Isis não o permitia ajudar em nada, também não pedia que ele fizesse algo, apenas as crianças, às vezes, pediam a ajuda dele. Com isso, ele passava boa parte das manhãs sentado na cadeira, observando tudo. Observando ela. Mas não de uma forma ruim ou constrangedora, mesmo que por vezes ela se sentisse desconfortável com os olhares dele, porém com o passar dos dias, foi fingindo não se importar. Ele percebera que durante os anos que se passaram, ela havia mudado muito. Estava mais segura de si, mais falante, mais sorridente, embora nenhum dos sorrisos fossem dedicados a ele, que entendia perfeitamente, mesmo que lá no fundo algo gritasse e ansiasse por isso. Pelo momento que ela, quem sabe, pudesse sorrir para ele novamente. Ele sabia ser impossível depois de tudo, mas alguma esperança burra esmurrava dentro de si, todas as vezes que ele a via sorrir.
Tão linda.
Como ele fora idiota, burro, um crápula que não merecia ter o perdão dela. Como ele deixou de ver o quão especial era sua esposa? Era bem como dizia o ditado: Só damos valor quando perdemos.
Ian fora retirado de seus pensamentos no momento que percebeu que Isis escorregou da escada que estava e começara a cair. Em questão de segundos, ele a estava segurando nos braços. Aquele tinha sido o único momento em que ela, de fato, o olhou nos olhos. Tantas coisas, haviam tantas coisas naquele olhar. Ele precisou de todo autocontrole para não abraçá-la, para não beijá-la. Ah, os lábios, tão macios, tão delicados, tão maravilhosamente deliciosos. Quantas vezes ele pode tocá-los, quantas vezes ele pode saboreá-los, e ainda assim, não soube dar valor.
Estava novamente perdido em seus pensamentos quando ela agradeceu e saltou de seu colo, ficando de pé, se afastando rapidamente, o deixando sentindo um vazio dolorosamente insuportável. Com o olhar fixo no chão a sua frente e ouviu Tessio dizer:
— Está tudo bem, tio Ian?
Rapidamente ela se virou para o garoto maneando positivamente a cabeça, mas sem dizer uma palavra. Em seguida voltou o olhar para Isis, que já estava em sua mesa, separando alguns lápis de cor que as crianças precisariam para a próxima tarefa.
A sala estava em silencio naquele momento. As crianças concentradas em seus desenhos com Isis os auxiliando, enquanto Ian permanecia em sua cadeira. De relance observou os desenhos da fileira ao seu lado. Tessio desenhava uma espécie de dragão, que segundo o menino, viu em algum livro de fantasia infantil. Kira desenhava uma casa com um belo jardim, a casa talvez estivesse para mal-assombrada, pois a menina não acertou nenhuma linha reta, mas o jardim era perfeito, com roseiras e outras espécies de flores impecavelmente desenhadas.
— Quer desenhar também, tio — foi Tessio que perguntou, recebendo um olhar confuso do ruivo ao seu lado. — Toma, folha e lápis. — O menino havia colocado os itens na mesa de Ian, que acompanhou com o olhar o movimento.
Será que ele tinha o direito de pegar em um lápis para desenhar novamente? Imagens de um passado distante, muito distante, veio a sua mente. Algo que por muito anos ele se entristecia por não poder mais fazer.
Suas mãos estavam tremulas quando pegou o lápis, a imagem delas sendo açoitadas por desenhar apareceu de repente, o fazendo soltar o lápis e esconder as mãos em baixo dos braços, agora, cruzados.
— Vai me dizer que não sabe desenhar nada. Pode deixar que eu te ensino! — disse o menininho orgulhoso. — Aqui, isso é uma casa, isso é... — O menino continuou desenhando e explicando, enquanto Ian o observava inicialmente, sem reação. — Entendeu, tio? — Os olhinhos dele brilhavam e isso fez com que Ian relaxasse um pouco, e até mesmo, sorrisse para o menino, que devolveu o mais doce dos sorrisos que ele já vira.
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A Corte dos segredos (EM REVISÃO)
FanfictionHá segredos que de tão bem guardados, machucam. E se de repente Helion aparecesse com uma filha, da qual escondeu por séculos? E se essa filha tivesse alguns segredos que incluem o príncipe de uma certa Corte? E se a alma de Lucien tivesse sido n...