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O luto era como uma bola de neve, e se você não prestasse bem atenção, poderia sair rolando do topo do Monte Everest abaixo; por isso, com um trabalho em equipe — eu, Olliver, Wesley e uma participação especial de Bobbi na noite de sábado —, mantivemos Joseph ocupado, distraído e se divertindo até o fim da semana. Sessões de filmes (sem o Adam Driver no elenco), confere; mais skin care, confere; noite do karaokê, confere; uma lista incontável de besteiras ingeridas com bastante glúten, confere.

A parte boa era que ele tinha desistido totalmente da armadura à la Odeio-a-Dawson-Profundamente, e agora nós éramos amigos. Quer dizer, amigos que se pegaram com força uma noite dessas e que ainda estavam dormindo juntos e abraçados todas as noites, conversando sobre gostar ou não de salsinha e tendo uma crise de riso quando um de nós — eu, obviamente — confundiu salsinha por calcinha, mas que nem se beijavam mais.

Tudo bem, uma coisa que não dava para negar: eu estava um pouco confusa, mas estava deixando rolar. Dei tempo a ele, pois sempre o flagrava encarando fotos da Thea no celular e, assim que ele percebia que eu poderia estar olhando — e eu estava —, bloqueava a tela depressa. Faziam só quatro dias, então provavelmente ele só precisava de espaço. Ou, talvez as minhas suspeitas estivessem certas e ele só queria me dar uns pegas mesmo. Se essa for a opção correta, não posso dizer que saí, de tudo, perdendo. Ele pode não estar apaixonado por mim como eu estou por ele, mas pelo menos ele chupou os meus peitos.

Enquanto isso, eu fico revivendo esse momento sozinha, de novo e de novo — de preferência no banheiro. Tenho lembranças tão claras que chego a quase sentir seu toque íntimo em mim outra vez, e o mesmo frio na barriga me atinge. Eu dei uma lida e, aparentemente, o frio na barriga acontece quando o corpo fica em estado de alerta e há uma rápida liberação de adrenalina, então a circulação do sangue na área do abdômen diminui, em resposta imediata, liberando uma maior quantidade de ácido. É isso o que ele faz comigo, todas essas reações químicas no meu organismo e um pouco mais.

É por este motivo que estou pensando em Joseph chupando os meus peitos enquanto ele rebate a bola de vôlei para a minha Mãe 1, que bate e a faz voar até Ollo. É melhor parar.

Não contei a ninguém sobre o que rolou entre Joseph e eu, até porque, em menos de vinte e quatro horas depois, merdas aconteceram. Não há espaço para isso. Então quando ele me olha através da quadra e eu não desvio o olhar, esses momentos são secretos. São nossos momentos, sozinhos, em um ambiente cheio de pessoas. Elas não fazem ideia sobre nós dois.

Essa é a última partida, porque está empatado. Do lado esquerdo, está o time de Joseph, que consiste nele mesmo, a Mãe 1, Giulia e Wes. Do lado direito estão Ollo, Bobbi, Michael e a Mãe 2. Eu, a acidentada e inválida, estou assistindo da cadeira para bronze. Amanhã eu começo a fisioterapia, mas ninguém queria esperar uma mulher péssima em todo e qualquer esporte se recuperar para poder jogar. Como no colégio, ninguém queria me ter no time — e isso não me ofende nem um pouco: eu também não gostaria de me ter no time. Se eu pudesse participar de um time sem eu mesma, seria incrível.

É um domingo de calor, e embora o almoço já esteja pronto, ninguém ainda quis comer. Sabe quando você fica tão ocupado se divertindo que esquece de comer? Está tocando um remix de músicas pop em caixas de som dentro da quadra — já dancei Britney Spears sentada — e a piscina está implorando para ser usada. Se respirar fundo, é possível sentir o cheiro de protetor solar, cloro de piscina e batata frita. Minha Mãe 1 está gritando toda vez que acerta um saque e a Mãe 2 está rindo como nunca, jamais ri. Me sinto estranhamente em casa.

No início da última partida, Bobbi pede uma pausa alegando estar com câimbra, e se senta ao meu lado, fingindo uma careta de dor enquanto todos estão distraídos conversando e esperando a "câimbra" dela melhorar. Só pela cara dela, eu sei que é mentira. A morena se inclina para perto de mim, apertando a panturrilha.

meu nome (não) é Mary || joseph quinnOnde histórias criam vida. Descubra agora