Seis a menos, vinte por vir.

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Maldormido e fatigante seriam as melhores palavras para descrever o sono de Jennie na noite anterior. Ela não conseguia desligar a mente. Eventualmente ela decidiu ficar acordada de uma vez, e depois de algumas horas, ela enxergou o sol infiltrando-se pelas cortinas da janela do quarto antes de voltar a olhar para Lisa, como ela estivera fazendo esse tempo todo. Ela o observou enquanto ela dormia profundamente ao lado dela, seu peito subindo e descendo estavelmente com cada respiração que ela dava. Quando dormia, Lisa ficava bastante parecido com a criança que um dia ela foi, com suas mechas cor douradas bagunçadas espalhadas desorganizadamente sobre seu travesseiro, seus lábios virados para cima em um biquinho que ocasionalmente se erguiam para se transformar em um sorriso e que depois voltariam ao biquinho.

Jennie não tinha outra opção a não ser admirá-la. Lisa era realmente bonita em todos os sentidos da palavra - com sua silhueta alta, em forma, e bem estruturada, seu cabelo lindo com ondulações perfeitas nas pontas, e um rosto que as mulheres e homens invejavam. Ela era de uma beleza a qual Jennie geralmente se referia como uma beleza — fora desse mundo — . Lisa possuía o tipo de beleza que você sabia que você não era nem sequer digno de estar olhando para a pessoa; era quase a aparência de uma deusa. O tipo de beleza que você lia em livros, mas jamais pensava que existisse na vida real. Havia quase uma aura de grandiosidade que Lisa incorporava, e sempre houve, mesmo quando elas eram crianças.

Foi no primeiro dia da segunda metade do ensino fundamental - o sexto ano - que Jennie realmente reparou nisso pela primeira vez. No momento em que as duas foram deixados na escola pela mãe de Lisa, havia algo no andar de Lisa que estava diferente de como Jennie lembrava, ou que talvez ela jamais tenha reparado mesmo. Ela percebeu esse fato durante a caminhada pelo estacionamento, ao ver os olhares das meninas - algumas delas mais velhas; até mesmo os garotos encaravam os passos confiantes de Lisa. Havia um magnetismo que radiava da jovem e que ainda existia até hoje. Seria de se pensar que ter tamanho poder sobre as pessoas teria feito de Lisa uma arrogante, uma completa imbecil, mas não. Ela continuou tão humilde, gentil, e sincera quanto era no tempo em que disse que — meninas bonitas não deviam chorar— para Jennie.

Mesmo antes de realmente conhecer Jennie, Lisa estava lá para apoiá-la.

Lisa sempre esteve presente para ela. Era até difícil para Jennie pensar em uma ocasião sequer que Lisa não estivesse lá ao seu lado. Ela se esforçou na semana anterior para tentar encontrar alguma vez, algum evento, algum momento devastadoramente embaraçoso em que Lisa não estivesse presente para rir sobre o ocorrido, para confortá-la ou para acalmá-la. Ela ficara sentada perto de sua janela por horas, e não conseguiu encontrar nem uma lembrança que não estivesse relacionada a Lisa de alguma forma, mesmo que fosse apenas uma breve menção do nome dela a um de seus colegas de faculdade. E após quase duas horas sentada em silêncio, ela finalmente conseguiu se lembrar de uma única ocasião em que ela não estivera presente - mas ainda assim, o tal acontecimento terminou em Lisa vindo a seu encontro depois de descobrir o que se passava.

Aconteceu no dia anterior ao aniversário de treze anos de Lisa. Ela não tinha ido para a aula porque aquela sexta-feira era o único dia que seu pai teria possibilidade de celebrar o aniversário com ela. David tinha sido chamado para fazer plantão no hospital no sábado e domingo, e se ele não pudesse estar presente para comemorar os aniversários dos filhos, ele sempre encontrava algum tipo de compromisso para compensar. Não tinha sido a primeira vez que Lisa faltara à escola, mas Jennie nunca antes teve que lidar com esse tipo de humilhação sem ela: durante o almoço naquele dia, em frente a todas as turmas do sétimo e oitavo ano, Jennie tropeçou e caiu de cara no chão no meio do refeitório, a pizza que ela tinha comprado criando em sua camiseta um alvo para a ridicularização pelo resto do dia.

Então, na manhã seguinte quando seu pai entrou em seu quarto e a chamou para acordar e se aprontar para a festa de Lisa, ela fingiu que estava doente. Ela pediu para seu pai, implorou mesmo, para que ele ligasse para mãe de Lisa e falasse que ela não estava se sentindo bem e que não poderia ir. E mesmo ele não acreditando em uma só palavra das desculpas dela, ele ligou para a casa dos Manoban, sem nem se dar ao trabalho de perguntar o motivo de Jennie não querer ir. Essa era uma das coisas que ela amava sobre seu pai, o fato de que ele não ficava pegando no pé dela.

ALPHABET WERKENDS - JENLISAOnde histórias criam vida. Descubra agora