D é de Desculpas

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Quando tinha dezoito anos, ela quase causou a morte de Jennie, e até hoje essa memória a assombra, ela ainda conseguia ouvir os ensurdecedores gritos de agonia, o cheiro do sangue dela, a maneira como seus olhos ficavam piscando enquanto ela tentava impedi-los de se fecharem. Aquele era para ter sido um dia de diversão. Lá estavam elas matando aula pela primeira vez em toda sua carreira acadêmica. Elas ficaram semanas planejando aquilo: elas dirigiriam até a escola, agiriam como se fossem entrar, e no último minuto, quando todos os alunos já tivessem entrado, elas iriam dar o fora dali. Essa parte tinha corrido perfeitamente bem. Todos tinham visto as duas conversando perto do carro de Lisa; elas acharam que seria mais inteligente usar apenas um carro ao invés de dois, especialmente se o outro fosse a velhaca picape vermelha de Jennie.

Elas tinham cumprimentado a todos, como de costume, e assim que Bambam entrou no edifício, Jennie e Lisa pularam de volta para dentro do Volvo e seguiram para a Reserva. Lisa já havia dirigido até os penhascos diversas vezes antes com o irmão, então a viagem até lá não tinha sido tão difícil para ela. Lisa podia dirigir até vendada para lá, mas tinha plena certeza que Jennie não iria gostar nem um pouco dessa peripécia. Jennie passou a ida inteira até lá se remexendo em seu banco; nervosa por achar que elas seriam pegas, mas Lisa a tranquilizava, dizendo que não havia nem chances de ter alguém perto da costa às nove da manhã. Isso não a acalmou, mas ela sabia que Jennie estava tão animada quanto ela por estar cabulando aula.

Elas eram boas alunas, daquelas que nunca faltavam às aulas, que eram exímios nos estudos, e participavam das atividades escolares. Matar aula era algo que nenhum dos professores jamais esperaria delas. No momento em que os professores percebessem que as duas estavam ausentes, elas presumiriam que tinham apenas faltado aula. Quando Lisa parou o carro a um minuto longe da encosta, Jennie parou de se remexer, mas ficou sentada como pedra em seu assento, seus olhos abertos largamente enquanto olhava para a lateral do penhasco. Ela apontou para aquela direção, e Lisa assentiu com a cabeça. Lisa sabia o que Jennie estava perguntando sem precisar dizer uma palavra, ela conseguia se recordar do som alto da respiração de Jennie dentro do carro silencioso quando ela se virou para lhe dizer que 'nem morta ela pularia daquela altura'.

Claro, como sempre foi durante os primeiros catorze anos de amizade, Lisa a persuadiu a pular - e esse fora o seu maior arrependimento até os dias de hoje. Assistir a queda de Jennie foi doloroso. Sempre que Lisa via um pedacinho que fosse da cicatriz no pulso dela, ao fechar os olhos, ela era capaz de rever a pequena silhueta dela colidindo contra a lateral da montanha, e conseguia ouvir os gritos dela chamando por socorro. Lisa jamais esqueceria a imagem de seu pai e dos médicos da emergência levando Jennie em uma maca. Os sons das rodinhas deslizando contra o chão de linóleo do hospital estariam para sempre gravados na trilha sonora de sua vida, assim como estariam gravados os sons de bip dos monitores com os batimentos cardíacos dela, e as ameaças de vida do Capitão Kim - apesar de que vistas agora, as ameaças tinham sido bem engraçadas.

A espera para que ela acordasse foi uma tortura. Toda vez que os olhos dela fizessem o menor movimento, uma onda de esperança surgia por Lisa, apenas para ser destruída quando nada mudava. E quando acordou, tudo o que ela disse a Lisa foi: 'Acho que agora tenho mais uma história para contar aos meus filhos'. Não foi um 'Lisa, sua idiota, sua merda, você quase me matou!' ou Lisa, eu te odeio, nunca mais fale comigo!', nem mesmo um 'Você irá pagar por isso'. Nada.

Ela nem sequer a obrigou a se desculpar. Quando Jisoo quase a matou ao jogá-la na piscina, anos antes, ela o torturou por semanas, obrigando-o a comprar seus absorventes na farmácia, e a sair pela cidade usando maquiagem; mas para Lisa... nada. Ela nunca entendera isso. Mesmo quando Lisa tentava se desculpar, ela dispensaria as desculpas - e ainda fazia isso. Foi essa a razão pela qual Lisa mentiu para ela no banho, na manhã de domingo. Ela queria usar a letra D. Ela queria dar a Jennie o pedido de desculpas que ela merecia, um pedido de perdão por tudo o que ela já havia feito para machucá-la, física e emocionalmente.

ALPHABET WERKENDS - JENLISAOnde histórias criam vida. Descubra agora