Ouço o baque da porta do carro se fechando ao lado do meu ouvido esquerdo.
Mesmo que eu esteja morando em Londres desde o início da minha vida adulta, ainda não me acostumei com o fato de que aqui o volante fica à direita. Acho que nunca vou me acostumar. Ainda é estranho ter que dirigir, na eventualidade de quando pego um carro, no lado direito. Mas não é um problema, afinal não tenho tempo de ficar confusa, porque o bêbado volta a tagarelar bem atrás de mim:
— Sabe, Maria — o bafo de álcool erra o meu nome no banco de trás —, eu comecei a faculase, hum, faculdade de física quando tinha dezessete. Na verdade, não comecei, — a porta do motorista abre e Joseph senta atrás do volante — eu só fui conceito. Quero dizer, aceito.
— Aceito em quê? — pergunta Joseph distraidamente, assim como um pai ao escutar as histórias que o filho conta após a escola, afivelando-se.
Wesley sumiu durante todo o leilão — o mesmo leilão que Joseph levantou a plaquinha dez vezes e doou muito dinheiro em troca de uma casa no Norte de Londres. Quinn foi a pessoa que mais se voluntariou, e quando subiu ao palco para falar no microfone ao som de um salva de palmas, deixou claras suas intenções de doar a casa para uma família necessitada que muitos que estavam ali presentes conheciam. Eu estava chocada, me afogando em pleno mar de admiração e curiosidade quanto ao homem esquisito, misterioso e fascinante com quem eu estava fingindo namorar; quando Wesley ressurgiu das cinzas. E já que estamos falando de cinzas, se ele se queimou, com certeza foi por influência da quantidade catastrófica de álcool que ingeriu.
— Fui aceito para fazer física na faculase — explica ele, enrolando a língua e então se corrigindo. — Faculdade.
— Você não foi aceito, Wesley — retruca Joseph.
— Tenho certeza de que fui.
O carro é ligado e nós saímos do estacionamento do lugar com uma buzinada para os seguranças. São duas da madrugada e o vento está geladíssimo, o que faz com que Joseph suba os vidros e ligue o aquecedor. Ele carregou o amigo pelo ombro até o automóvel e escutou pacientemente sua falação repetitiva sobre uma mulher que ele chamava de "Lorelai Ou Algo Assim" que supostamente tinha rejeitado-o no evento. Joseph também foi responsável por pedir para que um dos casais que estavam na mesa ficassem com o carro de Wesley, que amanhã buscaria. Ele foi bem atencioso e cuidadoso, para ser sincera.
— Você foi aceito para fazer educação física, mas não entrou — diz Joseph, calmo. — Se lembra?
— Ah — suspira o bebum. Escuto o som de suas costas batendo no banco. — Verdade. — Pausa para respirar fundo. — Maria...
— É Mary — corrige Joseph.
— Tudo bem — asseguro. Qual é o problema de ele errar o meu nome, quando meu nome nem é esse? Olho para Wesley pelo retrovisor; ele está com um olhar sonhador, escorregando o dedo indicador na janela ao seu lado e respirando pela boca, o que deixa o carro cheirando a gim por inteiro.
— Mariah, você sabia que o Joseph ia desistir da faculase... porra, quero dizer, faculdade! Merda. Ele ia desistir do teatro para fazer medicina. Você sabia disso?
Uau. Essa é nova.
Olho para Joseph sem disfarçar meu choque, virando a cabeça lentamente. Ele sabe que estou olhando para ele, mas me ignora e continua focado na pista por onde dirige — pista essa que está sem movimento e que não requer tanta atenção assim. Seus dedos tamborilam no volante fazendo aquele som irritante e sua língua encosta no interior da bochecha; ele está fingindo que não me vê.
— Sério, Wesley? — Resolvo, portanto, interagir com quem me dá atenção. Viro-me de lado no banco e olho para o bêbado por cima do ombro. Ele faz que sim lentamente. — Que interessante. Por que não me conta mais?
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meu nome (não) é Mary || joseph quinn
FanfictionMorar sozinha em Londres não é barato. Por isso, Jasmine Dawson precisa trabalhar por um salário em uma floricultura do Centro e ganhar uma grana extra em seus horários vagos, sendo namorada de aluguel para homens desesperados no app FDate. E nem as...