X é para o Fim.

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Lisa perambulou pela vizinhança pelo que pareceu ser um período interminável, antes de finalmente decidir fazer o caminho de volta para casa. Ela achou ridículo o fato de sentir-se nervosa por estar voltando, mas depois da briga com Jen, ela estava genuinamente apreensiva por tê-la confrontado.

Enquanto arrastava seus passos pelas ruas de Seattle, ela continuamente relembrava a discussão em sua mente. Os sons que seus tênis faziam ao friccionarem contra o cimento da calçada criavam uma trilha sonora devastadora; ela sequer dava-se ao trabalho de erguer os pés ao caminhar, optando por apenas dragá-los sobre o chão úmido num gesto de extrema derrota.

As duas haviam exacerbado completamente as proporções da situação. Lisa nem ao menos pôde explicar a proposta inteira, e para ser honesta, fazer isso era algo que ela realmente não queria. Lisa sabia que uma vez que Jennie ouvisse as condições, ela lhe diria para aceitar a promoção, e essa era absolutamente a última coisa que ela desejava ouvir.

Era lamentável, ela sabia; céus, ela tinha certeza que Jen iria achar o mesmo. Ela sabia que poderia mais tarde arrepender-se da decisão, porém perder Jen simplesmente não era uma opção. Até mesmo a mera ideia de perdê-la já era terrível.

Não era apenas o medo de perder Jennie como namorada. Era a ideia de perdê-la como uma amiga que a assustava mais. Por mais estranho que soasse - até para ela -, a amizade dela lhe significava o mundo. Sim, elas agora eram um casal, mas por trás de tal título, elas ainda eram Lisa e Jennie, as melhores amigas há vinte e tantos anos, e essa era a parte do relacionamento delas que Lisa tinha mais receio de perder.

Para Lisa, Jennie era a única pessoa a quem ela podia confiar suas mais profundas e obscuras aspirações, segredos, e até mesmo desejos. Não havia ninguém no mundo em quem ela confiasse ou acreditasse mais do que ela.

Sempre tinha sido desse jeito, e era assim que Lisa pretendia permanecer. Ela sabia que não deveria estar preocupada, sabia que ela a amava tanto quanto ela a amava, mas ter ouvido Jennie questionar tudo o que as uniu fora um tremendo golpe a sua alma. Ela queria acreditar que o que ela disse não passava de um ato de intimidação e que era pelo bem dela, mas Lisa não podia escapar daquela sensação de vazio no peito quando Jen disse que tudo havia sido um erro. Parecia que ela havia enfiado a mão em seu peito e puxado seu coração para fora; e ela assistiu aquilo durante todo o tempo, hipnotizado pela raiva nos olhos de Jen enquanto ela pisoteava o coração da loira.

Em toda sua vida, ela jamais teve uma ligação tão forte com alguém, mas isso realmente não a surpreendia; elas sempre foram muito próximas. Jen sempre esteve por perto quando ela precisava e vice-versa, mas aquelas palavras haviam a ferido profundamente.

Vagarosamente, Lisa dobrou a esquina e voltou para o seu condomínio. Haviam se passado quase duas horas desde que ela saíra. A ascensão do elevador passou completamente despercebida. Num piscar de olhos, ela já estava parada em frente à porta de casa com suas chaves na mão. Lisa encarou o número do apartamento talhado em bronze, que a luz florescente do corredor colocava em evidência.

Sua chave estava a postos, mas ela ainda tinha que virá-la na fechadura, já que, ao invés disso, havia escolhido fitar o número de pintura dourada.

Quando ela encontrara esse apartamento para morar, logo após a formatura da faculdade, Lisa imediatamente soube que iria querer dividi-lo com alguém; Jen tinha sido sua primeira e única escolha. Embora seus pais tivessem ficado um tanto apreensivos sobre suas filhas morarem juntas, eles confiavam nas duas, já que Lisa e Jennie jamais lhes deram razões para duvidarem que a amizade delas fosse algo além disso.

Originalmente, o número pregado na porta era feito de metal e a tinta preta que o cobria estava craquelada, de modo que era possível ver a base de prata original. Tinha sido ideia de Jen mudar o número para o atual, que era de um dourado espalhafatoso; ela explicara que este o lembrava de algo relacionado à realeza e que o apartamento deveria ser o castelo delas. Lisa havia rido da bobeira daquilo tudo, mas ela concordou em trocar, mesmo assim.

ALPHABET WERKENDS - JENLISAOnde histórias criam vida. Descubra agora