XXIII

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LIAM

Estávamos todos sentados à mesa e comendo em completo silêncio. Acho que depois do ocorrido na sala, todos havíamos ficado um tanto quanto sem graça, meu pai tinha o dom de acabar com o dia de qualquer um.

- então. - o velho começa - Julieta, né? você não é daqui, é?

- não senhor, eu sou do Brasil, tem dois anos que moro aqui, vim para estudar, inclusive foi na universidade que eu e seu filho nos conhecemos.

- calma! - ele deixa escapar um risinho sarcástico - você estuda na Yale? sua família tem dinheiro, Julieta?

"o que esse velho tá insinuando?!"

- ah, pode se dizer que o meu pai vive muito bem financeiramente, devido ao escritório de advocacia dele lá no Brasil, mas eu não precisei do dinheiro dele pra conseguir entrar em Yale.

- então eles aceitaram alguém como você?

- ah, sim?

- e seus pais têm dinheiro? - ele parecia desconfiado - sendo da mesma cor que você?

- pai, que porra você tá falando? - pergunto.

- ora vamos ser honestos! até parece que vocês não pensaram o mesmo que eu assim que viram essa menina!

Eu olho para o lado e vejo Julie estática. Ela olhava para o meu pai com um olhar indecifrável, parecia incrédula. Foi quando eu seguro uma de suas mãos, a mantendo em cima da minha coxa.

- o que você está dizendo, Samuel? - minha mãe se pronuncia dessa vez - não cansa de parecer ridículo?

- não se mete, Ketherine! - Amanda repreende minha mãe.

- ei gente! calma, não vamos brigar hoje, tudo bem? - Bela tenta acalmar o clima.

- é vocês duas, parem com essa discussão! o que a gente quer saber agora, é o que o Samuel quer dizer com todos esses ataques pra cima da Julieta. - Charles parecia tão irritado quanto eu.

- o que eu quero dizer é o mais óbvio aqui. - Samuel diz - eu sinceramente nunca vi pessoas do tipo dela serem bem sucedidas financeiramente, muito menos podia imaginar que universidades tão renomadas como Yale estavam aceitando esse tipo de gente.

" isso é sério? "

- senhor Bennett, eu não admito esse tipo de insulto sobre mim! eu sou tão capaz de ser bem sucedida quanto qualquer um aqui nessa mesa! o senhor não passa de um racista metido a superior que não consegue enxergar isso! - ela se impõe.

- você toma cuidado com a forma que fala comigo, garota! - ele se levanta, estava extremamente irritado - já não basta eu estar te aceitando nessa casa?!

Meu sangue ferveu. Eu já não agiria mais tomando cuidado com as minhas palavras. Era inadmissível aquele comportamento do meu pai, ridículo e desprezível.

- presta a atenção no jeito que você fala com ela, Samuel! - eu me levanto e começo a discutir com ele, sentindo a garota se colocar de pé ao meu lado também e segurar meu braço - eu sabia que vir aqui seria um erro. Você não se aguenta, não é? não sabe se por no seu lugar, só quer saber de insultar e atacar as pessoas a sua volta!

- eu sou negra, senhor Bennett, eu não tenho vergonha disso. Mas pessoas como o senhor, com todo o respeito, me enojam.

- a cor da Julie não impede ela de ser a melhor aluna do curso de direito, você não tem noção da mulher incrível que ela é! mas que se foda, você nunca vai mudar, Samuel. Vai ser sempre essa pessoa desprezível que sempre foi.

O vagabundo e a damaOnde histórias criam vida. Descubra agora