Q é de Quieta.

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Enquanto Lalisa Manoban não tinha medo de expressar suas opiniões, argumentar em retorno, e ser efusiva em geral, sua melhor amiga era o total e completo oposto disso. Mesmo se a opinião dela fosse válida e seu argumento fosse verdadeiro, ela sempre era tímida, quieta e reservada.

Jennie Kim era o tipo de pessoa que sofria em silêncio, sempre foi, e Lisa podia facilmente apostar que ela sempre seria assim.

Quando eram mais novas, tiveram diversas ocasiões na qual ela ia visitá-la em sua casa, e a encontrava debaixo de uma árvore no jardim, apenas sentada lá com seus braços envolvendo os joelhos, uma expressão em branco no seu rosto. E sempre que Lisa sentava-se ao lado dela, ela deitava a cabeça no ombro da mais velha, mas ainda assim permanecia calada, nem ao menos oferecendo um olá para ela. Lisa jamais a forçava a falar apesar de ter o desejo de fazer isso, sempre queria saber o que Jennie estava pensando. Jamais ela quis tanto saber o que se passava na cabeça de alguém quanto queria saber o que se passava na de Jennie. Ela sempre parecia absorta e pensativa, como se estivesse tentando desvendar uma charada em sua mente. Isso sempre a frustrava imensamente, porque ela nunca lhe contava qual era o problema até muito tempo depois.

Eventualmente Jennie lhe contaria o que estava errado, se era algum problema pessoal, ou algo tão mundano quanto o fato de ela não ter um par para o baile da escola.

Tinha vezes que Lisa iria visitar a casa dos Kim e perguntava se Jennie estava em casa, e então o pai chamava por ela em voz alta, pois ele não sabia se ela estava lá. Quando Jennie respondia de volta e descia para a sala de estar para perguntar o que ele queria, ele sempre comentava sobre como jamais seria capaz de saber se um dia ela estivesse morta em seu quarto, pelo fato de ela ser tão quieta. Ela simplesmente se trancava no quarto o dia todo e ficava ou lendo, ou escrevendo. Lisa sabia disso. Inúmeras vezes ela já havia entrado no quarto dela para acordá-la porque seu pai pensou que ela estivesse dormindo, e acabava por encontrá-la jogada na cama com um livro na mão, perfeitamente compenetrada na leitura.

Lisa amava aquilo nela, algumas vezes. Ela adorava o fato de que Jennie não preenchia as conversas delas com bate-papo inútil. Lisa conhecera tantas mulheres que falariam sobre as coisas mais frívolas possíveis apenas para manter a conversação, mas Jennie nunca fez isso. Ela sabia o momento em que o silêncio era uma coisa boa.

Porém, certas vezes Lisa detestava essa reticência de Jennie.

Uma dessas ocasiões foi bem na noite seguinte à festa de halloween da casa de Lisa, quando Jimin atacou Jennie. Ela andava de um lado a outro quase como um zumbi. Seus olhos estavam fundos e seu rosto pálido; ela parecia que não dormia há dias. Ela andava por aí com os braços envolvidos apertadamente em torno de seu corpo, apenas um suéter a cobrindo no frio ar de novembro. Era como se ela quisesse sentir o frio cortante contra si própria. Lisa observou como ela andava pela escola mecanicamente, como se alguém estivesse controlando seus movimentos, e quando ela tentava falar com ela na sala de aula, Jennie simplesmente olhava para ela e apenas dava de ombros ou assentia a cabeça.

Era uma tortura olhar para ela.

Quando Lisa foi visitá-la numa sexta-feira, quase uma semana após a festa, o Chefe Kim a fez parar em seu caminho de saída, para perguntar se Lisa sabia o que tinha de errado com Jennie. Lisa meneou a cabeça negativamente, pois ela sinceramente não fazia a menor ideia do que estava acontecendo com a amiga. Quando Lisa sentou-se ao lado dela lá em cima, ela permanecera estoica. Ela não proferiu uma palavra sequer a ele. Jennie permaneceu inalterada pela presença dela.

Lisa jamais se sentiu tão perdida em toda sua vida.

Aparentemente, não havia nada que ela pudesse fazer. Lisa lhe contava uma piada, e a provocava como sempre fizera, e mesmo assim ela permanecia fechada. Foi mais tarde nessa mesma noite, às quatro da manhã, que ela ligou para Lisa. Ela havia ganhado de aniversário uma linha privada em seu quarto alguns meses antes, e nunca havia ficado mais feliz pelo presente até aquele momento. Jennie estava chorando, soluçando através do fone. Ela quase podia ouvir o quão fortemente o corpo dela estava tremendo pela maneira como a voz oscilava enquanto ela falava. Jennie finalmente desabou e contou-lhe o que estava se passando. Durante uma hora, ela descreveu o vazio que estava sentindo, e os pesadelos terríveis que ela estava tendo todas as noites.

ALPHABET WERKENDS - JENLISAOnde histórias criam vida. Descubra agora