"Fica tranquila. Eu perdi a memória até certo ponto, em outros eu me lembro de tudo, muito bem."
- O que você quer dizer com isso? - Ela perguntou, curiosa.
- Bom, eu só me esqueci do sequestro pra trás. O que eu vivi depois, eu lembro bem.. Vividamente.. Digamos assim. - Justificou.
Helô cruzou as pernas, se escorando no banco dele, interessada nisso.
- Ficou lembrando da nossa noite, Stenio? - Ela riu baixo, achando graça.
Não era ele quem estava dormindo com o Rio de Janeiro inteiro?
Ele riu leve, junto com ela.
- Não é como se tivesse sido fácil de esquecer. - Ele se justificou. - Foi muito.. Intenso.
Heloísa ficou olhando para ele com atenção.
- Intenso? E o que mais? Quais foram suas primeiras impressões, doutor Stenio? - Ela brincou, flertando.
Quando ele deu uma olhada pra ela enquanto dirigia, dividindo a atenção entre Heloísa e a pista, a viu morder o lábio com a cara mais safada que tinha. Ele adorava isso. Se lembrava dela fazendo a mesma coisa, a ponto de chupá-lo.
- Bom, eu entendi a razão pela qual me casei com você duas vezes. - Ele foi sincero. - Não me julgaria por tentar a terceira. Evidentemente valeu a pena cada segundo.
Ela gargalhou com o jeito dele.
Não deixava de ser esse cafajeste safado. E ela o amava.- E isso foi antes ou depois de você comer o Rio de Janeiro inteiro?
Ele riu leve, olhando para frente. Não parecia estar envergonhado, nem arrependido, muito menos se sentindo coagido.
- ...E mesmo assim, no final do dia eu estou aqui. Irônico, não é? - Ele a fez refletir.
Talvez o tivesse deixado doido por ela, pelo menos na cama. Isso era um alívio, por mais que ela o quisesse de outros jeitos também. Bom, antes tê-lo de alguma forma do que não o ter de forma alguma, certo?
- Mas já você.. Doutora delegada Heloísa Sampaio..
- O que foi, hein? - Ela provocou.
- De namorado novo e tudo. - Ele sondou. - Marcelo Teixeira. 39 anos. Advogado, de São Paulo. É contratado de um escritório, não tem o próprio escritório.. - Deu a ficha toda do cara.
Heloísa sentiu um formigar em seu estômago.
Entraram no motel, e Stenio pediu pela suíte mais cara. Pegou as chaves da garagem, e buscou o quarto.
- Você foi rápido dessa vez.. - Ela disse, em referência ao fato de ele saber tudo sobre Marcelo.
- Eu tenho que ser. Afinal, você era a minha mulher, não era?
- Achei que isso não tivesse significado algum pra você. - Ela brincou, jogando na cara dele mais do que qualquer coisa.
- Bom, talvez signifique mais do que pensamos que significa. - Ele admitiu, pegando suas coisas. - Vem, vamos. - Ele chamou, descendo do carro.
Se ocupou em fechar o toldo atrás do carro, trazendo privacidade na garagem. O ambiente ficou todo escuro, e Heloísa não tinha se decidido ainda se devia ir atrás dele ou fugir. Não que tivesse muito espaço para fugir.
- Vem. - Ele disse, estendendo a mão pra ela, abrindo a porta do carro.
Os olhos dele estavam cheios de expectativa. Heloísa tentava ignorar as vozes de sua cabeça que diziam que aquilo tudo era só sexo para ele, se lembrando de tudo que Moretti havia contado. Tinha que começar de algum lugar, e aquela relação casual era mais do que vinham tendo nos últimos tempos.