- Amoooor! - Helô deu um abraço em Laís que fez questão de se levantar para cumprimentar.
Ela e Marcelo estavam saindo, quando Laís ficou pendurada em Helô.
- Escuta, eu vou ter que ir.. - Ele olhou para ela quase que pedindo desculpa.
Helô teve que fingir por um segundo que ficou chateada pela emergência.
- Um cliente dele foi preso. - A delegada justificou para Laís, passando a mão no peitoral do advogado e dando uns tapinhas. - Certeza que não quer que eu vá com você?
- Não, tudo bem. - Marcelo enlaçou os dedos pelo cabelo da delegada, beijando sua bochecha. - Eu te ligo, tá bem?
- Tá bem. - Concordou.
Ele saiu, apressado.
Os olhos de Stenio ainda estavam fixos nela, mesmo que a distância.- Helô!!! - Carlos puxou assunto, se levantando. - Tudo bom, minha querida?
Todos da mesa se moveram para cumprimentar a delegada. Pareciam realmente gostar muito dela, pelo que ele pode observar.
- Ta lindona, ein, doutora. - Felipe elogiou. - De folga da delegacia?
- Finalmente! Também sou filha de Deus. - Ela brincou, mostrando a língua numa brincadeira e mordendo o lábio logo em seguida.
Merda, ela tinha essa mania de fazer isso.
Stenio se apressou em pagar a conta, e logo se aproximou da roda que se formava perto de Helô.- O Stenio te dá uma carona, imagina! Que isso! - Laís ofereceu logo que ela retomou a história de como seu date havia sido interrompido.
- Imagina, eu não quero atrapalhar. Eu pego um uber. - Ela disse, sorridente, quase escapando.
- Imagina, faço questão. - Stenio se intrometeu, ainda sério.
Ela notou que alguma coisa não estava bem. Na verdade, todos notaram. Ele tinha fechado a cara muito rápido, e não estava sendo o Stenio brincalhão e divertido de sempre.
- Não quero te incomodar. - Ela reforçou.
- Não está incomodando, Heloísa. - Stenio rebateu, a encarando.
Ela o encarou de volta, e espremeu os olhos, tentando entender aquela raiva toda ao cuspir as palavras.
Logo todos se dissiparam saindo do restaurante, e ele e ela caminhavam lado a lado em direção ao estacionamento.
- Você não bebeu? Não pode dirigir.
Ele riu fraco, ironicamente.
- O que, você vai me prender?
- Bom, eu com certeza não devia pegar uma carona com você.
- Entra na porra do carro logo, Heloísa. - Ele disse, abrindo a porta.
Helô olhou nos olhos dele. Esse Stenio era tão diferente de seu Stenio.
Seu Stenio diria: meu amor, não tem problema! Foi só uma taça. Entra, vai. Se você estiver muito incomodada, a gente pede um uber. Quer que eu peça um uber? Eu peço!- Eu não vou entrar.
O desafiou.
Estavam no canto esquerdo do estacionamento. A maioria dos carros já tinha saído, salvo alguns mais para a direita.
- Entra na porra do carro ou eu juro por Deus..
Ele fazia aquela coisa com as narinas quando estava bravo. Aquela cara típica de desgosto, onde as narinas inflavam. Ele balançava a cabeça negativamente, como quem nem sabia o que fazer caso ela se negasse. Isso fez com que ela sentisse vontade de provocar pra ver os limites dele, e onde chegariam com toda aquela discussão sem sentido no final das contas.
- Tchau, Stenio.
Ela revirou os olhos, e se virou.
Sentiu uma mão forte segurando seu braço, fazendo com que ela desse passos para trás, regredindo.- Aiiii.. - Ela resmungou. Não estava sentindo dor, era mais seu orgulho falando alto porque ele realmente era forte e a estava obrigando a fazer algo que ela não queria.
- Eu vou falar a última vez. Entra no carro. - Stenio a encarou no mais profundo de seu ser.
Ela fingiu que iria falar sim. Aproximou a boca dele, com um sorrisinho nos lábios.
- NÃO! - Falou alto, de repente, insistindo em sair dali.
Sentiu quando Stenio a jogou contra o carro com brutalidade. A próxima coisa que ela sentiu foi a barba dele roçando por toda sua boca, num beijo quase que desesperado. De língua. Intenso. Como se o mundo fosse acabar.
Heloísa se sentiu derreter aos poucos. Derrubou a bolsa no chão, e correspondeu imediatamente, completamente entregue. Os barulhos de saliva e dos lábios conflitantes tomaram conta dos ouvidos dela. Ele a pegava para si, da mesma maneira que fazia antigamente. Como se tivesse sede dela, como se quisesse que os corpos fundissem. Era autoritário, bruto, tinha uma puta pegada e era delicioso.
- Entra na merda do carro e eu vou fingir que você não veio toda gostosa pra outro cara, e te faço o favor te de comer do jeito que eu sei que você quer e que aquele merda não conseguiu. - A voz grossa dele ecoou por seus ouvidos, enquanto ele apertava o pescoço dela. Heloísa respirava profundamente. O peito subia e descia numa frequência que era loucura. Ele esfregava o nariz pela lateral do rosto dela. - Que tal?
- Quem disse que eu quero você?
Isso fez com que ele desse risada.
- Entra nessa merda desse carro agora, Heloísa.
Stenio a soltou, dando dois passos para trás. A encarava, encostada no carro, completamente ofegante, desconcertada. A região de sua boca e de seu nariz completamente vermelha por conta do beijo intenso que tinha recebido. Ela se abaixou para pegar a bolsa, e ele fez questão de observar a bunda dela da visão mais privilegiada possível. Heloísa abriu mão do controle e entrou no carro dele, no banco do carona.O advogado respirou aliviado ao vê-la dentro de seu carro, a caminho de ser sua. Em todos os cenários que imaginou para aquela noite, achava que esse era o fim menos provável.
- Valeu, babaca. - Ele murmurou, olhando pro céu, jogando uma mensagem ao universo para Marcelo. Deu uma risadinha, e deu a volta pelo carro, entrando no banco do motorista.
Passou a dirigir, incômodo. Afrouxou a gravata, sentindo a excitação incomodar dentro da calça.
- Eu não devia estar fazendo isso. - Ela teve um surto repentino de consciência. - A gente não devia estar fazendo isso.
- As pessoas não deviam fazer muitas coisas e mesmo assim elas fazem, Heloísa.
- É fácil pra você falar. Você esqueceu tudo.
Ele gargalhou, colocando o cotovelo pendurado para fora do carro enquanto dirigia.
- Fica tranquila. Eu perdi a memória até certo ponto, em outros eu me lembro de tudo, muito bem.