V é de Vampiros

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A primeira vez que Jennie assistiu escondida a um filme proibido para menores, ela tinha onze anos e foi arrastada por Lisa o tempo inteiro. Essa havia sido outra das ideias mirabolantes que a loira espontaneamente havia arquitetado, desde a primeira — o grande escândalo do Crayon na primeira série, o que envolveu fósforos, várias caixas de giz de cera Crayon, e o trepa-trepa de plástico da escola. Não se podia julgá-la pela aparência daquela garotinha quieta que ela fizera todos acreditar que era. Em mais de uma ocasião, os pais dela, graças aos planos conspiratórios de Lisa, haviam repreendido Jennie, mas isso não quer dizer que Jennie não havia colocado Lisa em algumas encrencas com os absurdos que ela mesma havia planejado. Contudo, as ideias de Lisa normalmente eram de longe mais elaboradas, de longe mais maquiavélicas e se ela fosse honesta consigo, as ideias dela eram geniais... No momento, pelo menos.

Era uma tarde fria de novembro em Seul em 1994 e Lisa havia sucedido em fazer Jennie acreditar que elas estavam indo ao cinema para assistir O Rei Leão, que há seis meses ainda estava em exibição. Elas haviam pago pelos ingressos para ver o popular filme da Disney, enganando completamente Jennie até que Lisa começou a puxá-la para a Sala 4, onde no letreiro vermelho luminoso se lia Entrevista com o Vampiro programado para começar em quinze minutos. Jennie havia protestado durante todos os seis metros até a entrada do cinema, se queixando e sussurrando sobre elas serem pegas, sobre elas não aparentarem ter nem um dia a mais que doze anos, que nem no inferno tinha como os seguranças simplesmente os deixarem passar, mas Jennie estava errada.

A sorte havia estado no lado delas aquele dia, ou talvez Lisa só tivesse mesmo sido ágil. Nenhum dos seguranças estavam por perto da Sala 4, elas se esgueiraram para dentro da sala com as luzes já apagadas, rápida e silenciosamente - até demais, para a surpresa de Lisa. Ela havia imaginado, ao bolar seu plano, a probabilidade de Jennie cair e causar uma cena, o que fatalmente os faria serem pegas. Lisa a levara pela mão até dois assentos no fundo. Havia chegado ao ponto de trazer algumas coisas para comer e algumas daquelas garrafinhas de suco de cinquenta centavos, se lembrando de que o único sabor que Jennie gostava era morango. Ela conseguiu até arrumar dois sacos de batatinhas assadas que Jennie tanto amava. Ela só gostava daquelas com a batata descansando em uma cadeira de praia na embalagem.

Jennie não havia prestado a mínima atenção aos trailers, morta de medo do segurança que havia acabado de entrar, mas logo que o brutamontes saiu da sala, Jennie relaxou visivelmente assim que os créditos iniciais começaram.

Dizer que Jennie estava totalmente absorta pelo filme assim que ele começou seria uma boa atenuação da verdade. Nenhuma vez sequer ela desgrudou os olhos da tela iluminada. Ela assistia hipnotizada a Louis de Pointe du Lac, interpretado pelo diabolicamente lindo Brad Pitt, vagabundear pelo cenário antes da transformação e depois. E quando Kirsten Dunst começou a beijá-lo, ela quase caiu da cadeira. Por que não podia ser eu? Ela pensara. Naquele dia se acendeu nela a paixão por vampiros, sugadores de sangue, vrykolakas, nosferatu, strigoi, frios, ou como quiser chamá-los. Sendo assim, quando fora do gorro de esqui, no pequenino e sinistro pedaço de papel, a letra V surgiu, aquela foi a sua resposta imediata, apesar de ter tentado pensar em outras coisas - ela realmente tentou, mas foi em vão.

Jennie passou a maior parte do domingo pensando em coisas diferentes com a letra V. Ela procurou diferentes posições como a Ostra Vienense e a posição da Vitória. Ela pensou em interpretar um papel Vitoriano e jogar voleibol nuas - apesar de que isso não soava muito divertido no clima frio de março - mas logo a palavra vampiro voltava, e ela sabia que Lisa adivinharia sexta-feira à noite quando ela perguntasse sobre a letra. Seria uma reação instantânea para Lisa assim como acontecera com ela. Ela iria revelar a letra e Lisa faria aquela coisa estranha de estreitar bem os olhos como se não enxergasse direito que ela fazia quando estava pensando, e, então, quando descobrisse, sorriria aquele maldito sorriso torto que fazia calcinhas caírem.

ALPHABET WERKENDS - JENLISAOnde histórias criam vida. Descubra agora