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Realmente não há câmeras gravando ou tirando fotos, no entanto, há milhares de olhos em Joseph, o que acaba significando a mesma coisa. E o que também acaba significando que os olhos estão igualmente em mim: me medindo, me analisando e me julgando. Há muita luz, e eu tenho certeza de que qualquer um pode enxergar meus poros — sei disso porque estou, de fato, enxergando os poros alheios —, e fico meio preocupada com a base no meu rosto. Se eu não tiver espalhado direitinho, todo mundo está vendo. Aff. Que confortável, né?

Estou pendurada no braço de Joseph como se fosse um chaveiro, os braços flexionados para cima por conta da diferença de altura apesar do salto alto. Ele, o meu cabide com pernas, está palpavelmente tenso — músculos rígidos, respiração pesada e olhos vívidos. Mesmo assim, ele não deixa de sorrir, abraçar a todos e ser muito, muito simpático; desta vez sem qualquer ironia na palavra. Dá pra acreditar? Ele realmente faz as pessoas rirem, realmente mostra seu sorriso bonito e que, até então, acreditava ser raro. Ele joga charme! O que fizeram com o Joseph que estava no carro e quem é essa pessoa substituindo ele?

Isso me faz imaginar que o problema dele é comigo mesmo.

E tudo bem, eu acho. Não é como se fôssemos passar de contatos fingidos como este aqui.

A entrada do lugar é toda espelhos, com uma porta inteira de cima a baixo e seguranças posicionados em todos os cantos com suas carrancas. É chique pra cacete. Nunca passei por essa rua, e devo ter cochilado se passamos por alguma placa que indicasse que saímos de Londres para uma cidade localizada nos arredores. Muitas pessoas presentes mostram um tipo de cartão chave aos seguranças para poderem entrar, mas a julgar pela expressão em seus rostos, eles conhecem Joseph. A prova disso é que passamos reto, sem que o meu cabide simpático precisasse demonstrar ou dizer nada.

O local está repleto de gente. É tudo tão chique que pareço estar sonhando, mal consigo acreditar que realmente estou aqui. Há um longo corredor nos esperando para desfilar e muitos garçons andando apressadamente pra lá e pra cá, equilibrando bandejas nas pontas dos dedos sobre os ombros. Cerca de dez pessoas pararam Joseph e o cumprimentaram — sempre gargalhando, morrendo de rir com suas brincadeiras (estou com medo) —, em seguida deixando os olhos pularem curiosamente para mim e; quando homens, beijando minha mão ternamente; quando mulheres, beijando o ar bem ao lado da minha bochecha. Não sei se tenho tanta noção de etiqueta assim, então devo ter passado vergonha pelo menos umas três vezes até me habituar ao que fazer.

A mesma noção de etiqueta existente em mim (zero) era, provavelmente, a noção do quão famoso o homem ao meu lado é. Uma noção sobe com a outra, respectivamente. Muita gente conhece ele. E muita gente o parabeniza sem parar pelo sucesso de seu último filme, tal qual os prêmios que recebeu — eu aceno, fingindo que estou super inteirada do assunto e concordo. Verdade, ele é incrível mesmo, digo, sem saber de absolutamente nada. Secretamente, uma catástrofe. É ótimo que eu tenha aprimorado minhas habilidades em atuação nesse ano trabalhando com a FDate.

O sr. Simpático me conduz até a entrada da sala onde suponho que vá acontecer o leilão, já que é lotada de mesas com cadeiras acolchoadas em frente a um grande palco. Há lustres enormes e brilhantes sobre cada mesa. O teto é coberto, mas as laterais são abertas para correr livremente o vento e para que possamos enxergar o céu escuro da noite estrelada. E aí na entrada mesmo, um homem alto, forte e bonito nos aborda. Joseph se retesa toda vez que alguém chega perto — sem dúvidas receoso de que alguém descubra nossa farsa —, mas dribla muito bem.

— E aí, grandalhão! — cumprimenta o outro grandalhão. Meus braços despencam do entrelaço do de Joseph, e eu fico de lado vendo-os trocar aqueles abraços cheios de agressão que homens costumam trocar.

meu nome (não) é Mary || joseph quinnOnde histórias criam vida. Descubra agora