Mary Dawson é o nome assinado em caligrafia delicada com caneta preta na certidão de casamento. A mesma caligrafia fina e leve que uso para escrever Jasmine Dawson em toda documentação que assino. Bem ao lado do nome Joseph Quinn, a mesma letra que assinou a compra das flores onde eu trabalho. Por sorte, essa mulher, essa "Mary", não sou eu — mesmo que eu finja ser ela há mais de um ano.
Não leio as informações do que estou assinando, afinal, será descartado. Por sorte, é depois de assinar meu nome no documento (falso), que Joseph discretamente me passa os bolinhos de dinheiro, como um traficante entrega drogas ao comprador, e eu guardo no meio dos meus peitos — ou no que eu desejaria que fossem os meus peitos, já que eu não tenho nenhum. Maldito alelo dominante da constituição genética de quem quer que tenha me concebido.
Por sorte — como podemos ver, estou cheia de sorte —, é depois da transação financeira que eu tenho a audácia de agarrar no pulso largo daquele homem e puxá-lo (ele é muito mais pesado e alto do que eu, podia muito bem não ter se deixado levar por mim, mas a sorte dele é que não o fez, pois estou louca para acertar as bolas de alguém com um murro) para o canto atrás do altar, bem ao lado de uma capela com a imagem de José ninando Jesus Cristo.
Perdoe-me, Jesus, mas...
— Que porra...? — Isso é meio que um sussurro, meio que um gato sendo esganiçado. Em frente ao neném Jesus. Meu tobogã para as chamas do inferno só fica mais quente.
Joseph esfrega as mãos no rosto, ficando tão vermelho quanto as minhas mãos ficavam toda vez que eu lavava o cabelo quando as mechas eram cor de vinho, sem contar a cor que ficava no travesseiro. Ele está exasperado. Puto. Exasperadamente puto. E parece preocupado também. E ainda continua bonito, esse desgraçado.
Mas nada se compara ao que eu estou sentindo. É tudo isso, multiplicado por pi e com a adição de hormônios bagunçados e uma vontade de chorar que me dói a garganta. Resulta em uma equação linear onde a constante a = estresse, a constante b = tristeza, e a variável x pode ser x' = Joseph Anthony, e x'' = Francis Quinn. Resumindo, eu quero matar ele, quero agradecer a ele, quero xingar ele e quero ajudar ele. Talvez, no processo, também repetir o beijo do altar, mas não tenho certeza de que ele é o maior fã de beijos (ou de beijos em mulheres, ou de beijos em desconhecidas, ou... enfim).
Modéstia à parte, sendo ótima em análise dimensional, vamos analisar bem esse absurdo: estou montada num vestido de noiva, feito um manequim; atuando para toda essa gente, como uma recém-casada feliz; e eu sequer sou atriz. Há cerca de cinco minutos eu estava felicíssima por finalmente acabar com isso. A ideia de que não se pode comemorar antes da hora prova-se fodidamente correta. Eu estava até mesmo sonhando com a minha pós-graduação, quase me permitindo pensar em moléculas e ecossistemas de novo, suspirando aliviada por saber que fiz uma coisa errada, mas que no fundo foi a coisa certa.
E agora me vem mais essa?
— Tudo bem. — Ele suspira, tirando as mãos do rosto me encarando. Sinto um músculo do meu rosto tremer. Estou tendo espasmos de estresse. — Olha, Mary...
— Não me chame de Mary!
Soo resignada e magoada, dando um passo em falso para trás. Tudo é falso. Nem sei por que eu disse isso. Ou melhor, exigi isso. Escapou, como um desabafo. Não aguento mais o peso de toda essa mentira curvando meus ombros. Não aguento mais ser chamada de Mary.
— Esse não é a porra do seu nome?! — A pergunta dele é retórica e soa óbvia, porque ele tem certeza de que me chamo Mary, mas isso me atinge em cheio. — Você quer que eu te chame como? De esposa?
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meu nome (não) é Mary || joseph quinn
FanficMorar sozinha em Londres não é barato. Por isso, Jasmine Dawson precisa trabalhar por um salário em uma floricultura do Centro e ganhar uma grana extra em seus horários vagos, sendo namorada de aluguel para homens desesperados no app FDate. E nem as...