19

258 21 225
                                    

É uma casa bonita. Do tipo escandalosamente rica, e não discretamente rica, como a de Joe. A iluminação é amarela e quente, e é possível ver um lustre brilhando desse ângulo. Há uma poltrona, revistas na mesa de centro, um sofá marrom, azulejos de madeira falsa, uma tevê gigantesca em um suporte na parede e então o escuro, de onde não posso enxergar nada.

É do escuro que ele surge, de pijama azul, caminhando tranquilamente — com aquele jeito dele de caminhar, como se nada no mundo o atingisse. Qualquer um acreditaria, exceto eu, que sei o que vai acontecer em seguida. Há algo muito específico que irá atingi-lo, mas ele não sabe. Ele é os meus pesadelos em forma de ser humano, com aquele cabelo negro e comprido caindo nos ombros, e aquele sorriso presunçoso ao abrir a porta, sem nem saber quem é que está tocando a campainha. Ele sempre acha que o melhor está por vir, e isso não é uma qualidade. Ele nunca está preparado para o pior, porque ele sempre se dá bem. É o que acontece com pessoas como ele, normalmente. Até aprenderem uma lição.

Então entendo por que Joe chegou em casa com os cabelos úmidos durante a madrugada. Assim que Thompson abre a porta, os três entram na casa com tudo, fazendo o meu chefe dar passos para trás e revelando o trio encharcado, pois estava chovendo. As gravações têm som: Thompson está repetidamente perguntando o que está acontecendo. Joe é incrivelmente bom com suposições, tal como se fossem hipóteses de um experimento, pois Thompson está sozinho, o que configura em não ter ninguém para ajudar. Homens amargurados como eu, e eu não acredito que ele se rebaixa a esse nível.

Há certa injustiça na diferença de quantidade de pessoas de um lado e de outro, mas estou feliz por isso, na verdade. Para ele, é muito mais do que justo. Ele merecia pior. Quando Thompson não tem mais para onde dar passos para trás, é quando Ollo o encurrala e Wesley dá o primeiro soco, sem cerimônias ou preparação. Simplesmente o acerta no queixo, jogando toda sua cabeça para trás e o deixando tonto. Nenhum deles disse nada ainda, na gravação. Está sendo filmado de um canto, então não é possível ver a cara de Thompson ao apanhar. Infelizmente.

É aí que Joe fala:

— E aí, cara.

O Sr. Simpático se enfia entre Wesley — que está chacoalhando a mão porque começou a doer após o murro —, e Ollo — do outro lado, impedindo Thompson de fugir para o escuro de onde surgiu. Acho que o escuro para ele é como as brasas do inferno. Ele é o demônio em pessoas. Se aproximando o suficiente, Joseph segura o rosto de Thompson com dominância e aperta.

— Ei. Não apague ainda, garotão. Não vai aguentar nem o primeiro soco?

Sua voz soa um pouco chiada por conta da gravação, mas ainda é capaz de me causar calafrios que preciso conter. Primeiro soco foi uma anunciação ao meu chefe de que, em segundos, haveriam mais.

— Abra os olhos. — Ordena, grosso e assustador. — Pode olhar direitinho pro meu rosto, seu filho da puta. Sabe por que você levou o primeiro soco? Não?

De costas para a câmera, só consigo ver o momento em que Joseph dá um passo para trás, levanta o braço tão velozmente que é quase imperceptível pelos frames — aquele mesmo braço que eu sempre me pego admirando os bíceps — e dá o segundo soco no rosto do homem que me assediou e desencadeou milhares de crises de pânico em mim.

Dali, eu já me sinto vingada. Mas sei que tem mais e há essa parte feia e maldosa em mim que vai adorar assistir.

Thompson cambaleia e Ollo o segura sem sutileza, pondo-o de pé mais uma vez.

— Eu vou em cana? — É a única frase que o assediador diz, também repetidamente, além de "o que está acontecendo?". Sua voz está embargada, ele está atordoado com os socos.

meu nome (não) é Mary || joseph quinnOnde histórias criam vida. Descubra agora