10. eu fui a tua vida, agora eu sou lembrança

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Helô tinha saído para jantar com Marcelo. Foram num restaurante, mas não tinham reservas.

Se estivesse com Stenio, com certeza ele tinha lembrado de fazer as reservas. Quer dizer, desmemoriado como estava, talvez não. Mas o antigo Stenio, sim. Nunca a tinha feito esperar no balcão de um bar, em busca do momento que uma mesa para dois no salão principal vagasse. Mas essa era situação atual, e seu acompanhante definitivamente não era Stenio.

Estava com um body cavado, que mostrava a pele de sua cintura antes de iniciar a saia de couro agarrada no corpo. Sabia que aquilo acentuava suas curvas, e a deixava com a bunda maior que o normal. Estava toda maquiada, os longos cabelos estavam perfeitamente enrolados. Os olhos marcados com a sobra preta, e a boca mais nude. Espirrou seu perfume favorito da Dior sem nem saber o porquê, a ocasião não pedia. Marcelo era um advogado de renome, mas não era pra tanto.

Não sentia borboletas no estômago. Para ser sincera, não sentia nada, além de vontade de transar, com quem quer que fosse. Mas só a ideia de ter que conhecer alguém, ir para encontros, fingir que se importava por algumas horas antes de deixar claro para o homem com quem estaria quais eram suas intenções.. Isso tudo já lhe dava preguiça de sair de casa. Não naquela noite, porém.

- Me vê um dry martini? - Ela pediu ao garçom, irritada pela falta de tato de Marcelo. Ele não bebida. Chato.

Um copo de bebida queimando na garganta
Eu fui a tua vida, agora eu sou lembrança do maior amor do mundo todo
Nós vimos quase tudo de uma ponta à outra
Sabia como dilatar teu olho
Me lembro do dragão nas suas costas, na minha cama
Me dizem "o mundo 'tá nas suas mãos", deixei escapar então
Não, é claro que eu não te amo.. Mas tentar te esquecer já é lembrar de nós
E se eu lembrar, não me responde
Eu juro, eu não te amo, eu só bebi demais

O som ambiente invadia seus ouvidos, já que o silêncio entre eles era ensurdecedor.

- Temos três pessoas na frente de vocês. - Claudio, o garçom simpático, avisou. Heloísa estava achando o garçom uma presença mais agradável que seu date, portanto sorriu para o homem e disse que não havia problema.

Ao desviar o olhar, Heloísa esbarrou os olhos por todos que estavam ali naquele balcão esperando sua vez de conseguir uma mesa. Os cabelos grisalhos e inconfundíveis chamaram sua atenção: Stenio Alencar.

Estava acompanhado de algumas pessoas, talvez cinco. Os olhos dele estavam fixos nela.

Heloísa sorriu com o canto do lábio, bem de leve. Fez um gesto com o dedo indicador e médio, na têmpora direita, batendo continência.

Stenio correspondeu ao sorriso sem saber muito bem como lidar, seus olhos estavam fixos na roupa dela. Ele se levantou, e ela engoliu a seco.

- História engraçada. Meu ex marido está aqui e está vindo na nossa direção. - Helô alertou Marcelo. - Vai nos cumprimentar.

- O seu o que? - Marcello quase cuspiu a bebida.

Helô levou o dry martini até a boca tomando um gole enorme.

- Heloísa.

Disse a voz grossa, depois de atravessar o balcão abarrotado de gente. Fazia calor, o Rio de Janeiro estava quente como sempre. Mas o olhar dele no corpo dela parecia queimar mais do que a sensação térmica de 40 graus celsius.

- Stenio! - Ela fingiu costume, se inclinando na direção dele. Beijou seu rosto duas vezes, um beijo em cada bochecha, como de costume. - Tudo bem?

- Sim. Jantar de trabalho, vim aqui pedir outra garrafa porque o atendimento tá meio lento. - Ele comentou, fazendo um gesto com a cabeça, apontando o pessoal com quem estava, numa mesa. - E vocês? - Ele desviou o olhar para o acompanhante de Helô.

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