Precisamos conversar...

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Enquanto Lisa dormia, Jennie observava seus seios pequenos e perfeitos subindo e descendo a cada vez que respirava. Ela viu as pálpebras dela tremendo enquanto algum sonho passava por sua mente. Lisa parecia tão calma e serena. Seus lábios estavam formando aquele quase biquinho, como acontecia sempre que ela dormia; ela sempre parecia estar à espera de um beijo. Mechas de seus cabelos longos se espalhavam contra o travesseiro, o tom de sol contrastando lindamente com o azul Royal da fronha.

Pequenos feixes da claridade da tarde traspassavam pela persiana e pintavam suaves linhas de luz no ombro de Lisa. Jennie adorava as sardas que haviam ali, por isso inclinou-se para distribuir beijos por aquelas pintinhas.

Ela vagou suas mãos através das mechas macias de cabelo que estavam ao seu alcance. O cabelo dela estava grudado em algumas partes por conta do suor já seco, e, no entanto, continuava com um cheiro suavemente doce e único de Lisa. Era um cheiro com que Jennie havia se acostumado desde quando eram pequenas.

Lisa estava extremamente bonita. Era realmente venerável, e Jennie não acreditava que nunca havia reparado na beleza dela, depois de todos esses anos. Não era como se ela não soubesse que a melhor amiga era atraente - quer dizer, a todo o momento as mulheres jogavam-se a seus pés, poxa! Era difícil não notar os olhares de inveja que ela recebia sempre que as duas saíam juntas. Estava na cara que Lisa era atraente, porém ela jamais tinha parado para realmente olhar para a mulher excepcional que era sua melhor amiga há mais de vinte anos.

Lisa havia sido uma gracinha quando criança. Tinha aquele cabelo desgrenhado - consequências de uma criança que odiava pentear os cabelos dourados -, e o sorriso mais fofo com aqueles dentinhos tortos, que Jennie até hoje nunca achou igual em nenhuma criança. Mesmo quando colocou aparelho nos dentes, seu sorriso permanecera radiante. Todas a maioria das meninas da turma perguntavam a ela sobre Lisa, rindo feito bobas, sem parar, enquanto enrolavam os cabelos nos dedos e tagarelavam sobre ela. Jennie simplesmente revirava os olhos para as tentativas delas, e depois fazia piada sobre elas com Lisa em sua casa, enquanto assistiam desenho animado.

No ensino médio, tinha sido evidente que Lisa era atraente. Ela alcançara seu estirão de crescimento aos 15 anos, e de uma hora para outra Lisa estava maior que Jennie. Ela desenvolvera alguns músculos aos 16 durante o verão, antes do segundo ano, e havia perdido as bochechas de criança que Jennie carregara até a faculdade. O rosto da loira havia perdido o formato arredondado fofinho de antes e tinha ficado mais anguloso e marcante.

Lisa se tornara uma mulher, e mesmo assim Jennie não enxergara isso. Ela apenas via Lisa, sua melhor amiga, a garoto que roubava sorvete da geladeira com ela. Ela era o garota que tinha pedalado todo o caminho até a casa da morena, de bicicleta, para comemorar o aniversário com ela, por causa de uma promessa boba que fizeram quando mais novos. Lisa era a garota que a fez sorrir quando partiram seu coração pela primeira vez, e a garota que conseguia fazer o seu dia muito melhor com uma simples piada entre elas.

Mas agora Lisa era a mulher pelo qual Jennie havia se apaixonado. Não havia indecisões ou, porém sobre isso. Ela estava sinceramente, enlouquecidamente e profundamente apaixonada por aquela mulher ao seu lado. Estava caidíssima de amores pela mulher que esteve presente em sua vida nas últimas duas décadas. E para piorar as coisas, a bela mulher que dormia ao lado não fazia a menor ideia dos conflitos que Jennie estava enfrentando. Lisa não tinha ideia da maneira como o coração de Jennie se enchia e explodia sempre que a loira simplesmente sorria para ela. Ela não fazia ideia de como o corpo dela fervilhava sempre que Lisa acariciava sua bochecha ou mordiscava sua orelha.

Ela não fazia a mínima ideia do quanto ela estava apaixonada pela amiga, e o pior de tudo era que ela tinha o bom senso de saber que seu amor não era correspondido. Lisa, obviamente, ainda a enxergava como a garotinha que um dia juntara cupons da caixa de cereal para lhe dar a camisa do Speed Racer que ela tanto queria aos sete anos. Lisa ainda a via como a menina de onze anos de idade que não fazia nem ideia de como beijá-la naquela festa. Lisa ainda a enxergava como a garota de catorze anos que teve que ser resgatada por ela, pois era ingênua demais para notar as segundas intenções de um veterano mais velho. Ela ainda a via como sua melhor amiga, apenas.

E isso a destruía.

Ela sentiu lágrimas acumulando em seus olhos e um familiar nó na garganta formando-se enquanto ela refletia sobre o assunto. Seus dedos tremiam ao brincar com o cabelo de Lisa, algumas lágrimas silenciosas escorrendo por suas bochechas lentamente.

Jennie suspirou, perdida em pensamentos, sua respiração tornando-se entrecortada conforme as lágrimas aumentavam. Seus olhos vagaram para a linha angular do maxilar de Lisa, sua mão seguindo seus olhos até seus dedos encontrarem os lábios de Lisa. Aquelas lábios que pareceram tão macios e suculentos quando a beijaram. O beijo foi lindo, e superou qualquer expectativa sua, porém esse beijo havia mudado tudo - e isso era a última coisa que ela precisava. Elas não podiam se beijar novamente; iria doer demais dentro dela saber que aquilo não significava nada para Lisa.

Ela continuava sendo apenas a melhor amiga dela. Por que Lisa se contentaria em ficar com ela, quando ela podia ter alguém muito melhor?

As lágrimas pararam, mas sua respiração continuou desregulada, e Jennie decidiu se levantar e pegar água. Ela juntou as roupas do chão e as vestiu. O balançar da cama e a movimentação dela fizeram Lisa despertar.

— Aonde você vai? — Lisa perguntou, sentando-se devagar na cama. Ela esfregou os olhos rapidamente, tentado ajustar-se à luz. Lisa havia adormecido há um pouco mais de uma hora, apenas.

— Vou pegar um copo d'água,— Jennie respondeu, soltando um arfar entrecortado enquanto tentava conter suas emoções.

— Esteve chorando? — Lisa perguntou, sua voz envolta em preocupação. Rapidamente, ela saiu da cama, sem se importar que ainda estivesse nua e andou até Jennie. Lisa pegou o rosto dela entre suas mãos e a olhou profundamente nos olhos. A sinceridade que Jennie viu ali apenas a fez chorar e soluçar ainda mais.

— Jennie, o que está errado?— Lisa perguntou baixinho puxando Jennie para um abraço apertado.

— Nós precisamos conversar, Lisa.

Lisa se afastou de Jennie e simplesmente a encarou.

— Essas palavras nunca trazem nada bom, Nini....

— Eu sei,— respondeu ela, sorrindo emocionada para o apelido de infância e observando Lisa andar para trás até sentar-se na cama. A loira indicou o local ao lado dela e com um gesto a chamou para sentar-se.

— Sobre o quê que nós temos que conversar? — Lisa indagou, nervosismo e medo ressoando em sua voz. Jennie sentiu seu coração partindo ao meio em seu peito. Chegou a hora, ela pensou. Estou prestes a matar vinte anos de amizade. Irei perder a pessoa mais importante da minha vida.

Nós duas... Precisamos conversar sobre nós duas.

ALPHABET WERKENDS - JENLISAOnde histórias criam vida. Descubra agora