Na manhã seguinte, quando ela acordou, ele não estava mais na cama. Passou a mão pelo colchão e sentiu gelado. Fazia tempo que Stenio tinha se levantado, então.
Suspirou, se virando na cama. Sentiu seu corpo todo dolorido, dos pés a cabeça.Sentia o colo todo repuxando, e sabia que era por ficar empinada por tanto tempo, e também pelos apertões no pescoço. Arrepiou ao ter flashes da noite anterior. Como tinham tido coragem de fazer tanta coisa com sua filha na casa?
Heloísa olhou melhor ao redor, e viu o quarto mais organizado. Na noite anterior, se lembrava bem, haviam travesseiros, lençóis.. Tudo jogado por todo o lado. Agora havia até uma mesinha com café da manhã para ela com um bilhetinho.
"Espero que esteja tão delicioso quanto vc. Mesmo sabendo que é meio impossível. Vem logo ficar com a gente assim que acordar, donelô!"
Sentiu seu coração acelerar. Não sabia muito bem lidar com Stenio pós noites incríveis que passavam juntos, porque a tendência dele era se afastar e dificultar as coisas. Menos mal que ele estivesse preparando o café da manhã para ela e deixando bilhetinhos por ai.
Ela se apressou em tomar o café, tomar um banho e se arrumar para se juntar a eles. Encontrou Stenio de bermuda tactel, blusa do mickey e óculos de sol, brincando com Felipe no jardim da casa. O menino estava se jogando na piscina o tempo todo, e Stenio ria.
- Ta até engolindo água, olha só. Para cinco minutos, você vai ficar tonto!
- Vô, vem nadar comigo! - O menino propôs.
- Já vou! To só esperando ver se a sua..
Ele percebeu a presença dela instantaneamente. Virou o olhar para Helô e abriu um sorriso quase que automático.
- Bom dia, doutora delegada.
- Bom dia, Stenio. - Ela cruzou os braços, se encolhendo.
O que faria?
O cumprimentaria?
Um beijo no rosto?
Na boca?
Às vezes era melhor não fazer nada.Stenio se aproximou dela, deixando o neto no vácuo, sem nem perceber. Enlaçou o braço em sua cintura, trazendo a mulher mais para si, e beijou sua boca.
- Meu Deus! - Felipe disse, surpreso. - O vô sem memória também dá beijo na boca da vó.
Heloísa riu baixo, encarando Stenio com os olhinhos brilhando de alegria. Estava muito feliz por estar com sua família assim.
- Bom dia, amor. Cadê a mamãe? - Heloisa deitou q cabeça no peitoral de Stenio, para olhar para a criança na água.
- Foi trocar a Clarinha e o papai foi ajudar daí o vôvô ficou comigo. - Ele explicou, rapidinho.
- Vamos lá ver se ela precisa de ajuda? - Helô convidou, esticando o braço para ele, para que a criança viesse em sua direção e segurasse sua mão.
Ele fez isso. Heloísa o secou com a toalha, e entraram os três juntos. A filha logo comentou que a bebê estava com cólicas, então precisava tomar a medicação, e eles estavam cuidando disso. Agora já parecia melhor.
Quando Helô voltou o olhar para Stenio, seus olhos foram parar em seu peitoral. Bem na área do coração, ela viu uma marquinha redonda de laser, como o alvo de uma arma.