, os pensamentos percorrem minha cabeça, tento entender e pensar no que possa ser. O que Dono estará imaginando ou querendo? O que Dono está fazendo? Com esses pensamentos tento dormir. Fecho os olhos.

           Ouço nitidamente a voz de meu Dono me ordenando que lhe devolva a coleira. Seu tom é enérgico e ameaçador. Devolva-me a coleira agora! Você não está me ouvindo? Já não lhe disse que eu não quero uma submissa desleixada que não sabe nem cuidar de uma coleira virtual? Como vai querer ter essa coleira real que fiz especialmente para alguém a quem achei ser especial? Mas não ouço só a voz dele nesse tom ameaçador e imperativo, várias outras vozes, muitas dizem palavras inaudíveis, um burburinho toma conta de minha cabeça, consigo ouvir nitidamente uma voz feminina dizendo que eu sou uma vergonha, que eu não mereço ser chamada como sou, pelo menos uma vez obedeça, tenha um mínimo de compostura como submissa.

          Quando dou por mim já estou sentada na cama, estou com minhas mãos em meu pescoço, estou tentando proteger a minha coleira, tentando impedir que a tirem de mim. E mais uma vez estou dizendo, para o quarto vazio, que começa a ter os primeiros raios do amanhecer entrando por uma fresta na cortina, não tive culpa Dono, e novamente lá está nitidamente de minha mente a lembrança que eu esqueci sim. Me levanto olho ao redor procurando de onde estão vindo as vozes, procuro pela figura de meu Dono, não tem ninguém o quarto está vazio, sinto o suor escorrer pelo meu corpo, foi um pesadelo, mais um, e esse foi desesperadoramente real.

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