M é de Meu Momento.

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O percurso de ida para o trabalho naquela manhã foi o mais depressivo que Jennie já tivera. O locutor da rádio tocava uma música triste atrás da outra durante todo o programa sem comerciais. Ela não aguentava mais ouvir sobre o coração partido de outra pessoa quando o dela parecia estar quebrado em milhares de pedaços. E, no entanto, pensou Jennie, como o coração dela poderia estar partido se não havia nada entre ela e Lisa? Quando Jennie estacionou na garagem dos funcionários, havia um nó que doía em sua garganta, e a necessidade de chorar era palpável.

Maldito rádio. Maldito Lionel Richie! Ela pensou, tentando engolir aquela sensação de aperto no peito - mas inutilmente.

Enquanto subia no elevador, ela teve a sorte de estar sozinha, então permitiu que suas emoções corressem livremente. As poucas lágrimas que ela deixou escapar foram suficientes para aliviar um pouco a tristeza, pelo menos por enquanto.

Jennie chegou ao andar de sua empresa com dois minutos livres para matar antes da reunião de seu departamento. Ela estava absolutamente sem vontade nenhuma de ir à reunião naquele dia. Era a última coisa que ela queria. Tudo o que ela desejava agora era curtir sua fossa. Cada parte de seu ser lhe dizia para se trancar em seu escritório, e mandar todo mundo ir se ferrar. Ela suprimiu esse impulso, porém, e desceu para se juntar a todos na sala de conferência.

A reunião correu num ritmo lento. Jennie normalmente era uma participante ativa na discussões em questão, sempre jogando suas ideias e informando seus colegas sobre os manuscritos que ela estava lendo e analisando no momento. Entretanto, hoje ela permanecera calada, o que atraiu olhares preocupados e alguns quase ressentidos daquelas companheiros que dependiam dela para terem alguma voz ativa nas reuniões.

Com o término da reunião, ela pediu licença a todos os presentes e lentamente se encaminhou ao seu escritório. Ela sabia que os olhos dos colegas de trabalho estavam grudados em suas costas enquanto ela praticamente arrastava os pés pelo carpete do corredor.

Arrastar os pés pelo carpete provou ser um ato falho também. Assim que pôs a mão na maçaneta de sua porta, a estática em decorrência do atrito lhe provocou um choque, fazendo Jennie soltar um xingamento alto. Seus companheiros ficaram ainda mais surpresos, já que elas nunca tinham ouvido Jennie reagir de tal maneira.

Todo mundo a deixou quieta em seu canto, pelo resto do dia; a recepcionista sequer tentou avisá-la sobre as ligações que Jennie recebia. Ela simplesmente passou-as diretamente para a secretária eletrônica de Jennie. Em todas as vezes ela ouviu o bip em seu telefone, porém sua mente não registrava nada, ela só tinha pensamentos para uma coisa. Jennie passou a maior parte do dia apenas olhando pela janela de sua sala, seus olhos focados no topo de bronze de um prédio a algumas quadras distantes. As gárgulas medonhas que ornavam as quinas nem a amedrontaram dessa vez, mesmo com as porções de nuvens que serpenteavam entre elas.

Jennie sabia que devia estar trabalhando no manuscrito de um livro que ela vinha lendo e editando nos últimos dias. Ela conhecia a base da história, mas era o máximo que ela sabia sobre esse livro - o que era raro para ela.

Ela tinha uma reunião com a autora na sexta, e queria estar muito bem-preparada - afinal, essa era sua principal habilidade. Sempre que se encontrava com os autores, ela já conhecia o livro delas como a palma de sua mão. Ela não somente discutia com elas o enredo da história e suas ideias para como melhorá-lo, como também argumentava sobre as temáticas dos livros, e sobre o que ela achava que agradaria ou não aos leitores no desenrolar do enredo.

No entanto, sua mente no momento concentrava-se em apenas um pensamento: O de que ela estaria sozinha sem Lisa pelo fim de semana inteiro. Aquele fato estava jogando qualquer outro pensamento para escanteio.

ALPHABET WERKENDS - JENLISAOnde histórias criam vida. Descubra agora