XXIV

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LIAM

Estávamos no carro, indo em direção ao lugar. Saindo da casa, todos começaram a questionar, queriam saber se já estávamos voltando para New Haven, e eu não vou mentir, queria mesmo estar indo embora.

Mas pelo contrário, estávamos indo para o meu lugar favorito no mundo. O lugar que foi o meu refúgio durante toda minha infância, e agora, se tudo ocorresse como eu planejei, seria o meu lugar favorito por mais outro motivo.

- já estamos muito longe da casa da sua família - disse a garota atenta a estrada.

- bom, quanto mais longe de lá melhor.

Naquele momento, ainda olhando para a estrada a minha frente, sinto dois olhos queimarem sobre mim. Era possível ver ela apoiar a cabeça sobre a própria mão escorada no vidro, e sorrir enquanto olhava para cada movimento que eu realizava.

- porque me olha tanto?

- passei muito tempo evitando fazer isso. Agora eu pretendo passar o resto da vida te olhando.

Foi inevitável sorrir diante da confissão dela. Levo então uma das minhas mãos até a dela parada em sua coxa e a aperto ali.

Minutos depois chegamos ao local esperado, finalmente, o cheio da água salgada pôde invadir as minhas narinas, trazendo com ele, todas as minhas boas lembranças da infância.

- praia? - ela pergunta, chamando a minha atenção - essa época do ano não é muito fria pra virmos a praia, ainda mais a noite? - disse rindo, buscando entender o porquê de estarmos ali.

- não vamos entrar na água, gatinha. - seguro a mão dela a puxando até a areia, então corremos até a margem da água - não te trouxe aqui pra isso.

- porque me trouxe aqui então? - disse sem tirar os olhos do mar, eu a escutava, sem tirar meus olhos da garota que refletia a luz do luar.

- lembra da primeira vez que nos beijamos? - pergunto.

- me lembro. - disse esboçando um pequeno e tímido sorriso - foi na praia, depois de você me salvar de uma crise.

- aquele foi sem dúvidas o dia mais esperado da minha vida desde o momento que te vi pela primeira vez.

- desde a primeira vez?

- quando eu te vi entrando pela primeira vez em Yale. Eu sabia que você se apaixonaria por mim. - disse, com certeza, brincando.

- idiota! - ela me dá um leve empurrão com seu ombro - você me encarou naquele dia feito um louco, eu não me esqueço nunca disso.

- claro, você retribuiu minhas olhadas, se não se lembra.

- eu me lembro. - naquele momento, nossos olhos voltam a manter contato assim que ela vira seu rosto em direção ao meu - porque me trouxe aqui, Liam?

- eu te amo muito. - confesso - há muito tempo eu não me sentia tão vivo quanto você faz eu me sentir.

- você me salvou várias vezes, Liam. Acho que eu nunca vivi tanto quanto vivo agora com você. - ela passa a olhar em volta, voltando seu olhar pra mim em seguida - isso tudo é inacreditável, eu te amo muito.

Olhando o rosto da minha garota, foi impossível não puxa-lo para um beijo muito mais que apaixonado. Era, como todos os outros, uma revelação inexplicável de sentimentos infinitos.

- Julieta. - me viro para ela - você é quem apareceu no momento que eu nunca imaginava ter solução pra mim, me salvou. Eu sou maluco por você, garota. Eu contei todas as suas pintas, sei exatamente onde fica cada cicatriz do seu corpo e decorei cada uma das suas manias. Sei que morde os lábios quando está nervosa, e que sua sobrancelha esquerda arqueia quando duvida de algo. Sei que as letras das músicas importam mais do que o som pra você, apesar de você sempre me dizer que o meu solo de guitarra é a sua música favorita. Sei que olha nos meus olhos quando procura um lugar seguro, e eu não vou mentir, amo quando você faz isso. Sei que chora todas as vezes que assiste "como eu era antes de você" mesmo que você diga que não porque supostamente odeia clichês. Eu decorei cada fala sua no debate de proteção da vida marinha, Julieta. "As baleias são fundamentais pra biodiversidade, o equilíbrio ecológico do planeta..."

O vagabundo e a damaOnde histórias criam vida. Descubra agora