13

198 21 173
                                    

Combinamos tudo meticulosamente para quando esse momento chegasse, por isso me sinto uma agente secreta do FBI quando ouço as conversas altas e risadas misturadas seguindo os passos pela sala. Agora há dois carros estacionados na garagem, mentalizo por motivo nenhum, mas cabem mais dois.

Os pratos da casa de Joseph são todos rasos e brancos, suspeito dizer que de porcelana, portanto tomo bastante cuidado ao pôr a mesa. Dois às pontas e dois às laterais. Me pergunto se ele já usou todos, já que aparentemente seus familiares não têm o hábito de visitá-lo, e seus amigos não cobrem a quantidade de pratos que tem nesse armário.

Estou virada contra a entrada da cozinha e em frente à gaveta, juntando talheres nas mãos, quando a voz da esposa do tio de Joseph surge, ecoando até chegar a mim. Minha coluna fica ereta de imediato e, de agora, já começo a controlar cada um dos meus próprios movimentos.

Eu devia imaginar que ela viria antes dos outros dois, já que eles jamais a deixariam carregar as malas. Mas ela não quis nem sequer conhecer seu quarto antes de vir falar comigo?

— Olha só, se não é a mais nova Sra. Quinn!

Ah, que Deus me ajude.

— Olá, sra. Quinn — faço um trocadilho, com um sorriso rígido e aberto o bastante para me confundirem com o palhaço Coringa.

Me viro, e lá está a morena, sorrindo igualmente para mim. Ela não deve ser tão ruim assim.

Joseph comentou, durante a nossa preparação para esse jantar com o objetivo de receber seus inquilinos mensais, que seu tio era irmão de seu pai, ou seja, que carrega o sobrenome Quinn. Ele esteve calado durante toda a preparação do jantar, e negou com a cabeça todas as vezes em que ofereci ajuda. Não o julgo. Deve ser estranho ter toda essa mansão para si mesmo, sozinho, por tanto tempo, e de repente ter três pessoas naturalmente distantes para passar o mês. Eu nunca me daria esse trabalho — amo ficar sozinha, na maior parte do tempo —, e acho que vou morrer antes de descobrir o porquê de ele estar fazendo isso. Apesar de que, no fundo, duvido muito que ele fique totalmente sozinho o tempo todo. Um homem branco, heterossexual (até onde eu sei), rico, e bonito — para não usar palavras chulas —, deve conseguir alguém para se divertir às vezes. Com facilidade.

Me impeço de continuar devaneando e deixo os talheres à mesa, bagunçados, afinal, ela está vindo em minha direção de braços abertos e parece muito querer me dar um abraço. Muito mesmo.

— Ah, querida, eu não peguei o sobrenome, não. — Ela me corrige. Bom, nem eu, e mesmo assim você resolveu me chamar de Sra. Quinn, né? — Pode me chamar de Giulia.

Não tenho nada contra abraços, inclusive, amo abraçar. Odeio a cultura europeia de serem tão chiliquentos quanto à essa coisa incrível que é receber e distribuir abraços. Ou talvez eu só seja carente. Mas estou meio em alerta, porque além de não conhecer essa mulher, estou também mentindo para ela, ao vivo.

Suas mãos me puxam pelos ombros e ela me abraça como se me conhecesse há bastante tempo. É meio estranha, toda a performance, cheia de risinhos sem graça. De perto, na verdade, percebo que ela é muito mais nova do que eu pensei que era ao ter um vislumbre seu com os abraços apressados lá no altar da Igreja, ontem. Preciso disfarçar para não ser grosseira por ter notado sua idade, e mantenho meu sorriso colado e fixo no rosto.

— Tudo bem, Giulia, e você pode me chamar de Mary. — Não vou ser grossa e dizer que não peguei o sobrenome Quinn, até porque eu só não peguei porque não me casei com ele de verdade, e disso ninguém sabe. Quer dizer, quase ninguém sabe (se não contar com Bobbi, minhas mães... e o Padre).

Ela pisca rapidamente, ainda me segurando pelos ombros, e por um instante penso na possibilidade de ela não ter me escutado.

— Meu bem, você gostou do casamento? — Giulia usa um tom de voz conspiratório, espremendo os olhos e aproximando a cabeça como quem diz "cá entre nós...".

meu nome (não) é Mary || joseph quinnOnde histórias criam vida. Descubra agora