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Não há muito o que se dizer sobre a mamãe Quinn além do fato aterrador de ela ser insuportável e, de fato, obsessiva. Caralho, como é que ele aguenta? Concluí até mesmo que obsessão é pouco para nomear o que ela sente por Joseph, agora que a encontrei pela segunda vez. A cada cinco palavras que ela fala, seis é o nome do seu filho mais velho por quem ela sente esse orgulho sufocante.

Descobri o que ele tem dito sobre mim durante esse ano de falta entre um encontro e outro: como sou ocupadíssima, eu e a minha carreira bem sucedida como física. Ou talvez ele só tenha sido evasivo como sempre e ela supôs isso sozinha.

Eu sabia, em segredo, que o casamento seria como um show para Dorothea, e sentia que era simplesmente injusto que logo essa outra mulher estivesse escolhendo tudo: o vestido da noiva e os das madrinhas — no caso, as irmãs de Joseph —, terno do noivo e dos padrinhos — no caso, irmãos de Joseph —, arrumação da Igreja e todos os detalhes (daquele evento que seria minúsculo, no geral). Ela estava cabisbaixa por seu filho ser tão introspectivo e não querer realizar uma grande festa. Tudo o que foi dito naquela noite, foi dito unilateralmente. Me abstive e me contentei em acenar positivamente. Quero que se foda se por acaso passei uma má impressão.

O vestido que nós escolhemos — ou melhor, que ela escolheu — até que me caiu bem, embora eu tenha gostado mais de vários outros. Não era rodado ou cheio de babados, mas sim justo, decotado, com alças, e com uma curvatura fechada na cintura. Era simples como eu sou, o que é bom. Eu não podia ser o tipo de noiva que chama tanta atenção a ponto de ser inesquecível, porque eu pretendo deixar de existir na família Quinn no momento em que a cerimônia for finalizada. Mas também não podia ser o tipo de noiva que é tão sem graça que não vai valer os seis dígitos da dívida estudantil que estarei recebendo após o "sim", ou tão apática que a vovó poderia morrer só de me ver. Nesse caso, o vestido dá pro gasto, sim.

Sim, a mamãe Quinn queria um véu enorme; sim, ela queria uma gargantilha de diamantes; e sim, ela queria que eu pintasse meu cabelo todo de castanho e tirasse as mechas atualmente em um tom de lilás. Não, a segunda coisa eu não ia fazer. Ah, não mesmo. A Mãe 2 não ficou com os dedos roxos por uma semana depois de ter pintado meu cabelo — mesmo que tenha usado luvas, como o recomendado — para nada. Eu não estou vendo a água do banho escorrer em um tom opaco de roxo pelo chão para nada. Nananinanão.

Mas a única coisa que eu achei que não faria naquela noite, enfim, consegui fazer: sobrevivi. Uau... Cheguei a pensar que não fosse capaz, depois de ouvi-la colocar cinquenta tipos de defeitos diferentes ao observar meu corpo atrás de mim no espelho, experimentando o vigésimo vestido. Quer dizer que eu sou mais forte do que imaginava.

Com o passar das semanas, eu já não tinha tanta certeza...

Eu estava tão ansiosa com tudo, só tentando não surtar, que precisei fazer uma lista nomeada de "São Só Impulsos Nervosos", durante os períodos de folga no trabalho, cujos os itens são os seguintes:

• NÃO é real;

• NÃO significa nada;

• Ninguém que você AMA estará lá;

• Vai acabar RÁPIDO;

• É pela sua DÍVIDA ESTUDANTIL;

• É pelo seu FUTURO;

• É pelo seu BEM;

• Faça isso, CARALHO.

Fiz até um desenho diminuto de um neurônio no canto da folha.

Na quinta-feira eu fui cortejada com Joseph Quinn dando o ar da graça no meu trabalho. Dá pra acreditar?

Imagine que você acabou de assistir um daqueles filmes de terror de causar xixis nas calças e aí você se vira e de repente vê um fantasma. Foi esse o meu sentimento. Passei a semana inteira com o pensamento no Quinn, mas não de um jeito bom, e sim nervosa e com medo. Ele não me fez um telefonema. Ele nunca fez. Ele não queria saber como eu estava me sentindo, isso não realmente importava. Eu precisei lidar com as minhas merdas sozinha. E agora ele estava na minha frente, com um moletom azul escuro, de capuz e óculos de sol. Como a porra de um famoso se disfarçando, e não como um noivo de mentirinha querendo saber se eu estava precisando de alguma coisa.

meu nome (não) é Mary || joseph quinnOnde histórias criam vida. Descubra agora