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— Você deve ouvir muitas histórias de amor — diz uma cliente, apoiada com os cotovelos no balcão e as mãos no queixo, me observando enrolar a fita vermelha ao redor do buquê feito de papel de seda. — Deve ser difícil não acreditar no amor assim.

Dou uma olhada de lado para ela, sorrindo gentilmente. É uma jovem bonita em seus dezessete anos, mais ou menos. Ela acabou de me contar como conheceu sua namorada há um ano e sobre como a ama infinitamente.

Mal ela sabe.

De fato, ouço muitas histórias de amor; tanto aqui, quanto nos encontros do FDate. Às vezes sou paga para ir a um restaurante com o cara e escutá-lo desabafar sobre sua ex ou sobre a melhor amiga que o deixou na friendzone. Já tive até que consolar um deles, uma vez, porque começou a chorar descontroladamente ao lembrar do chifre que recebeu de sua namorada com seu melhor amigo. Já conheci inúmeros homens devotamente apaixonados, lutando para esquecer ou para, ao menos, parecerem fortes. O problema não é realmente o FDate.

— Sim, ouço. — Faço um laço e puxo as pontas das fitas com a tesoura aberta e pressionada contra o polegar. — Mas já cheguei a montar dois buquês para o mesmo homem. Um para a esposa e outro para a amante. — Espio e percebo que a cliente parece chocada. — Isso já aconteceu várias vezes. Muitas em um só dia. Sabe, querida — entrego-a seu buquê, com o bilhete de amor endereçado para a "princesa de sua vida" —, o meu problema é ter nascido hetero.

Ela dá risada, faz o pagamento e agradece.

Eu tenho muitos motivos para desacreditar no amor, especialmente quando vejo tantos homens infiéis ao redor da Inglaterra, e especialmente sendo uma mulher hetero. Sendo balconista de uma loja de flores, além de ter que montar presentes para amantes, também já fui muito cantada pelos próprios homens casados compradores. Mas, por sorte, tenho duas mães imensamente apaixonadas e sei que o amor existe. Talvez não exista para casais heteroafetivos, talvez não exista para mim... mas ele existe. E é isso que importa, no final do dia. Há amor por aí.

Sinceramente, depois de vinte e cinco anos sem um companheiro amoroso, mais vinte e cinco não serão nada. Posso me virar sozinha, posso viver com isso. Sei que sim.

Estou atendendo um senhor de idade que é cliente fiel da floricultura. Todo mês ele presenteia sua esposa, e eles já estão casados há quarenta e oito anos — acho que eu não me aguentaria durante toda essa quantidade de tempo, imagina só ter que aguentar outra pessoa. Ele gosta de ser atendido por mim. As meninas já tentaram tornar-se suas vendedoras, mas o máximo que ganharam dele foi um bom-dia entusiástico enquanto ele continuava caminhando diretamente para mim. Fazer o quê se sou extremamente simpática?

Este senhor, cujo nome é Hamilton, também é uma das razões para que eu ainda acredite no amor. Mas, não sei... para eu chegar a ter um relacionamento de quarenta e oito anos com alguém, começando agora, eu precisaria sobreviver até os setenta e três — e eu gosto muito de chocolate para que isso venha a acontecer.

Um homem da altura de um armário — ou dois, amontoados um sobre o outro — entra na loja, olhando diretamente para nós, as balconistas. Seus olhos não fazem curva, ele sabe exatamente o que está procurando, e definitivamente não são flores. Sua feição é fechada e irritadiça, seus passos são largos e sua presença completamente estranha. Eu e as meninas nos entreolhamos, todas se perguntando a mesma coisa: quem é esse poste?

Estou anotando os nomes das flores que Hamilton quer no buquê, quando o tal poste encosta, me olha nos olhos e corta a minha frase direcionada ao cliente bem no meio, com uma pergunta que parece mais uma afirmação.

— Srta. Dawson. — Aqui há uma interrogação subentendida.

Fico paralisada, sem saber se devo confirmar ou negar.

meu nome (não) é Mary || joseph quinnOnde histórias criam vida. Descubra agora