K é de Karma.

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Pedras e estacas podem quebrar os meus ossos, mas palavras jamais irão me ferir. Lisa sequer conseguia começar a contar quantas vezes estas palavras haviam saído de sua boca ao longo de sua vida, nem quantas vezes Jennie as tinha dito. Para cada pequeno insulto que ela e Jennie despejavam uma sobre a outra - como quando Lisa caçoara do pijama engraçado dela, ou quando Lisa estava com seu sorriso metálico -, as palavras eram rapidamente gritadas, esbravejadas, proferidas, ou o que fosse cabível, mas logo em seguida elas começariam a rir da situação.

Insultos eram sempre jogados para lá e para cá quando Lisa e Jennie eram menores. Não era de se estranhar quando uma chamava a outra de — mané— ou quando se xingavam simultaneamente, berrando sobre como a outra era — a mais idiota do universo— e coisas do mesmo gênero. Porém quando eram crianças, as palavras jamais tinham muito peso, eram apenas pequenos xingamentos triviais, e mesmo quando passavam dos limites e tornavam-se muito pessoais, tais insultos continuavam sendo apenas atritos de implicância infantis.

Quando pequenas, Jisoo sempre era aquela que levava os insultos longe demais. No ensino fundamental, ela adorava falar besteiras, como quando espalhou a história de que Lisa ainda fazia xixi na cama aos dez anos, mesmo isso sendo mentira. Quando era a vez de implicar com Jennie, Jisoo sempre pegava no pé por Jennie não interagir com outras crianças, chegando até mesmo a chamá-la de — excluída e antissocial — mesmo que aos sete anos suas palavras tivessem sido "Jennie tem pereba, e é por isso que ninguém fala com ela."

Ao ficarem mais velhos, Jisoo começou a implicar com elas por causa da relação próxima que as duas tinham. Ela fazia comentários chulos, geralmente ganhando olhares tortos dos outros colegas, pois afinal todos sabiam que Lisa e Jennie eram apenas amigas. Os amigos riam e descartavam as insinuações, sabendo muito bem que o boato de Jisoo, sobre Lisa e Jennie estarem afogando o ganso , era mais falso do que os peitos de uma estrela pornô.

Apesar disso, sempre existiu uma pessoa que achava que as duas terminariam juntos: Irene Bae. Inúmeras vezes, ela fizera comentários sobre como elas foram feitos uma para a outra, e como elas tinham sido unidos pelo destino, e que estava tudo escrito nas estrelas. Não importava se fosse duas meninas, ela sempre dizia que Lisa e Jennie foram feitas uma para a outra. Ela comentava sobre como elas, durante uma conversa, conseguiam terminar as frases uma da outra, pois sabiam exatamente o que a outra estava pensando só pelo olhar. Quando as duas batiam o pé e argumentavam com ela, explicando que todos os melhores amigos eram capazes disso, Irene balançava a cabeça, rolava os olhos, e dizia que elas estavam apenas lutando contra a roda da fortuna.

Quando Irene ouviu a história de como elas haviam se conhecido no supermercado, ela gargalhou e ainda gritou: "Eu disse! É o destino!" . Lisa jamais se esqueceu da expressão no rosto de Irene enquanto ela falava: "Isso é o destino, é o karma de vocês. Esse tipo de coisa não acontece por acaso. Vocês estão predestinadas a ficarem juntas, para sempre."

Tais palavras volta e meia ecoavam na mente de Lisa, mas ela nunca tinha dado muita importância a elas até agora, enquanto via Jennie chorando do outro lado do quarto.

Precisamos conversar.

Lisa ficou repetindo as duas palavras em sua cabeça ao cambalear de volta para a cama. Em toda sua vida, ela nunca ouvira duas palavras que soassem tão intimidantes e ameaçadoras. Em sua mente, ela as ouvia como uma sinfonia assustadora, com violinos ensurdecedores e um órgão poderoso, enquanto via Jennie lenta e timidamente caminhando para sentar-se ao lado dela.

Precisamos conversar sobre nós duas.

Sua mente estava a mil por hora ao sentar-se no colchão macio. Lisa nem sabia como começar a avaliar todas as possibilidades que a conversa prometia, nem as direções que poderia tomar, e o que seria dito. Ela imaginava duas coisas apenas, e nenhuma delas era boa. Nenhuma delas envolvia, nem remotamente, uma conclusão feliz. O fim, era tudo que Lisa conseguia pensar. Isso é o fim, ela ficava pensando. Eu a perdi para sempre.

ALPHABET WERKENDS - JENLISAOnde histórias criam vida. Descubra agora