[ALERTA GATILHO]: menção de assédio e abuso.
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As lembranças dolorosas invadem meu sono rápido, os toques sujos e palavras nada agradáveis rodavam sobre mim como uma doença contagiosa.
O suor escorre pela minha testa, reviro pela cama e, mesmo estando dormindo, não tenho o controle para acordar e acabar com todas as lembranças, sozinha. Sinto a minha respiração ofegante e a qualquer momento posso colapsar, uma verdadeira frustração por não saber como lidar com essa crise sem sentido.
As palavras dos homens soam perto, os seus bafos nojentos podem ser sentidos por mim. As suas mãos tocam minhas pernas desnudas quando me agacho para catar as notas no chão como uma cadela miserável a procura de comida e sobrevivência.
Afasto-me imediatamente dos seus gritos de ordens para descer do palco e ir satisfazê-los, mas eu não faço isso, não se estiver morrendo de fome ou precisando do mínimo para sobreviver na boate que apenas retira o dinheiro que as prostitutas ganham, não sobrando nada para elas.
—Você... Precisa acordar.
Uma voz distante me chama no meio de toda a confusão de cores e homens, uma luz fraca me chama e eu corro até ela, me agarrando naquela luz como se fosse a minha última esperança.
Linlin aparece em minha visão turva com a testa franzida em preocupação. As suas mãos agarram firmes meu ombro para me chacoalhar do pesadelo profundo.
Os seus olhos claros e grandes, antes repletos de preocupação, agora transmitem alívio. Ela suspira, toca minha cabeça ensopada de suor e ergue meu corpo para me abraçar, fazendo com que minha bochecha fique em seu peito que está fora do seu ritmo habitual.
Permaneço quieta nos braços da enorme mulher, aconchego mais o meu corpo no seu para sentir o seu calor e conforto.
Charlotte Linlin.
A minha luz no fim do túnel.
É a única pessoa no mundo que realmente me acolhe e me trata como devo ser, não me julga, não opina sobre o meu passado repleto por vergonha e dor, só prossegue ao meu lado me apoiando.
—Eles tentavam novamente...— um nó se forma na minha garganta, a mesma sensação de prepotência que senti anos atrás me invande, mais uma vez.
—Eles não irão fazer nada nunca mais, mortos não causam problemas.— a pirata desliza os dedos pelo meu cabelo emaranhado, me confortando.
—Linlin... Ainda dói tanto...
Meus olhos se estreitam para não chorar pateticamente, mas falho em minha missão, e segundos depois estou despejando água sobre a mulher pirata.
—Eu sei.— diz —Estou tentando te curar todos os dias, [S/n].
—Não é cansativo?— pergunto agora encarando os seus olhos que me deixam tão bem.
—O quê?
—Não é cansativo tentar curar todos os dias alguém que não tem cura?— falo cada palavra por um fio, estou cansada e quero voltar a dormir sem pesadelos.
—Não, nunca.— responde com convicção
—Quando se ama de verdade alguém, jamais irá largar esse alguém na primeira dificuldade, principalmente quando ela está em processo de cura.Linlin é uma renomada e poderosa pirata dos Rocks famosa pelo mundo todo, a sua força bruta se sobrepõe à qualquer um e, por isso, é um dos pilares do seu bando.
Estava em mais um dia de trabalho, dançando para milhares de homens que me comiam com os seus olhares quando um alvoroço se estendeu por toda a boate. Os que me apreciavam não ligaram para o que estava acontecendo e eu me mantive focada para não cair do enorme salto.
Igual a uma puta.
A diferença é que eu dançava e fazia algo a mais se estivesse em uma situação precária de necessidade financeira, ao menos para conseguir uns trocados e comprar alguma besteira que iria satisfazer o meu estômago.
Mas, mesmo que apenas mostrasse o meu corpo, para os homens que ficavam a minha frente nunca seria o suficiente e, depois que terminava o meu serviço, tinha que andar as escondidas para não ser agarrada por suas mãos grotescas e ser usada mais uma vez.
Mas, naquele dia, tudo mudou.
O alvoroço só aumentava e a música parou junto com a minha dança da noite. Todos ficaram indignados e eu não sabia o que fazer, talvez fugir ou lidar com o dono da boate, furioso, por não ter conseguido dinheiro o suficiente.
—São os Piratas Rocks...
Escutava cochichos sobre piratas e decidi sair do pequeno palco rapidamente.
—Ei, você!— uma ordem alta fez todos se calarem e tinha a noção dos olhares sobre mim —Que coisinha bonita você é, eu gostei! Vamos para o mar, junto comigo!
Lembro que virei sem reação para a voz feminina e fiquei incrédula com tanta ousadia, me deparei com cabelos rosas intensos e bonitos. A boca grande estava coberta por um sorriso radiante, igual a uma luz.
A minha luz.
Percebendo que parei de soluçar, Linlin se deita comigo na cama, mas continua com os seus braços em volta de mim. Ficamos de frente uma para a outra e fecho os olhos quando os dedos longos e finos passeiam pela minha bochecha.
—Eu não posso acabar com toda a sua dor, mas eu posso te dar toda a felicidade e amor do mundo.— a sua fala convicta me arrancou uma risadinha.
Após aceitar a sua ordem estranha, embarquei no navio dos piratas mais perigoso do mundo e iniciei uma nova etapa em minha vida, ao lado de uma mulher que me protegia e estava perdidamente apaixonada por mim.
Da mesma forma que hoje em dia eu estou por ela.
—Amo você.— dito sem aquele medo na voz. Volto a abrir mais uma risada, dessa vez, alta.
Recordo de quando abri meu coração para a pirata, despejei tudo de uma vez sobre ela que ficou furiosa com o que passei na boate.
Charlotte Linlin dizimou não só a boate, mas a ilha inteira em que o lugar ficava. Quando ela me contou sobre isso, fiquei feliz, metade da minha dor foi embora em um alívio que apenas ela me proporcionou.
—Eu também amo você, [S/n].— sua voz estrondosa e até um pouco escandalosa soa como uma canção em meus ouvidos.
—Irei criar um mundo na qual você possa ser livre.—Irei esperar ansiosa para isso, minha Linlin.
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▪︎DREAM▪︎ One Piece
FanficLivro dedicado para você se imaginar com os personagens de One Piece! Embarque nessa aventura emocionante em forma de pequenas ou grandes histórias criadas por mim. *Conteúdo não recomendado para MENORES DE 18 ANOS*