A porta do quarto está meio aberta. O Johny entra e sobe na cama, se deitando ao lado da Luna. Ouço sua respiração ficar meio pesada depois de alguns minutos, sinalizando que ela já dormiu. Levanto da cama com cuidado e saio do quarto.
Não sinto que seja a hora de falar com a Luna sobre a mãe, sobre a Bela. Afinal, as duas só de viram uma vez até agora.
Me pergunto se escolhi a resposta certa. Eu queria certeza. Suspiro, a conversa chegou e eu soube o que responder, pelo menos.
Eu sei que mais cedo ou mais tarde a Luna vai saber que Bela é sua mãe. Claro. Por isso disse que ela poderia encontrar a mãe enquanto cresce.
Eu queria resolver tudo de uma vez logo, mas não é bem assim. Dizer a verdade para Luna assim, do nada, pode deixar ela confusa. Além de que a Bela acabou de voltar, eu preciso conversar com ela melhor. Eu tenho medo de que o que aconteceu antes se repita agora, e esse é mais um dos motivos do porquê não contar a verdade a Luna agora.
As coisas mudaram de novo, de uma hora para outra, e cá estou eu: Sem saber muito bem o que pensar, o que não pensar ou o que fazer. Eu só quero o melhor pra Luna, mas o melhor seria apresentá-la a sua mãe ou não fazer isso porque podemos brigar de novo e fazer mal á Luna?
Contei tudo isso ao Mauro.
- Mas aí o problema não é dela. - Ele disse e bebeu um pouco d'água.
- Ãn?
- A briga que você pode ter com a Bela não é culpa da Luna, não é problema dela. Ela não pode ficar sem saber sobre a mãe porque vocês não conseguem manter uma conversa.
Pensei um pouco.
- Tem razão.
- E tu realmente pensou em nunca dizer pra Luna que ela tem mãe, e a mãe é a Bela?
Assenti.
- Claro que não. Tá ficando doido?
- Sim, Mauro. Eu 'tô ficando.
~ Isabella
- Eu não acredito nisso, Isabella! - Cecília invade a sala com as mãos na cabeça.
Atualizações: Cecília voltou hoje pra São Paulo, junto á minha mãe e a sua - que se recuperou. - Voltamos a morar, as duas, juntas e... Cecília está sabendo apenas agora que passei um ano sem falar com o Lucas.
Não rebati nenhum grito seu. Ela tem mais razão que eu.
- Por que você fez isso?!
Ceci ficou tão ocupada com a mãe que só se preocupou em perguntar algumas vezes "E a Luna?" E pronto. E eu entendo, sua mãe estava em um estado grave no hospital.
- Eu me senti... ai, eu não quero falar. Pode me dar bronca.
- Agora fala. - ela sentou do meu lado, no sofá.
- Aconteceu tanta coisa enquanto você e a mamãe estavam fora. Eu e Lucas discutimos tanto, e não terminamos só aquela vez que eu te disse. Nós terminamos 2 vezes, Cecília. Eu não aguentava mais.
Me encoli no sofá juntando meus joelhos ao meu peito.
- No meio de uma briga nossa, quando já tínhamos terminado, ele disse algo que me magoou muito e eu simplismente cansei. Eu fui fazer uma visita pra vocês, e acabei ficando por lá... disso você já sabe. Só que eu me senti tão incapaz de voltar, mas ao mesmo tempo tanta raiva pelo que ele falou que eu desisti até da nossa comunicação.
Ceci e minha mãe nunca concordaram em eu ficar longe da Luna, mas elas também não interferiram nas minhas escolhas.
- Isso tudo é sobre a Luna, Bela.
- Eu sei, eu sei, eu sei! - sinto as lágrimas que estou prendendo na minha garganta. - Mas eu não consegui mais, sei lá... - escondi meu rosto, encostando as testas nos joelhos. - Eu saí de casa 2 dias depois do nosso último término. Eu bebi demais e fiz merda. Eu disse pra ele e...
- Você engravidou de novo e abortou?!
Senti vontade de estapear a cara dela.
- Não, Cecília! - descontei toda essa raiva nas lágrimas. Meu choro ficou abafado. - Eu beijei outra pessoa, e contei pro Lucas. Ele ficou super chateado comigo porque, ele me mostrou que com certeza não queria ter terminado assim como eu mostrei que também não queria. E aí... brigamos de novo, ele não pensou antes de usar as palavras e eu não pensei antes das minhas ações.
Ceci ficou em silêncio.
- Eu fui tão babaca. Ainda sou. - disse puxando ar pelo nariz, com dificuldade de respirar pelas lágrimas o entupindo.
Ela passou as mãos pelas minhas costas.
- Eu entendo, mesmo não sendo mãe, eu imagino o quão difícil deve ter sido pra você cuidar da Luna, ter se separado, não ter mais ninguém pra te ouvir, ter que estudar e mais um monte de coisas. Eu imagino. Mas eu só quero te pedir pra não desistir. Você fracassou sim, mas você ainda consegue seguir, entendeu?
Ergui a cabeça e levei meus olhos á Ceci.
- Mesmo não sendo de propósito, você fez uma das suas piores escolhas. Mas você está aqui, você já reencontrou a sua filinha, e não é tarde pra nada! Olha pra frente, Bela. Esquece o que aconteceu lá atrás porque não importa mais.
- Você sabe bater só usando palavras
- falei séria e ela sorriu.
Ceci tirou uma mecha do meu rosto e colocou atrás da minha orelha.
- Você... vocês erraram, sim, muito. Mas vocês vão ter que aprender a ficar juntos como amigos pela Luna. É pela Luna. - Ela afirmou mais uma vez. - Você precisa amadurecer as suas escolhas, vocês precisam. E vocês vão virar adultos de verdade pela Luna, não vão?
Adultos de verdade.
Percebo nesse momento que a única coisa que não fomos ou não parecemos foram... adultos. Ri fraco, pensando em como fomos tão crianças quando apontamos os erros um do outro. Ao mesmo tempo que eu pensava no lado dele e ele no meu, chegamos ao ápice de tudo ao ponto de nos tornar várias coisas, menos empáticos um com o outro.
Como conseguimos ser tão idiotas?
